O desejo de cantar surgiu na infância. As primeiras tentativas de composição vieram um pouco mais tarde, mas foi apenas em 2023 que o cantor e compositor Ronná teve a chance de compartilhar com o público seu talento, letras e harmonias. Essa realização é um marco significativo em sua jornada. O artista lança “Meio Eu”, seu primeiro álbum, que inclui canções previamente lançadas ao longo deste ano, além de quatro faixas inéditas: “Uma Gaiola,” “Insone,” “Depois e Depois,” e “Todo Eu.”
O título do projeto reflete o próprio processo de criação e composição das faixas do álbum. Juntamente com músicas já familiares ao público, como “Saudade Boa,” “Flor de Fogo,” “O Sol Vai Explodir,” “Minh’alm’amar,” e “Freima,” o álbum também reúne outras canções do artista, algumas com histórias curiosas, incluindo uma composição da época em que ele tinha 17 anos e ainda fazia parte de uma banda escolar. A primeira faixa do álbum, intitulada “Uma Gaiola,” nos convida a liberar todos os medos que nos impedem de seguir em frente.
“Meio Eu” é uma expressão interessante para um álbum. Pode nos contar mais sobre o significado por trás desse nome e como ele se relaciona com sua jornada artística?
“Meio Eu” foi um nome que surgiu bem depois da produção das músicas (exceto a última). Comecei a jornada da gravação com uma ideia que me foi mostrada pela equipe e achei que cabia seguir nessa linha. Todavia, após tudo pronto, fui me descobrindo, redescobrindo e entendendo que poderia ter feito diferente algumas coisas para que tivessem mais a minha cara. Por isso, o álbum ficou com este nome, que brinca com o fato de não ser eu por completo, e a última música do disco se chamar “Todo Eu”, que é exatamente a sonoridade que queria ter colocado no álbum todo e que vou seguir daqui pra frente.
O álbum inclui canções já lançadas ao longo deste ano, bem como faixas inéditas. Como você selecionou essas músicas e o que os ouvintes podem esperar das faixas inéditas?
Para decidir as músicas que lancei como single, fui avaliando momentos meus e acontecimentos durante o ano. Claro que também tive conselhos importantes de quem entendia do mercado para selecionar as canções e as ordens, mas segui bastante minha intuição também, pois queria que tudo tivesse uma coerência comigo, em primeiro lugar. As inéditas caíram bem como “não-singles” na minha opinião. Acho que elas têm realmente mais cara de um elo entre as canções. Exceto a última, claro, que queria que fosse música de trabalho pós-lançamento do álbum.
Entre as faixas, “Uma Gaiola” e “Insone” têm histórias de origem únicas. Você pode compartilhar mais sobre como essas músicas surgiram e o que as torna especiais para você?
“Uma Gaiola” foi escrita olhando para gaiola dos meus ratinhos de estimação. Montamos uma gaiola com lacres para mantê-la em pé, mas eles descobriram que podiam roer e ela começou a desmoronar. Cada dia ela caía mais. Comecei a escrever observando tudo isso acontecer e entendi como podemos fazer uma belíssima conexão com os medos (lacres de plástico) que nos impedem de seguir e nos mantém na nossa zona de conforto (gaiola). Já “Insone” veio literalmente num momento de insônia. Eu tinha grande dificuldade pra dormir, e quando acordava de madrugada, não conseguia pegar no sono novamente. Numa noite, acordei de madrugada e, sem conseguir dormir, escrevi a música na mesma hora. O refrão veio muito tempo depois, para encaixar e fazer sentido.
Como é o seu processo criativo ao compor músicas? Existem momentos ou lugares específicos que inspiram você?
Às vezes escuto uma palavra ou uma frase que me pega e me dá vontade de escrever utilizando-a. Em momentos onde não estou muito inspirado, gosto de compor com o ambiente onde estou. Observo as cores das paredes, os objetos, árvores, vento. Geralmente as composições são mais literais do que parecem. Eu gosto demais de “poetizar” o nu e cru que vejo.
Além de ser um músico, você se considera um contador de histórias? Qual é a história que você espera contar com o álbum “Meio Eu”?
Possivelmente, um escritor ou compositor é direta ou indiretamente um contador de histórias. Não precisa ser necessariamente uma música com personagens explícitos, com começo, meio e fim. São histórias de qualquer forma. O disco traz músicas que podem não ter ligação ou sentido umas com as outras, mas são canções que precisavam de coragem pra virem ao mundo, precisavam de incentivo próprio. Acreditar em mim fez com que elas pudessem estar disponíveis hoje, e por isso “Uma Gaiola” traz a abertura desse disco, pra mostrar que sim, estou pronto pra expressar meus pontos de vista.
Qual é a mensagem central ou o sentimento que você deseja transmitir aos ouvintes através das canções deste álbum?
São músicas muito humanas, de passagens que muita gente consegue se identificar. Neste álbum eu falo de saudade, eu falo de crise de ansiedade, falo de autoaceitação, de paixão, de decepção amorosa. São mensagens que quebram sensações de perfeição, de que o mundo é justo e tudo está em paz. Não estará em paz, nunca estará, porque faz parte da gente viver no caos. Mas é importante ver beleza e tirar proveito até do que nos faz cambalear na vida.
Muitos artistas evoluem ao longo de suas carreiras. Como você descreveria sua evolução artística desde o início da sua jornada musical?
Eu comecei a cantar ganhando dinheiro com 18 anos, parei logo em seguida, fiz vídeos para internet nesse meio tempo e aos 25 anos eu retomei os trabalhos remunerados com música até os dias de hoje, com 34 anos. Para quem trabalha cantando em bares e restaurantes, sabe exatamente a dificuldade de se manter. Não existe uma real valorização do que você faz. As pessoas assistem e acham que você está ali apenas se divertindo e é o trabalho mais fácil do mundo. Porém, no meio dos problemas é que a gente cresce, então agradeço ao universo por ter passado por tudo o que eu passei. Sinto que a evolução musical partiu muito deste momento em ter que se destacar no meio de um monte de gente falando, bebendo, gritando. Você precisa estudar sem parar para aumentar o repertório, você precisa se exercitar, se manter saudável. Foi difícil, mas me serviu para ser o que eu sou hoje, muito mais disciplinado, centrado e sabendo o que eu quero e o que eu não quero.
Sabemos que a música pode ser uma maneira poderosa de expressar emoções. Existe uma faixa neste álbum que seja particularmente significativa para você em um nível emocional?
Eu poderia facilmente dizer que “Minh’alm’amar” fala comigo diretamente devido a todos os problemas de autoestima que enfrento todos os dias e como é importante se aceitar e se abraçar. Mas “Todo Eu” tem um espaço bem caloroso no meu coração por causa de todo o contexto que ela traz sobre eu ter encontrado meu caminho musical.
Qual foi a maior lição que você aprendeu ao criar este álbum, seja sobre si mesmo como artista ou sobre o processo de produção musical?
Foram várias lições aprendidas. Artistas independentes sem selo, sem gravadora, precisam lidar com toda a burocracia de lançamento, desde o registro até subir a canção nas plataformas. Isso foi de grande valia para mim. Acho que no fim das contas todo artista que começa deveria iniciar por este caminho, sozinho. Na parte artística, entender que botar o seu coração na música é o que vai importar no final de tudo. Não se guie apenas pelo mercado fonográfico. Cantar o estilo que está nas paradas pode te economizar muito tempo, mas lá na frente, vai ter valido a pena? Prefiro lidar com a frustração inicial e cantar o que eu amo.
Além do álbum “Meio Eu”, quais são seus planos futuros e projetos em andamento na sua carreira musical?
Já estou em processo de composição de outras músicas para um próximo trabalho. Quero seguir essa linha bem brasileira, com banda, que é totalmente a minha cara. Também pretendo arrecadar fundos para fazer os clipes das canções, que com certeza merecem registros audiovisuais.
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