Angela Cruz estreia saga épica que conecta bruxaria e luta pelos direitos femininos

Luca Moreira
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Angela Cruz
Angela Cruz

Com uma narrativa que atravessa séculos e culturas, A Fênix Escarlate, de Angela Cruz, apresenta a trajetória de uma mulher que viveu diversas vidas como escritora e feiticeira, em tempos e lugares como a antiga Suméria e a São Paulo contemporânea. Unindo ficção e realidade, a obra destaca temas universais como preconceito, desigualdades e a luta pela autonomia feminina, ao mesmo tempo em que desconstrói a imagem das bruxas e as aproxima do cotidiano.

A busca pela autonomia feminina percorre séculos na história de Blanca. Como foi para você, ao criar essa personagem, dar voz a tantas mulheres que enfrentaram preconceitos e desigualdades em diferentes épocas?

Eu sinto enorme responsabilidade ao dar voz a tantas mulheres que enfrentaram e enfrentam preconceitos e desigualdades ao longo da história. A cada época parece sobressair um ou outro tipo de dominação, subjugação, humilhação, silenciamento, violência, desprezo, indiferença, etc contra mulheres. Isto ganhou visibilidade no presente e é forte na vida das mulheres. A luta está apenas começando, haja vista que foi só nas últimas décadas que se criminalizou a violência contra elas e se garantiu alguns direitos. É preciso que mais vozes se manifestem.

A Fênix Escarlate entrelaça momentos históricos e contemporâneos, explorando temas como violência e silenciamento. De que forma essas reflexões dialogam com os desafios enfrentados pelas mulheres hoje?

O entrelaçamento entre momentos históricos e a contemporaneidade é proposital, vez que tem a finalidade de evidenciar que a violência e o silenciamento das mulheres pouco mudou, desde a Antiguidade. Assim, nossa personagem principal viverá todo tipo de violação de direitos, preconceito, violência, subjugação, etc, potencializado pelo fato de ser uma praticante de medicina tradicional, de benzimentos, rezos e outras formas de manifestação espiritual e energética consideradas como “coisas do mal”.

A bruxaria, muitas vezes mal compreendida, é um elemento central na obra. Qual foi o maior aprendizado pessoal para você ao explorar a bruxaria como filosofia de vida e símbolo de resistência?

Eu aprendi que a bruxaria tem mais simplicidade do que complexidade. O simples pensamento focado em algo é a força de um feitiço. As mulheres consideradas bruxas, na verdade são uma expressão de resistência, de preservação dos tempos antigos quando elas se comunicavam mais, tinham mais sororidade, trocavam conhecimento sobre a natureza, eram detentoras de “segredos”.

Ao longo do enredo, Blanca revisita suas vidas passadas e lida com traumas que ressoam no presente. O que essa narrativa nos ensina sobre a importância de olhar para o passado para compreender quem somos hoje?

É no passado que se encontra a origem dos contextos, dos conflitos, das questões presentes. Nada surge do nada, do acaso, do hoje. Se somos o resultado de nossas vivências passadas, o produto de uma construção histórica, então o passado tem importância fundamental em nossas vidas.

Angela Cruz
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Como advogada e professora aposentada, você já se dedicava à justiça e à educação. De que forma essas experiências influenciaram a construção dos arcos narrativos e os temas de transformação social no livro?

Lidar com pessoas de todos os tipos, classes sociais, origens e com histórias tão diferentes durante décadas como eu lidei, me proporcionou uma amplitude de conhecimento da condição humana riquíssima. Isto cria na mente um leque infinito de possibilidades. Além disto, eu me dediquei muito ao estudo da ideia de Justiça e suas formas de realização, não a Justiça técnica, kelseniana, a que é aplicada na maior parte dos tribunais, mas aquela que trata as pessoas conforme suas necessidades, realidades, circunstâncias. E também sobre as formas de Educação, particularmente a educação humanista, aquela que busca extrair do ser humano suas melhores potencialidades. Isto é muito presente na minha obra e influenciou poderosamente.

A obra também desmistifica a imagem das feiticeiras e conecta suas práticas ao cotidiano. Como você espera que essa abordagem impacte a visão dos leitores sobre espiritualidade e empoderamento feminino?

Sinceramente, eu gostaria que as pessoas deixassem de ver os bruxos (as) e feiticeiros (as) apenas como seres malévolos. Apesar de que existem os perversos. E que entendessem que todas as pessoas tem dentro de si um bruxo (a), feiticeiro (a), pois o simples fato de “desejar” algo, seja bom ou ruim, para si próprio ou para alguém, já se constitui num processo de bruxaria/feitiçaria. O mundo precisa avançar espiritualmente e a bruxaria/feitiçaria pode contribuir muito para isto. Ao se desmistificar esta prática, ao se constatar que todos possuem tal poder e podem praticá-lo, especialmente as mulheres, como já se fez desde tempos imemoriais, tudo poderá avançar com grandes benefícios para a humanidade.

A Fênix Escarlate é apenas o início de uma saga épica. O que podemos esperar nos próximos volumes, e como você pretende expandir essa jornada pela luta por equidade e justiça?

O título da saga é A Fênix Escarlate. Ela será sempre escrita em duas partes. Na primeira será sempre a continuidade da última vida de Blanca, a de Blanca Brazil, contada do final para o início até seu nascimento. É nessa parte que Blanca contará como descobriu suas vidas anteriores. Na segunda parte, a personagem principal, Blanca, viverá em algum lugar do mundo com a sua circunstância. Nesses momentos históricos e lugares determinados Blanca enfrentará situações de violência, silenciamento, subjugação, injustiça, etc. Todavia esse contexto estará sempre relacionado de alguma forma com sua última vida, e ela demonstrará como superou tais obstáculos. Meu trabalho tem uma nova proposta, pois são várias histórias contadas paralelamente, sendo que a história permanente, e que se relaciona com todas as outras. Além disto, a primeira parte é contada de trás para a frente, mas será compreendida a medida em que se desenvolverá.

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