Após vencer uma batalha pessoal contra o câncer de mama e trilhar uma jornada de superação no mundo do MMA, Poliana Botelho, ex-UFC e atualmente contratada pelo Bellator, compartilha sua experiência de transição entre organizações, desafios enfrentados no octógono e a importância da saúde mental em sua carreira.
Como foi o processo de transição da sua carreira do UFC para o Bellator? Quais foram as principais diferenças e desafios que você enfrentou?
Eu estava vindo de três derrotas no UFC, momento em que meu contrato terminou e não foi renovado. Em seguida, assinei uma luta com o Invicta, onde me tornei campeã ao vencer a lutadora Hellen Peralta por pontos. Logo após, assinei contrato com o Bellator, que hoje também faz parte do PFL. Essa transição ocorreu dessa forma. Infelizmente, ainda não consegui estrear no meu novo evento, mas isso acontecerá no futuro próximo.
Você estreou no UFC em 2017 com uma vitória notável. Como foi aquele momento para você, e como ele influenciou sua trajetória na carreira de lutadora?
Minha estreia deveria ter acontecido antes de 2017. Eu vinha do XFC, onde fui campeã em 2015. Logo após, assinei com o UFC e estava programada para lutar no Canadá, em Toronto, contra Valérie Létourneau. No entanto, acabei quebrando minha mão durante um treino de MMA com meu professor, e fiquei praticamente um ano parada, pois fraturei a mão duas vezes. Essa situação prolongou minha estreia no UFC, mas a vitória foi muito importante para mim. Na época, eu estava retornando de uma lesão e essa conquista foi crucial para eu dar os próximos passos no evento.
Após sua vitória sobre Syuri Kondo em 2018, você enfrentou um revés contra Cynthia Calvillo. Como você lidou com essa derrota e quais foram os principais aprendizados que tirou dela?
Eu consegui o nocaute mais rápido da categoria, em 33 segundos, contra Syuri Kondo. Em seguida, enfrentei Cynthia Calvillo, onde sofri minha primeira derrota no UFC. Estava competindo na categoria de 52 quilos, o que exigia uma dieta muito rigorosa, desgastando meu corpo significativamente. Perdia cerca de 18 quilos no total, e meu corpo já não suportava mais essa carga. Na época, meu treinador sugeriu que subíssemos de categoria, mas quando assinei com o UFC, a categoria de 57 quilos ainda não existia. Acabei optando por lutar nos 52 quilos, mas quando enfrentei Calvillo, a categoria de 57 quilos já estava disponível. Ainda assim, decidi fazer essa última luta. No octógono, tudo pode acontecer; poderia ter saído vitoriosa, mas naquele dia, a vitória foi dela.
Ano passado, você compartilhou sua luta pessoal contra o câncer de mama. De que forma essa experiência afetou sua carreira e como você conseguiu manter sua rotina de treinos durante o tratamento?
Descobri o câncer logo após assinar com o Bellator PFL, em dezembro de 2023, e isso mudou tudo na minha vida. Foi um grande susto, e fiquei dois anos parada devido ao tratamento. Durante esse período, meus treinos não eram voltados para alto rendimento ou aprendizado, mas sim para manter o corpo ativo, conforme recomendado pelos médicos. Eu treinava respeitando os limites do meu corpo, mantendo a alimentação saudável durante o tratamento. Meu treino consistia em fazer um minuto de exercício, seguido de três a quatro minutos de descanso, respeitando o que meu corpo permitia. Agora estou melhor e pronta para retomar. Durante o tratamento, o foco era apenas manter o corpo ativo e evitar a inatividade que os medicamentos poderiam causar.
Atualmente, estou voltando aos treinos, mas é importante mencionar que, devido ao medicamento que ainda estou tomando, uma quimioterapia oral, não consigo me doar 100%. Esse tratamento tem causado efeitos colaterais, como anemia e baixa contagem de plaquetas, o que limita minha capacidade de treinar com intensidade total. Porém, assim que finalizar o uso desse medicamento, poderei me dedicar completamente novamente, pois meu corpo estará em melhores condições para suportar a rotina de treinos sem as limitações impostas pelo tratamento.
Como você se prepara para uma luta no Bellator, comparado aos preparativos que fazia no UFC? Há alguma diferença nas estratégias ou no treinamento?
Ainda não fiz minha estreia no Bellator PFL, mas esse momento está mais próximo do que antes, e estou muito feliz com isso. Sinto uma grande emoção ao dizer que finalmente vejo uma luz no fim do túnel, e agora é como se fosse um holofote nos direcionando para o dia da estreia. A preparação continua a mesma, independentemente do evento. Precisamos estar bem preparados, treinados, estudando o adversário, conhecendo seus pontos fortes e fracos, montando estratégias e sabendo qual é a melhor forma de conduzir a luta.
Você tem alguma dica específica para atletas iniciantes que sonham em seguir uma carreira profissional em esportes de combate?
Minha dica para novos atletas é acreditar em si mesmo, acreditar que é possível, que você é capaz, e treinar. É importante ter alguém ao seu lado para acompanhar e orientar no que é melhor ser feito. Acredite que é possível, porque só conseguimos quando acreditamos.
Além do treinamento físico, como você cuida de sua saúde mental e emocional, especialmente durante períodos de recuperação e desafios pessoais?
O aspecto mental é extremamente importante, pois é a mente que comanda o corpo. Por isso, acredito que precisamos ter confiança em nossa capacidade e fazer acontecer, não adianta acreditar e não agir. Atualmente, faço tratamento com um psicólogo, o que me ajuda muito. Recomendo que quem está começando também procure esse tipo de apoio, pois é uma grande ajuda.
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