Duo Maia referência o violão brasileiro em 2º álbum – “Danças, Sonatas e Paisagens”

Luca Moreira
11 Min Read
Duo Maia (Patricia Abreu)

O Duo Maia, formado pelos irmãos Thadeu e Raphael Maia, evolui sua versatilidade e virtuosismo no segundo álbum, “Danças, Sonatas e Paisagens”. O lançamento dá continuidade ao sucesso de seu trabalho anterior, “Recortes”, que os levou por palcos de renome e estabeleceu sua identidade única no circuito da música instrumental brasileira.

O segundo álbum apresenta um repertório múltiplo. Suas músicas vão desde as “Danças Romenas” de Béla Bartók até sonatas de Domenico Scarlatti, além de obras de compositores espanhóis como Fernando Sor, Isaac Albéniz, Enrique Granados e Manuel de Falla. Este novo trabalho homenageia o mestre e luthier Sérgio Abreu, que foi uma influência significativa para o Duo Maia. O lançamento do álbum ocorreu em três etapas, com os EPs temáticos “Danças”, “Sonatas” e “Paisagens” sendo revelados ao longo dos meses de julho e agosto, culminando no lançamento completo.

O título do novo disco, “Danças, Sonatas e Paisagens”, reflete a intenção do Duo Maia de evocar sentimentos e lembranças por meio da música. A escolha do repertório demonstra a dedicação dos irmãos a buscar novos caminhos em um dos mais difundidos instrumentos musicais: o violão. A produção do álbum ocorreu no estúdio Lontra Music, com a co-produção de Maria Haro, engenharia de som de João Ferraz e arte gráfica de Patrícia Abreu.

Com “Danças, Sonatas e Paisagens”, o Duo Maia reforça seu lugar na cena nacional de violão, honrando o legado de mestres próximos, como Sérgio Abreu, e de referências atemporais e de outras culturas. Sua técnica refinada e interpretação sensível continuam a guiar um trabalho dedicado a encurtar as distâncias entre a música instrumental e o grande público.

“Danças, Sonatas e Paisagens” apresenta uma variedade de estilos musicais, desde Danças Romenas até obras de compositores espanhóis. Como vocês escolheram o repertório para este álbum e o que os inspirou a explorar essas diferentes influências musicais?

Escolhemos um repertório que representasse nossas primeiras e mais profundas influências. Quando encontramos o Sérgio Abreu pela primeira vez, eles nos deram os arranjos dessas três sonatas de D. Scarlatti. Então resolvemos gravar em homenagem ao nosso mestre. O repertório espanhol sempre foi uma de nossas paixões, temos uma conexão especial com esse tipo de repertório. A inovação veio através do nosso arranjo das Danças Folclóricas Romenas de B. Bartok. Criamos uma atmosfera de danças populares com uma influência cigana. Isso mostra muito como o violão pode ser versátil dentro de um disco.

Como o Duo Maia evoluiu sua versatilidade e virtuosismo no segundo álbum “Danças, Sonatas e Paisagens” em comparação ao trabalho anterior, “Recortes”?

O termo “virtuoso” está associado a quantidade de notas tocadas. Achamos que na verdade, esse termo é muito mais abrangente e complexo. Achamos que nossa evolução vem através da sonoridade em que conseguimos imprimir nessa gravação. Tivemos apenas 2 meses de ensaio e nos dedicamos todos os dias a fazer pré-gravações em casa para podermos entender a atmosfera que poderíamos criar. Danças, Sonatas e Paisagens, traz uma sonoridade mais cristalina do violão. Fizemos uma Mixagem mais “transparente” em relação ao disco anterior.

O título do álbum sugere a intenção de evocar sentimentos e lembranças por meio da música. Pode nos contar sobre uma peça específica do álbum que tenha um significado especial para vocês e por que ela evoca esses sentimentos?

Talvez seja injustiça escolher só uma música. Mas vamos lá. Evocacion de I. Albeniz, consegue traduzir todos esses sentimentos de lembranças de lugares e pessoas especiais.

O álbum homenageia o mestre e luthier Sérgio Abreu. De que forma a influência de Abreu se manifesta na sua música e no processo de criação do álbum?

Sérgio Abreu, foi um grande amigo e nossa maior influência no violão. Toda vez que nos encontrávamos tentávamos entender um pouco da forma com que ele pensava na música e no violão. Ele sempre tinha uma abordagem direta no pensando musical. Ele nos ajudou a pensar na forma de distribuir de igualitariamente os arranjos para dois violões. Ele nos ajudou a tentar tocar como se dois violões fossem apenas um. Ele sempre estará presente nos nossos corações e pensamentos. Ele foi e sempre será nosso maior ídolo. Antes do Sérgio partir, levamos uma pré-gravação para ele ouvir ainda no hospital. Ele ouviu, abriu os olhos e deu um sorriso de aprovação. Essa foi a maior aprovação que já tivemos.

O lançamento do álbum ocorreu em três etapas com os EPs temáticos “Danças”, “Sonatas” e “Paisagens”. Poderiam explicar a razão por trás dessa abordagem escalonada?

A ideia de lançar o discos em diferentes etapas foi uma tentativa de nos adaptarmos ao cenário atual. Onde pessoas lançam, single, Ep, etc…. Separamos os lançamentos deixando a critério dos ouvintes a escolha de ouvir as Danças as Sonatas e as Paisagens espanholas, como se fosse uma playlist. Às vezes, pode ser cansativo para uma pessoa se concentrar para ouvir um disco inteiro. Então, essa separação pode ajudar na hora de ouvir.

Como foi o processo de produção do álbum no estúdio Lontra Music? Há elementos específicos que destacariam na colaboração com Maria Haro e João Ferraz?

Gravar no Lontra Music é uma experiência maravilhosa para quem procura um estúdio com uma acústica natural para instrumentos 100% acústicos. O João Ferraz pensou em um local que visa extrair o melhor som natural dos instrumentos. Além de ser um profissional de alto nível é uma pessoa que está disposta a realizar o melhor trabalho possível em todo momento. Ele e a Maria Haro nos ajudaram a encontrar a sonoridade do nosso primeiro disco e acho que conseguimos com esse segundo trabalho criar uma identidade sonora ainda melhor para o Duo, onde basicamente não usamos recursos para criar ambiências deixando o som mais natural possível.

A arte gráfica do álbum, criada por Patrícia Abreu, parece ser uma parte significativa do projeto. Poderiam compartilhar mais detalhes sobre como ela se relaciona com a música?

Talvez a Patrícia Abreu fosse a melhor pessoa para falar sobre isso, mas vamos lá! A Patrícia é a responsável por toda identidade visual nossa, desde logo, fotos artísticas, alguns vídeos e nossos dois discos. Ela consegue traduzir em arte toda nossa concepção. Somos do tempo do vinil, depois CD onde o encarte fazia parte da obra como um todo e é que estamos tentando resgatar com o nosso trabalho. No caso desse novo disco, tivemos várias reuniões para falar sobre o conceito de Danças populares e paisagens da Espanha. A Patrícia tinha realizado uma viagem para Espanha e assim que começamos a falar sobre as faixas ela já tinha basicamente tudo! Todas as imagens são de fotos que ela fez e foi criando camadas, transparências, entre outras técnicas a partir dessas imagens. Existe um jogo com de símbolos que aparecem desde a capa, passando pelo encarte e se desenvolvendo até a contracapa. A Patrícia Abreu é uma artista fenomenal que tem um trabalho maravilhoso e é um grande presente para nós poder contar com o trabalho dela somando ao nosso.

Como vocês veem o papel do Duo Maia na cena nacional de violão e como esperam que esse álbum contribua para essa perspectiva?

Nos vemos como trabalhadores comuns, que levantam todos os dias para realizar as suas funções. O Brasil tem uma grande tradição quando o assunto é duo de violões. Os maiores duos são daqui e esperamos poder contribuir com isso de certa forma. Esse segundo disco mostra nossas referências aos grandes mestres, principalmente na parte espanhola e também nos mostra como arranjadores, pois a ideia é também poder ampliar ainda mais o repertório para duos.

Duo Maia (Patricia Abreu)

Além da técnica refinada, o Duo Maia menciona uma interpretação sensível. Como vocês buscam traduzir emoções e histórias por meio da música instrumental?

Além de estudar muito é preciso ter proximidade com aquilo que se quer tocar. Para se tocar qualquer estilo é preciso “viver” o estilo musical. Ouvir, ler e conhecer a história do período. Deixar o tempo realizar o seu trabalho também faz parte do processo. Cada música tem algo para contar e nós enquanto músicos precisamos contar da melhor forma possível cada detalhe. Além disso precisamos contar com a imaginação e nessas horas retornar a infância é uma boa ideia. Qualquer criança tem um imaginário melhor que um adulto, só precisamos lembrar disso sempre.

À medida que continuam a evoluir como músicos e artistas, quais são seus próximos projetos e objetivos? Existe alguma colaboração ou projeto específico que vocês buscam para explorar?

10- Estamos inscritos em alguns editais, pois essa é a única forma que temos até o momento para realizar novos trabalhos. Somos artistas 100% independentes e realizamos toda parte de pré e pós-produção. Estão nos planos dois discos novos, um DVD, um documentário, um livro e um novo curso, (além do plano de dominar o mundo, rs.) Vamos ver o que vai sair primeiro.

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