Desde o início de nossas vidas tocamos mundos imaginários. Na infância, possuímos amigos imaginários com histórias desconexas e o único intuito de termos diversão. Na adolescência, conhecemos mundos inteiramente ficcionais em livros, filmes e outros derivados; só que dessa vez com motivos além do entretenimento. Vide o fato de todo ser nesse planeta existir distintamente, todos nós temos motivos únicos e pessoais para contar histórias. Tendo isso em mente, gostaria de apresentar para os que não conhecem, RPGs de mesa e seus belíssimos meios de criar histórias.
O que são RPGs?
Quando criança todos nós aspirávamos ser algo ao qual não éramos e por vezes brincávamos nos nossos faz de conta. Fingíamos sermos policiais maneiros. Ou quem sabe, super espiões? Eu particularmente brincava com meus amigos de sermos atletas famosos da época (Ronaldinho Gaúcho e outros). A verdade é que RPGs, ou Role-Playing Games (Jogos de interpretação de papéis), são a versão adulta e geralmente regrada dos nossos faz de conta.
O jogo funciona da seguinte forma: existem os jogadores e o mestre. Todos são jogadores em tese, mas o sentido que quero empregar aqui é o dessas pessoas serem aquelas ao qual vão interpretar os papéis dos personagens criados por elas mesmas. Elas lidarão com as ameaças e dificuldades que o mundo tiver para lhes oferecer, sendo livres para fazer o que quiserem nesse mundo de fantasia . O mestre é o jogador possuidor do controle de tudo: mundo, história e personagens (Apenas daqueles que não são de jogadores). Ele determina ação e reação, guiando todos em suas histórias através do mundo no qual o jogo se passe.
No passado RPGs eram uma cultura de nicho, limitados na cultura nerd que ainda não era pop. Hoje em dia não é mais assim, para todos os efeitos vivemos na era pós explosão da cultura nerd, então não estando mais culturalmente limitados nós temos em mãos uma infinidade de pessoas trabalhando para expandir os jogos de fantasia. Se no passado haviam muitos livros de RPG focados unicamente em jogos medievais, atualmente temos games de todos os tipos. Quer enfrentar deuses mitológicos antigos? Está na mão. Deseja ser um super herói de capa e cueca por cima da calça? Também temos. Ou até mesmo a proposta inicial de super espionagem dá para fazer funcionar.
Caso você tenha um pique, mesmo que pequeno, para atuar e possua ao menos outros três amigos dispostos também; seria extremamente fácil um de vocês aprender a conduzir o jogo para que os outros joguem no seu mundo e componham histórias fantásticas. Agora, falando sobre sistema, permita-me apresentar alguns.
Os “Livros mágicos”
Para que RPGs não sejam iguais aos faz de conta de criança, regras são feitas. Delimitamos o que pode ou não ser feito num certo sentido. Os conjuntos das regras e artifícios aos quais usamos para tornar isso um jogo nós chamamos de sistema. Sistemas possuem regras definidas para o cenário (Medieval, heroico, futurista e etc). Geralmente usamos dados de diferentes faces para medir o sucesso de alguma ação que tentemos tomar, mas existem sistema de RPG usuais de outros tipos de mecânicas (Cartas, bonequinhos e etc). Tendo explicado isso, agora ficam minhas recomendações:
– Se você busca um jogo medieval
- Dungeons and Dragons 5E, ou D&D 5E: D&D foi o pioneiro do todo que chamamos de RPGs. Não unicamente de jogos medievais, pois foi o primeiro jogo oficial de interpretação de papéis numa época onde só existiam War games. Ele está na sua quinta edição e é uma ótima porta de entrada para novatos por sua simplicidade em regras. Possuindo todo o arsenal básico para uma terra média que novatos precisam. Ou infinitas dimensões mágicas e fantásticas para os mais experientes jogarem. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
- Tormenta 20: Aqui temos um irmão de nossa pátria amada, pois trata-se de um sistema nacional (Feito aqui no Brasil). Em sua segunda edição é um jogo com uma escala de poder alta e com carisma inabalável na construção de mundo. Possuindo páginas e mais páginas de um mundo medieval rico com panteões de deuses e outros elementos divertidíssimos. Assim como D&D, funciona bem para os novatos e também para os mais experientes. Seu maior destaque são suas novas raças inventivas e criativas para o jogador usar. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
- Pathfinder 2E: Esse aqui é diferente. Trata-se de um sistema que diferente dos outros, não serve tão bem para novatos. Contudo, depois de uma experiência inicial com algumas jogatinas de RPG é possível alguns acharem certos sistemas fáceis demais. Pathfinder consolida-se, principalmente em sua segunda edição, na premissa de ser um jogo mais estratégico e punitivo. Exigindo maior sinergia entre jogadores para resolverem os problemas. Também sendo o mais consideravelmente regrado até então, possuindo regras para quase qualquer situação. Algo bom em uns casos e nem tanto noutros. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
- Dungeon World, ou DW: Eis aqui um sistema ao qual podemos coroar de “Rei dos novatos”. Sendo o sistema mais simples dessa postagem, nesse sistema o seu mestre pode simplesmente perguntar “ O que você quer fazer? ” e seu deseja será atendido. Numa premissa medieval feita completamente para aventures de teor épico, DW não preocupa-se em criar um game tão limitado em regras. Fazendo única e exclusivamente regras voltadas para criação de personagem, nenhuma para durante o jogo. Tornando-se possível o realizar de toda e qualquer façanha típica a um herói de lendas. Infelizmente não encontrei um site de vendas com o livro base do sistema em estoque.
– Se você busca um jogo sobre heroísmo
- Mutantes e Malfeitores 3E, ou M&M 3E: Esse aqui é um sistema para você que é fã de heróis (Marvel, DC e afins) e toda sua mitologia. Roupas coladas, bases secretas e seres cósmicos. Um sistema bastante regrado, mas ainda capaz de dar o ar da graça duma verdadeira liberdade narrativa. Pois lhes permite criar seus próprios poderes. Recomendável para fãs dedicados ao qual almejam encarnar símbolos de justiça, como Superman, ou só viver o vigilantismo, como Batman, na pele dum personagem. Bom para novatos e experientes jogarem, no entanto precisa-se de um mestre dedicado para poder controlar bem como o jogo costuma ocorrer. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
– Se você busca um jogo sobre apocalipse
- Terra Devastada: Temos mais um nacional aqui. Terra Devastada trata-se de um jogo na pegada de DW, no sentido de que não trabalha tanto suas regras. Mantém-se simples para enaltecer a característica interpretativa do jogo. Danos são subentendidos e todo sistema gira em torno de definições e estados aos quais atribuímos aos personagens. Ótimo para novatos, pois jogadores podem facilmente jogar sem entender muito do funcionamento de RPGs. Devendo apenas preocupar-se com a mortalidade do cenário, um apocalipse zumbi. Seu livro base pode ser adquirido no site de sua própria editora, Retropunk. Bem aqui.
– Se você busca um jogo futurista
- Tales From The Loop, ou TFL: Nascido decorrente da onda de nostalgia oitentista que hora ou outra chega ao nosso mundo, TFL bebe direto da premissa de um passado futurista. Um anos 80 que nunca ocorreu, mas que aqui graças a um acelerador de partículas torna-se possível. Robôs existem, problemas no contínuo espaço-tempo também. O que torna tudo mais interessante é lidar com isso em meio a festas e aos hormônios, pois no sistema controlamos crianças com arquetípicos padrões de filmes da época. Usufruindo razoavelmente de regras, porém todas em função da narrativa e do dinamismo com qual a história precisa ser contada. Esse sistema é ótimo para novatos e principalmente “nerds” do mais clássico tipo, aficionados por ficção científica. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
- Starfinder: Saindo de uma galáxia fantástica e mística, encontramos essa variante do sistema Pathfinder. Trata-se duma adaptação do sistema medieval para um futuro em que tais criaturas míticas alcançam as estrelas e além. Sendo levemente ainda mais complicado que Pathfinder comum, é recomendável para pessoas experientes ou muito afim de entender o sistema. Seu livro base de jogador pode ser adquirido na Amazon, aqui.
– Se você busca um jogo mais urbano
- Blades In The Dark: E por fim, caso deseja embebedar-se em um narrativa onde não existem-se heróis ou vilões; Blades In The Dark é para você. Com todo o terror e horror digno de uma obra literária clássica, esse sistema joga você num mundo em que o sol explodiu e as pessoas lidam com uma situação no qual mesmo sem nada ter acabam por presenciar disparidades sociais e corrupção gritantes em cidades com governos beirando a sujeira de uma latrina. Obrigando pessoas audaciosas a pegarem uma segunda via, com o objetivo de prosperar financeiramente. Tendo pouquíssimas regras não fundamentadas na ideia de interpretação, é um sistema fácil para aprender e mais ainda de interessar-se pelo seu mundo sombrio e rico em possibilidades. Seu livro base pode ser adquirido no site da Buró, bem aqui.
Por que contamos histórias?
Recentemente eu assisti ao filme “O Primeiro Mentiroso“. Nele somos apresentados a um mundo onde as pessoas nunca descobriram o princípio de dizer coisas aos quais não são verdades. Eles não conhecem a mentira. Inicialmente na visão de muitos isso provavelmente pareceria o mundo perfeito. No entanto, o exercício que esse filme me fez fazer para analisar a consequências da falta das mentiras foi no mínimo interessante. Surge um problema enorme quando a fantasia é impossível de ser concebida.
Na realidade
Quando paramos e pensamos na vida de forma nua e crua, podemos concluir que os princípios fundamentais da nossa existência são meramente acaso. Nossa vida no comparativo com outras formas de existência, até mesmo não pensantes, é como um sopro. Dado o nível de nossa fragilidade, nossas motivações além dos instintos básicos seriam tão frágeis quanto folhas se não tivéssemos a milhões de anos aprendido o ato de dar propósito e acreditar. A sociedade como hoje sequer existiria sem mentiras ou no caso, sem fantasia. Sem enxergar além do palpável. Faz muito tempo desde que criamos as infinitas bolhas de narrativas serventes de dar diversos propósitos, dentre aos quais esta perpetuar a espécie.
No coração
A fantasia move o mundo. Faz-nos perceber como nossa realidade pode ou deveria ser diferente e para muitos que brincam com histórias, como esse que vos escreve, pode ser um verdadeiro alívio de uma realidade complicada. Usem esses sistemas de RPGs e vivam suas aventuras. Criem seus mundos ou explorem os dos outros. Conheçam mais a si mesmos e ajudem os outros na mesma jornada. Não esquecendo que a melhor realidade é aquela que criamos.
Por esses motivos que contamos histórias.
Se desejar, confira antigas postagens dessa coluna e comente suas opiniões: Conjecturas Fantásticas