O Esquadrão Suicida e o valor das piores pessoas

11 Min Read

Nos primórdios do seu universo compartilhado nos cinemas em 2016, a DC Comics após o lançamento e as criticas polarizadas do filme Batman VS Superman obteve êxito em trazer a tona um filme ainda mais polêmico. Conhecido por seus trailers ritmados e grandes promessas no elenco fomos apresentados ao Esquadrão Suicida de David Ayer. Um filme ao qual tinha o objetivo de apresentar a Força Tarefa X, um grupo de vilões/anti-heróis reunidos e controlados por Amanda Waller (Viola Davis), para lidar com ameaças de nível meta-humano.

Pôster promocional do primeiro filme

Esquadrão Suicida sofreu diversos problemas durante o período em que foi exibido. Limitados por uma classificação indicativa que não permitia passagens muito brutais, tendo produção difícil, interferência da Warner Bros no corte de cenas chaves e possuindo uma trama confusa numa época no qual a DC não tinha um padrão. Ainda que houvesse quem defendesse, definitivamente foi mais uma pedra no caminho dos desejos de fãs dum universo compartilhado consistente e de filmes bons. Originalmente o segundo filme seria lançado não muito tempo depois, porém acabou sendo bem diferente essa história e hoje falaremos sobre O Esquadrão Suicida de James Gunn. Uma sequência que mirou e acertou em cheio.

! Spoilers do filme já citado a frente, prossiga por sua conta e risco !

A jornada do esquadrão

Capa da revista Empire apresentando parte do elenco e o diretor

Após passar por tremendas confusões na escolha do diretor para o segundo filme foi que a Warner Bros fechou contrato com o recém-saído da Marvel Studios, James Gunn (Diretor de Guardiões da Galáxia 1 e 2). Tendo lidado com os heróis mais desajustados da Marvel, James soube como lidar com vilões e personagens de índole duvidosa quando pôs suas mãos no filme. Negociando até mesmo uma classificação indicativa para maiores, o que beneficiou muito o filme na possibilidade de trazer cenas mais gráficas e uma trama mais madura.

O filme resume-se em uma missão do Esquadrão Suicida, agora já numa nova formação, na ilha de Corto Maltese. Uma nação sul-americana o qual possui um laboratório muito antigo de nome Jotunheim, usada pelo governo da ilha nos experimentos do Projeto Estrela-do-mar. O objetivo da equipe é destruir quaisquer resquícios do projeto, evitando também que o mundo descubra o envolvimento estadunidense numa arma de dominação como o projeto revela-se.

James Gunn durante todo decorrer da história deixou claro no roteiro assim como disse em entrevistas sobre não estar protegendo quaisquer personagens. Dando o teor de urgência e perigo ao qual os fãs cansavam de dizer ser necessário num filme da equipe. Logo que somos apresentado a uma equipe presumida como principal composta por diversos personagens malucos, temos basicamente um banho de sangue onde toda essa equipe inicial é revelada como sendo uma distração meticulosa de Amanda Waller para que o verdadeiro grupo consiga infiltrar-se na ilha.

O grupo

O grupo consiste em 80% de novos personagens. Sendo eles:

  • Sanguinário (Idris Elba): Um assassino de aluguel e líder da equipe, que unicamente está na missão para salvar sua filha de uma condenação injusta decorrente das maquinações de Amanda Waller.
Sanguinário
  • Pacificador (John Cena): Um pacifista extremista capaz de tudo para manter a “paz”, alguém que chega até mesmo a ser antagonista durante suas cenas finais mostrando sua total falta de escrúpulos em concluir seu dever.
Pacificador
  • Rei Tubarão (Sylvester Stallone): Um tubarão humanoide de origem desconhecida, mesmo embora teorizada, com capacidade mental duvidosa e cheio de fome. Além do alívio cômico mais ativo.
Rei Tubarão
  • Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior): Uma assaltante de bancos dona de um dispositivo feito por seu pai (Caça-Ratos 1) para controlar roedores, sendo nas palavras do diretor (James Gunn) aquela a possuir o coração do filme.
Caça-Ratos 2
  • Homem-Bolinha (David Dastmalchian): Um homem capaz de disparar bolinhas coloridas que podem destruir qualquer coisa, possuidor de também terríveis problemas psicológicos envolvendo sua mãe.
Homem-Bolinha
  • Coronel Rick Flagg (Joel Kinnaman): Um soldado heroico que faz parte da equipe por vontade própria em servir e vigiar os vilões durante o realizar das missões. Fazia parte da formação anterior do grupo e também estava na equipe de iscas mostrada no início do filme, sendo um dos dois sobreviventes junto a Arlequina.
Rick Flagg
  • Arlequina (Margot Robbie): Doutora, acrobata, ladra, assassina, louca, ex do Coringa e Ave de rapina. Também fazia parte da formação anterior do grupo, além do grupo de iscas onde perdeu diversos amigos. Não está no grupo por vontade própria, mas claramente faz o que faz com prazer.
Arlequina

Os amigos aos quais escolhemos possuir

Para falar sobre esse filme primeiro precisamos lembrar que trata-se de um filme sobre uma equipe de vilões/anti-heróis, pois só assim podemos ter a noção de que seja por infrações a lei ou até mesmo por pura esquisitice é que os personagens são deslocados da sociedade.

É interessante notarmos como esse filme diferente do antecessor consegue criar um verdadeiro vínculo emocional do público com a família que forma-se na equipe. A relação do antigo grupo era alvo de críticas pesadas, pois deixava a desejar na jornada do filme em que eram poucos se não quase nulos os momentos no qual os membros do esquadrão demonstravam empatia entre si vide a situação arriscada.

Sendo os personagens já naturalmente deslocados do arquétipo saudável de carisma ao qual atrairia facilmente os fãs de heróis; temos aqui um desafio onde mesmo nos atos duvidosos devemos querer entender a situação dos personagens e talvez até sentir o companheirismo deles. Algo que ocorre aqui, tendo em vista como o diretor faz questão de usar motivos simples e ainda assim completamente funcionais para justificar histórias e criar emoção sem estender cenas da história dum único personagem.

As atitudes ditam tudo. Seja na relação meio paternal entre Sanguinário e Caça-Ratos. Na amizade sincera entre Caça-Ratos e Rei Tubarão. Seja a Rivalidade de Sanguinário e Pacificador. Na confiança e apreço já estabelecidos de Rick Flagg e Arlequina. Ou até o jeito dos todos reagirem aos trejeitos do Homem-Bolinha.

Heróis sem ser heróis

Com histórias simples, atitudes características e atuações memoráveis é que mesmo sendo um grupo de ética duvidosa, em sua maior parte, nós como espectadores aceitamos quando num ponto de virada do filme os supostos vilões vão em direção a um inimigo mortal que estava prestes a matar pessoas aos quais eles não teriam menos como importar-se.

Mesmo com sua vida em jogo numa missão ao qual anteriormente ele não daria nada, quem é o primeiro a ignorar ordens e tentar salvar o dia é o Sanguinário. Seguido da Caça-Ratos ao qual afirma ter sabido desde o principio da índole nobre do companheiro, sendo então seguida por todos.

Eles acabam sendo até mesmo ordenados diretamente por Amanda Waller a desistirem do ato de heroísmo, pois na visão do governo americano aquilo seria até vantajoso. No entanto, a ação do grupo é vista com tanto apreço ao ponto dos assistentes de Amanda rebelarem-se para conceder apoio estratégico ao Esquadrão Suicida.

Só queremos ser amados

Na minha primeira publicação aqui cheguei a citar o cuidado ao qual devemos tomar com nosso senso crítico. Devido ao fato de que inegavelmente somos influenciados por figuras e símbolos todos os dias da nossa vida. Alçar figuras duvidosas ao status de cidadão modelo só causa problemas.

Todavia, não há mal algum em utilizar-se de figuras duvidosas para mostrar um lado mais humano de personagens caricatos como os tirados de quadrinhos. Pois quem sabe assim possas-se tirar uma lição sobre nós mesmos, afinal somos falhos enquanto humanos. Dito isso, devemos ser humildes. Não “passar pano” para os nossos erros e sim mostrar como não nos resumimos a eles.

Num flashback no final do filme é mostrado a Caça-Ratos 2 ainda criança perguntando ao seu pai do porque criar o aparelho para comandar roedores. Ao que ele responde ser por eles serem os seres mais humildes de todos. Ao fim, são os ratos num esforço em conjunto com a Arlequina (Que possui todo um arco meigo e igualmente humilde) os vencedores da disputa final da história. Salvando os personagens e todo um país.

Um Esquadrão Suicida

Na cena final, todos os sobreviventes do esquadrão são resgatados num helicóptero ao som de Culture AbuseSo Busted. Uma música que traduz perfeitamente em sua letra o que alguns personagens buscam e escancara mais ainda sua humildade como seres humanos (Ou tubarões).

Culture Abuse – So Busted

Por mais que eu tenha dado alguns spoilers ou até adiantamento de detalhes bem importantes; o impactante dum filme, principalmente desse, é sentar para assistir e sentir na pele como com certeza esses caras são mais humanos que o Superman em fator de serem falhos. Afinal, não somos perfeitos. De qualquer assista e divirta-se com alguns segredos aos quais eu não contei (Tipo as mortes que não são do esquadrão isca). Sinto que estou virando a Amanda Waller.

Se desejar, confira antigas postagens dessa coluna e comente suas opiniões: Conjecturas Fantásticas

Share this Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você não pode copiar conteúdo desta página