Escritora Rebeca Luz estreia na ficção distópica com Artefatos de Sangue

Luca Moreira
11 Min Read
Rebeca Luz
Rebeca Luz

Em um mundo pós-colapso global, onde um governo opressor controla a liberdade dos cidadãos e a sobrevivência depende de obediência, a escritora Rebeca Luz apresenta sua estreia no gênero ficção distópica com Artefatos de Sangue. O primeiro volume de uma trilogia traz Nori, uma jovem da Sétima Província assolada pela guerra biológica e pelo vírus mortal Cólera Roja, que sonha com a liberdade em um cenário devastador.

Com inspiração em sucessos como Maze Runner e Jogos Vorazes, a obra mistura mistério, política, ancestralidade e magia, explorando temas como lealdade, amor e traição. A narrativa equilibra suspense e fantasia em um universo acessível para jovens adultos, sem cenas impróprias para menores.

A trama se intensifica com a descoberta de artefatos poderosos e o encontro com os Cae, uma comunidade de metamorfos, enquanto Nori e outros jovens embarcam em uma missão para desvendar segredos que podem redefinir o destino da civilização. Artefatos de Sangue já é uma promessa de cativar fãs do gênero com sua combinação de aventura, mistério e crítica social.

O que te inspirou a criar um cenário pós-apocalíptico e ditatorial para ‘Artefatos de Sangue’?

Quando iniciei a escrita do livro, pandemias e guerras eram algo muito distante da realidade do brasileiro, apenas trechos de estudo dos livros de História.

Mas, nas fronteiras do Brasil, mais perto de mim do que eu imaginava, milhares de pessoas já fugiam de seus governos, da inflação, da fome e do medo de serem vítimas das batalhas políticas de seus países.

Imaginando um mundo pós-guerra biológica, onde a maior arma foi o próprio DNA humano, e pensando sobre as guerras na História (e aquelas que vemos se formando na atualidade), a luta por poder e a devastação do nosso planeta, surgiu Artefatos de Sangue.

Como foi o processo de desenvolvimento de Nori e a jornada que ela enfrenta em um mundo tão devastado e opressor?

A Nori é uma personagem que representa a natureza humana ante o desconhecido. Ela não quer ser uma heroína, não quer salvar o mundo. Ela só quer sobreviver.

A criação da Nori foi uma jornada imersiva, onde precisei ver pelos olhos de uma sobrevivente de uma guerra milenar, uma jovem que precisou amadurecer muito cedo por sua própria sobrevivência. Ela tem medo, erra, mas, no fundo, só deseja ter um lugar para chamar de seu, ter a segurança para viver em paz.

Quando a guerra de seu país, Alliance, chega a ela, o poder da escolha é tirado de suas mãos. A protagonista se junta a um grupo de rebeldes que pretendem fugir para uma região neutra, a fim de não ser recrutada pelo governo de Alliance, mas sua fuga a leva a um caminho que ela não desejava e Nori se vê no meio dessa batalha.

Isso levanta o questionamento: fugir dos desafios é efetivo? Podemos fugir das batalhas em nossa vida?

Essa escolha leva Nori a uma jornada envolta em misticismo e perigos, além de fazê-la enfrentar as consequências de suas decisões e de seus antepassados.

Você explorou temas como a resistência e a luta pela liberdade. Como esses temas são relevantes na sua trama e na vida dos personagens?

Em uma sociedade ditatorial, onde as diferenças sociais e físicas são condenadas, a voz do povo é silenciada e a decisão dos “poderosos” prevalece até mesmo sobre a vida humana.

Um livro distópico retrata este cenário em um contexto “fora da realidade” do leitor, mas carrega muita verdade em sua trama. É intrínseco ao gênero o quê de realismo. É um convite a embarcar em uma jornada de reflexão sobre a sociedade atual do leitor e o quanto [a narrativa] se assemelha ao futuro fantasioso apresentado no livro.

Artefatos de Sangue retrata uma sociedade onde a vida humana nada mais é do que um recurso de guerra, um artifício na busca por mais poder. Em Alliance, uma pequena parte da população, a parte mais abastada, recebe o direito à segurança e saúde.

Abordar governos ditatoriais, política, guerra por território, é complexo, porém é necessário a medida que conduz o leitor a pensar sobre qual o caminho que a nossa sociedade está trilhando, o futuro que estamos criando hoje.

A liberdade buscada pelos personagens não se resume à liberdade de expressão, e sim à garantia da participação cidadã nas decisões políticas, em suas vidas e na sociedade de Alliance, em especial.

Quais foram os principais desafios ao incorporar elementos de ciência, como o vírus e questões de DNA, em uma história de fantasia?

Quando se fala de uma fantasia distópica, a proximidade com a realidade se torna elemento essencial para que a trama seja verossímil. Ainda que haja elementos fantásticos, místicos, o livro busca casar harmoniosamente elementos de fantasia e sobrenatural com temas que o leitor identifica como verídicos, científicos.

Ao retratar questões de virologia, DNA, pandemias e mutações genéticas, é necessário criar uma base sob uma extensa pesquisa para que a história não pareça irreal, ainda que tenha elementos de magia. Tive o apoio e a parceria das minhas professoras de biologia Patrícia e Tatiane, que me auxiliaram no processo de pesquisa quando “pandemias globais” ainda eram algo que viemos apenas em livros.

O maior desafio era unir elementos da realidade, em especial a ação de agentes virais e mutações genéticas, mantendo a originalidade da Cólera Roja citada no livro e ainda crível o viés sobrenatural da narrativa.

Meus mentores e professores, que me auxiliaram nessa construção, foram essenciais na escrita desse livro.

A inclusão dos Cae, uma comunidade de metamorfos, adiciona uma camada mística à história. Qual é o papel deles na narrativa?

Apesar de ser uma distopia, o elemento “fantástico” era importante para mim.

E, diferentemente do que algumas pessoas podem pensar, a ficção não precisa ser irrealista. Na verdade, pelo contrário, quanto mais realista ela aparecer melhor será a experiência do leitor.

Ao incluir a comunidade Cae, trazemos um contexto de comunidade e o desenvolvimento das relações humanas dentro da história. Os metamorfos têm como tradição a união entre seus membros e a confiança (de sua própria vida e de suas famílias) uns aos outros, algo que é um conflito para a personagem principal. É essa comunidade que pode vir a ser a “família” que a Nori deseja, desde que ela decida confiar.

Apesar disso, também são eles aqueles que incentivam-na a encarar seus medos, suas falhas e os desafios que se apresentam diante da protagonista.

Quais influências literárias e cinematográficas, como Maze Runner e Jogos Vorazes, moldaram sua abordagem para o gênero distópico?

Obras como Jogos Vorazes, Estilhaça-me e Harry Potter foram importantes no meu processo de descoberta do meu estilo narrativo e voz. Foram esses livros que me ajudaram a identificar se uma narração em 1ª ou 3ª pessoa seria mais adequada e quanta informação entregar ao leitor, e quais delas omitir.

A trama aborda temas como lealdade, ancestralidade e traição. Como você espera que esses temas ressoem com o público jovem-adulto?

Uma das principais questões para um adolescente, um jovem, é quem ele é enquanto pessoa e qual é o seu lugar na sociedade. ADS mostra a busca, tanto da Nori quanto daqueles ao seu redor, por amizades leais e relacionamentos sinceros em um mundo que prega a sobrevivência do mais forte.

Além disso, enquanto muitos livros utilizam a predestinação como condutora da obra, optei por trabalhar com a relevância da construção familiar, da ancestralidade, em Artefatos de Sangue. Os personagens principais não são protagonistas porque o destino os colocou nessa posição. Foram seus antepassados e suas escolhas que os tornaram os responsáveis por vivenciar essa aventura.

Essa é uma forma de incentivar, também, que o leitor pense sobre suas próprias decisões e o peso que elas terão na vida daqueles que ainda nem nasceram.

Você pode nos contar um pouco mais sobre a missão dos jovens em busca dos artefatos e o que os leitores podem esperar nos próximos volumes da trilogia?

Enquanto o primeiro livro, Artefatos de Sangue, se passa em Alliance, antiga Europa, e também na América do Norte, no acampamento Cae, o segundo livro da trilogia faz os personagens viajarem para a América do Sul, pois era uma grande expectativa minha escrever um livro de fantasia que acontecesse no meu país, Brasil.

[Spoiler]

E agora que os protagonistas têm conhecimento sobre o enigma que os levará a encontrar os “artefatos de sangue”, Nori e seus parceiros seguirão à procura da cura para a Cólera, que poderá ser a chave para o fim da guerra intercontinental.

Nesse segundo livro também teremos o desenvolvimento do romance entre Nori e Daniel, o coprotagonista, bem como do relacionamento incipiente de outros dois personagens.

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