Apaixonada e observadora do ambiente infantil, a professora Yasmin Dias, de 19 anos, mesmo ainda nova, já nutre um olhar diferenciado pela educação do mundo. Dividindo seu tempo entre seu expediente em uma escola de educação infantil, dando aula para crianças de 4 á 6 anos, aulas particulares e sua faculdade de biologia, a professora é apaixonada pelo processo da alfabetização e é a favor de promover um educação mais voltada para um lado humano e atualmente sonha em deixar um legado através dos alunos que estão passando por ela agora.
Aproveitando que o Dia dos Professores se aproxima nesse mês de outubro, aproveitamos a sua entrevista para debater alguns questionamentos e mostrar em detalhes a tamanha importância que a educação infantil tem não só em nosso período de infância, como ela também vai ser validando até mesmo a nossa vida adulta. Entre músicas, materiais artísticos, brinquedos, livros e a vida ao ar livre, ela alcança milhares de corações ao mostrar nas redes sociais o seu dia a dia e provar que cada um de nós ainda carrega uma criança em nós! Confira a entrevista!
Diferente da didática utilizada nas classes maiores, a educação infantil acaba exigindo alguns outros recursos específicos para fazer com que a criança aprenda as lições com mais facilidade. Como acontece esse processo em relação à interação com os objetos e o aprendizado?
Na educação infantil nós valorizamos o desenvolvimento de forma um pouco diferente, vai muito além de saber ler, escrever e fazer contas. Consideramos importante que a criança tenha um ambiente seguro e estimulante para que possa explorar, se descobrir e descobrir o mundo ao seu redor de forma empírica, o educador nessa fase, tem o papel de observar e estimular o desenvolvimento da criança, utilizamos música, materiais artísticos, brinquedos lúdicos, livros, brincadeiras e explorações ao ar livre.
Uma das características que além de precisarem ser incentivadas, e são bastantes presentes nos professores, é a questão da criatividade em buscar promover atividades artísticas e englobam interação entre os alunos. Quais são as principais dificuldades nesses momentos e como funciona essa organização?
Na verdade, o momento de atividade artística é um momento muito individual da criança, é um momento de auto conhecimento, exploração da própria criatividade, expressão dos sentimentos e personalidade. Quando a proposta artística acontece com o objetivo de incentivar a interação do grupo, nós preparamos uma pintura ou desenho coletivo, em uma tela grande onde eles possam dividir o mesmo espaço criativo.

O que significa estar fazendo parte da educação de várias crianças nessa etapa da vida delas? Como espera que será esse legado que você está passando para uma geração que ainda é mais nova?
Significa ter responsabilidade com a formação da nova geração e com os adultos de uma sociedade futura. A educação infantil é essencial, pois é o momento em que eles desenvolvem o conceito de “eu, ele e nós” e criam responsabilidade social. Como educadora eu quero deixar um legado de crianças que se preocupam em cuidar do mundo ao seu redor, que entendem a necessidade de cuidarmos da natureza e que sabem ser parte de um todo, enfim, pessoas que saibam contemplar sua liberdade e a liberdade do próximo.
Existe uma queixa, que apesar de muitos estudiosos das áreas que estudam a relação de pais e filhos, tais como a pedagogia, psicologia, fonoaudiologia, entre outros, sendo a participação dos responsáveis no processo de desenvolvimento das crianças. Sobre isso, qual é a sua opinião a respeito dessa relação, e como as famílias poderiam melhorar o crescimento dos filhos? Você costuma incentivar os adultos que tenham contato?
A relação com a família é a principal responsável pelo desenvolvimento da criança, o seu primeiro olhar de mundo é herança dos pais e familiares. É extremamente importante que a a família acompanhe o desenvolvimento escolar da criança e dê continuidade a ele em casa, não só em relação a escrita, leitura, matemática e afins, mas ao trabalho de desenvolver a autonomia, a independência emocional, a inteligência emocional, entre outras coisas.

Foto: Reprodução/Instagram
As situações que impedem uma relação saudável entre pais e filhos estão restritas apenas aos impedimentos de trabalho e tempo, ou também costumam se estender a outros pontos, como, por exemplo, a falta de informação, ou o desinteresse dos adultos em se submeterem a brincadeiras do universo infantil que possam ser importantes para as crianças? É possível tentarmos trazer um pouco da sala de aula para dentro de nossas casas?
Existem diferentes casos e situações, porém, de forma geral é muito comum os pais tratarem a criação dos filhos de forma empírica, vão aprendendo a cada erro e a cada experiência boa ou ruim. Mas, quando se trata de educação infantil não podemos acreditar que o “instinto” basta, uma criança é como um papel em branco, ela vai aprender a lidar consigo e com o mundo da forma que for ensinada, então seria importante que os pais se interessassem mais em estudar como lidar com a infância, os conflitos e como gerir uma educação que respeite a infância do filho, que inclusive vai muito além de brincar. Na sala de aula, nós observação cada etapa do desenvolvimento da criança e levamos aos responsáveis por ela, essa troca é essencial para o que o pai tenha um ponto de partida, saiba como ajudar mais a criança no seu dia a dia.
Desde março do ano passado, o nosso mundo acabou entrando em uma situação inesperada por todos, e acabou tirando muitas vidas do eixo. A estrutura educacional do país acabou não ficando de fora e forçou muitos colégios a adotarem o EAD (Educação à Distância). Você chegou a pegar esse método de trabalho com os alunos? Quais foram as maiores dificuldades que encontrou em trabalhar com a classe?
Eu não cheguei a dar aula no método EAD, mas estou passando pela fase de sentir os efeitos do isolamento no desenvolvimento dos alunos, eles foram muito prejudicados no desenvolvimento social, no desenvolvimento da autonomia, na liberdade de conhecer e explorar o mundo a sua volta. Então está sendo um processo delicado reverter esses efeitos, mas com carinho, paciência, estratégia e trabalho, nós conseguimos ajudá-los a lidar com isso e retomarem a autonomia e o protagonismo de seu aprendizado.

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Retornando aos assuntos que comentamos na primeira pergunta, existem muitas coisas nessa fase inicial que visam desenvolver características que os alunos não possuem ainda nessa idade, tais como a independência, o reconhecimento dos sentidos, das cores, escrita, leitura, sentimento de equipe e por aí vai. Por trabalhar com recursos diferentes das classes maiores, existem muitas pessoas desinformadas que ainda questionam a sua importância?
Em qualquer fase da vida o desenvolvimento da autonomia, da inteligência emocional, a visão artística e qualquer outro processo lúdico, são mais complexos das pessoas entenderem, pois são coisas que só conseguimos observar na prática, não tem um método avaliativo para o quanto a criança sabe lidar com seus sentimentos ou como ela lida com o trabalho em equipe, são questões muito subjetivas. Mas hoje em dia já podemos perceber uma preocupação maior em relação a isso e estamos caminhando positivamente para compreensão dos adultos com esse universo.
Em sua opinião, os adultos precisam estar dando mais atenção ao que as crianças têm para falar atualmente? Porque muitas vezes os adultos as julgam antes de tentarem entender as razões que elas tentam apresentar? Esse ato ajuda a desenvolver as habilidades delas educação e na autoconfiança?
Sem dúvidas nós adultos acabamos tendo uma dificuldade maior em validar as questões da infância, é necessário um esforço diário para que possamos desenvolver a sensibilidade de entender o olhar da criança sobre o mundo. É importante que os adultos entendam que a criança é um ser humano em desenvolvimento e que tudo que ela diz, pensa ou age é relacionado a sua visão de mundo e suas descobertas, nosso papel é saber estimular e validar cada observação ou cada questionamento da criança, para que ela aprenda refletir, explorar e formar sua própria opinião sobre as coisas. Não é uma tarefa fácil, alguns adultos esqueceram como é ser criança, mas com muito estudo e prática podemos sim desenvolver o nosso olhar para compreensão da infância.

O que a motivou a se tornar uma educadora e o que seus alunos significam para você hoje? Se pudesse mudar algo a mais, além da sala de aula, na vida deles, em que você gostaria de mexer? Qual é a principal importância da figura do professor nessa idade?
O acesso a uma educação de qualidade mudou a minha vida, eu sempre tive professores que me ajudaram e me acolheram em momentos difíceis além da sala de aula e a minha motivação foi poder ser essa pessoa para os meus alunos. Eu acredito em uma educação humana e acessível, quero que meus alunos entendam que conhecimento é liberdade, que os livros são a nossa chave para entender o mundo e que eles podem sim ser o que quiserem, não o que o mundo espera que eles sejam. Se eu pudesse mudar algo na educação, seria a importância e o valor que damos a ela, gostaria que todos tivessem acesso a uma educação digna. E por fim, além da sala de aula, eu quero ser alguém em que eles confiem e se sintam seguros para explorar todo seu potencial, quero poder acompanhar o desenvolvimento de cada um ao longo da vida, saber que eu fiz parte da formação de seres humanos incríveis que ainda irão fazer grande diferença no mundo.
No ano de 2017, uma pesquisa realizada pela Educere, relatou que crianças na faixa de 6 a 14 anos, somados na época, 30,2 milhões, 730,7 mil (2,4%) estavam fora do ambiente escolar ainda. Esse caso retrata um problema muito sério que é a evasão escolar, da qual buscamos soluções até hoje. Como professora de alunos que vão até os seis anos, você também já chegou a acompanhar esses problemas? Como os docentes podem tentar combater esses casos?
Até o presente momento da minha carreira, ainda não tive experiência direta com alguma situação assim, porém, me tornei educadora exatamente por acreditar que a educação muda a vida das pessoas e acredito que seja uma responsabilidade social cada criança que esteja afastada do ambiente escolar, então começaria criando estratégias para que, como sociedade, todos entendessem a importância de incentivar os estudos nas crianças e adolescentes, pois são frutos que colheremos futuramente.

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Uma das atividades que soubemos ser incentivada por você, é o “livre brincar”, que consiste em deixar o aluno livre para brincar e explorar o ambiente onde ele está. Qual a diferença em questões pedagógicas onde o professor promove uma atividade em comparação a esses momentos?
No livre brincar é o momento que a criança se expressa, que ela imagina, que ela explora e socializa sem a intervenção e o olhar do adulto, nesse momento nós educadores apenas observamos as questões levantadas por eles e os pontos onde podemos ajudá-los a desenvolver mais, então, fazemos uma atividade ou brincadeira direcionada, para aí sim, a partir do interesse apresentado por eles, nós desenvolvermos projetos que agreguem no aprendizado da criança.
Atualmente as instituições de ensino tem pegado pesado em investir na infraestrutura de espaços e desenvolvimento de atividades, tanto em parceria com o próprio MEC, quanto com empresas de fora, sendo que não é difícil encontrar escolas que surpreende os pais e responsáveis com as suas estruturas. Em sua opinião, esse conceito acaba favorecendo a aplicação do ensino nessa faixa etária? Se sim, em quais sentidos?
Sim, sem dúvidas. Nós estamos começando a ver a educação com um olhar muito mais construtivista, onde valorizamos cada observação e cada pequena descoberta da criança, então, consequentemente a educação infantil está sendo mais trabalhada e tem ganhado um investimento maior, pois temos percebido ao longo dos anos, que as crianças não exigem apenas o cuidado, a educação infantil é a fase de maior desenvolvimento na vida de uma criança, então investir em uma educação que esteja preparada para lidar com esse processo está sendo muito produtivo.
Você gostaria de deixar uma mensagem para finalizarmos?
Queria deixar registrado que se preocupar e cuidar da educação de uma criança é a coisa mais bonita que nós adultos podemos fazer por elas e por nós, trocar conhecimento com uma criança muda a vida de qualquer um, eles tem uma visão sobre o mundo que nós acabamos perdendo ao longo da vida e se voltar a isso, a nossa criança interior, muda a nossa vida e a nossa percepção sobre o mundo. Crianças são seres puros, livres de maldade, eles merecem viver em um mundo com pessoas que deem a devida importância e a valor ao que eles tem a dizer.

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Entrevista em parceria com Andrezza Barros