Milena Jenckel: Uma história de inspiração, amor, superação e família

Luca Moreira
30 Min Read
Foto: Reprodução/Instagram

O nascimento dos filhos é um dos momentos mais esperados e especiais para todas as mamães. Cada uma com seus relatos e peculiaridades. As vezes preferem passar pelo processo sozinhas e outras preferem estar ao lado das outras pessoas, porém todas são poderosas e já nascem como guerreiras, e depois do parto essa determinação só cresce. Direto da cidade de São Paulo, descobrimos a história de Milena Jenckel, que teve sua vida transformada com a chegada do seu filho Guilherme.

Em uma breve passada pelo seu Instagram e pelos seus relatos, já é possível ver um pezinho de todo o amor (e preocupação) que existe no coração de uma verdadeira mãe. Assim como todas as mulheres que são abençoadas com esse capitulo de suas vidas, a maternidade sempre nutre de um sonho. Defensora nata do parto humanizado, a história de maternidade de Jenckel já daria um livro inteiro. Venha conferir a história pela voz de Milena!

O nascimento dos filhos é algo que muitas mulheres sonham. Como foi ter o seu sonho transformado em realidade com a chegada do Guilherme?

É uma sensação inexplicável. Eu acho que não tem uma palavra capaz de mensurar o sentimento que eu sinto por ele. Ouvi o choro dele pela primeira vez, peguei ele no colo pela primeira vez, foram coisas que eu me lembro muito claramente da sensação como se fosse ontem. Poder acompanhar o desenvolvimento dele, acompanhar cada aprendizado, cada descoberta. Isso é simplesmente incrível.

Ele deu ao meu coração uma capacidade enorme de expandir, e com certeza, uma coisa que eu afirmo com toda certeza do mundo, é um amor que só cresce a cada dia. Uma coisa que eu nem sabia que era possível, a gente amar tanto um serzinho e o amor só crescer, e a gente querer dar tudo para essa criança, dá tudo de bom e todas as bênçãos do universo.

Foto: Reprodução/Instagram

Um dos casos que marcaram os seus primeiros dias como mãe e o parto foram os episódios de violência obstétrica que foram os maus tratos que sofreu pelos médicos. Qual dica você consegue dar atualmente para as futuras mamães e qual a importância de levar essas denúncias à público?

A primeira dica que eu posso dar é para as mães se informarem muito, sobretudo: quais são os tipos de parto, por exemplo, se for a escolha agendar uma cesárea, ver quais são os prós e quais são os contras e as reais indicações da cesárea. Será que você está tomando uma decisão que você tomou e você realmente não quer tentar o parto ou porque seu médico te indicou de início. Será que essa indicação do seu médico foi uma indicação real e necessária, tem que pesquisar bastante sobre isso, principalmente pesquise sobre violência obstétrica. Eu acho que a informação é o nosso maior escudo de defesa. Hoje, a gente tem alguns documentários muito legais que falam sobre isso. Quando eu estava grávida, “O Renascimento do Parto” foi muito legal. Ele fala muito sobre isso e é  interessante para todas as gestantes, acho que todas deviam assistir. É importante pesquisar também sobre o hospital que você vai escolher para ter seu neném. Visite a maternidade questionando as informações para os funcionários, acho que isso é muito importante. Veja também se o hospital é focado na humanização do parto e no protagonismo da mulher.

A segunda dica é a do plano de parto que é muito importante. O plano de parto é aquele documento que você preenche quais são as suas preferências na hora do parto, o que você quer que façam com você e com seu filho. Eu acho que isso é muito importante, principalmente para você aumentar suas chances de ter uma experiência legal e satisfatória que façam as coisas de acordo com aquilo que você planejou para o seu parto.

A terceira dica é importante também: você ter um acompanhante. Escolha um acompanhante que esteja alinhado com as suas preferências. Ele tem que saber tudo que você deseja para o seu parto. Ele vai ser muito importante, porque ele vai ser a sua voz no momento do parto. Vai ser um momento extremamente delicado. A mãe vai estar focada 100% no filho e você ter alguém ali do seu lado para te apoiar, para ser a sua voz, para falar sobre as suas decisões com a equipe médica e falar sobre todos os seus desejos, vai facilitar muito. Acho que a importância de levar esse caso á público foi inclusive o que me motivou, é que você tá dando o seu relato, é fazer com que a sua experiência chegue em outras palavras e talvez isso seja capaz de evitar que outras mulheres passem pelo mesmo.

Se elas souberem tudo que você passou, porque muitas mulheres nem sabem que existe a violência obstétrica, então acho que é muito importante a gente difundir essas mensagens. O meu caso sempre foi um assunto muito delicado. Foi algo que eu quis expor porque eu acho que eu com uma pessoa pública, que tem seguidores e tal, eu preciso me posicionar, eu preciso fazer com que as pessoas tenham acesso à informação.

Foto: Reprodução/Instagram

A violência obstétrica é só mais uma na lista das atrocidades que são cometidas contra as mulheres, que somam também outros tipos de violência. Como você se sentiu naquele período no hospital e como sua cabeça se mantinha estabilizada na medida do possível?

No hospital, todos os acontecimentos ainda eram muito recentes. Muita coisa eu não tinha assimilado ainda, e também tem outros fatores. Eu estava completamente anestesiada com meu filho no meu braço, emoções à flor da pele. Estava vibrando naquele amor que estava sentindo por ele e ao mesmo tempo também estava focada nos cuidados do pós-operatório.

Tinha acabado de fazer uma cesárea, então estava muito fragilizada com relação às dores, tinha que ter ajuda das pessoas para levantar da cama, para tomar banho, tipo coisas básicas. Eu estava muito cansada, então não cheguei a refletir na hora sobre aquilo. Eu fui refletir mesmo sobre tudo o que tinha acontecido só uns dias depois, quando eu já tinha saído da maternidade. Eu já estava na minha casa e depois que eu fui refletir e pensar sobre o meu parto, e foi quando eu percebi tudo aquilo que estava acontecendo. Eu fiquei arrasada emocionalmente. É claro, eu fui uma vítima de violência, e as vítimas de violência muitas vezes se culpam, não enxergam que não foi uma culpada e que tinha toda uma história por trás, que no meu caso, por exemplo, tinha toda uma equipe por trás que acabou me deixando na mão em alguns momentos. Eu não tinha essa noção, então, eu fiquei totalmente fragilizada emocionalmente, me senti culpada e me senti fraca por não ter conseguido ter o parto normal que eu tinha tanto sonhado. Nesse momento que eu estava no fundo do poço, eu tive uma rede de apoio muito boa, a minha mãe, meu marido sempre me apoiaram muito. O tempo todo eles me consolavam, eles me ofereceram todo suporte possível, e claro, também tinha o amor do meu filho que tipo, maior amor da minha vida. Então, isso me ajudou muito para me manter estabilizada também.

Foto: Reprodução/Instagram

Sabemos pela sua história que você é uma grande defensora do parto humanizado. Para os que ainda não estão muito familiarizados, você poderia nos explicar um pouco sobre ele e quais são as vantagens de fazê-lo ao invés da cesariana?

O parto humanizado é um parto em que são respeitadas as vontades e as decisões da mulher durante todo o processo, então é o mínimo de intervenções médicas e aquelas que foram autorizadas pela gestante. Claro que sempre é levado em consideração a segurança e a saúde da mãe e do bebê, por exemplo, a mãe falou que não quer fazer tal procedimento, mas no momento, a equipe médica pode avaliar que o procedimento é necessário. Nesse caso tem que haver uma conversa com a mãe, Então, tem como uma cesárea ser mais humanizada possível se a mulher for respeitada.

Eu acho que o grande ponto, a grande vantagem de fazer um parto humanizado, seja normal, ou seja uma cesárea, é fazer com que a mulher tenha uma experiência única, que ela se sinta empoderada e que naquele momento ela seja protagonista, que ela crie um vínculo com um bebê desde o primeiro momento.

Dando uma passada no seu Instagram, é fácil perceber o enorme amor que compartilha pelo seu filho, isso acaba atraindo muitos seguidores. Como você enxergou essa ideia de criar um meio de compartilhar a sua vida como mãe e quais são as preocupações que se leva em relação à privacidade da criança?

Na verdade tudo começou com uma brincadeira. Eu baixei o Tik Tok na época da quarentena, assim como milhões de pessoas, já que que foi o aplicativo mais baixado do mundo no primeiro trimestre de 2020. Eu baixei mais por diversão como passatempo, aí eu gostei muito do aplicativo. Acabei pensando: “vou começar a gravar uns vídeos da minha realidade e do mundo que eu estava vivendo muito intensamente, no momento era a maternidade. Eu comecei a fazer vídeos relacionados a isso e aí vários vezes começaram a virilizar. As coisas foram ganhando um propósito muito maior, meu público começou a aumentar e eu vi aquela oportunidade de primeiro de tudo dar mais leveza no dia das pessoas através do entretenimento, mas acho que principalmente para as mães, porque são as que se identificam com o meu conteúdo. Também fiz isso para mostrar que as mulheres e as mães, elas podem estar onde elas quiserem, inclusive produzindo os conteúdos virais e legais para internet.

É muito gratificante ver que cada vez mais nós mães estamos ganhando espaço nesse mundo. A gente passa por tanta desigualdade em tantos anos das nossas vidas, tipo mercado de trabalho, por exemplo, e estamos aqui caminhando para ganhar um espaço, para dar voz às causas. A gente faz o conteúdo de humor, mas a gente também faz críticas, a gente também estimula reflexões sábias que muitas vezes inclusive através desse conteúdo de humor. Às vezes tem alguma crítica sabe, isso é f*** demais. No meu caso, tudo aconteceu muito rápido, começou como uma brincadeira mesmo, como um passatempo. Em pouco tempo, eu fui ganhando muitos seguidores, milhares né. Eu já tenho mais de 600 mil seguidores no Tik Tok. Hoje, eu já me considero uma pessoa pública, mesmo se eu quisesse, eu não ia conseguir mais fazer com que ninguém tivesse acesso a imagem do meu filho, por exemplo, porque vários sites já compartilharam vídeos meus e tudo mais. Porém, eu me preocupo super com isso, tento não expor ele muito, porque a gente fica preocupada, a gente fica com medo do que a gente não sabe. Quais pessoas, quais são as intenções delas que estão consumindo os conteúdos, estão vendo a imagem do meu filho. Eu me preocupo com isso sim, mas eu também gosto de compartilhar momentos nossos, mostrar um pouco de como é legal essa relação de mãe e filho. Então, eu tento compartilhar do jeito mais sutil, tipo tento não mostrar ele excessivamente, não mostrar momentos íntimos dele, por exemplo.

Foto: Reprodução/Instagram

O que mudou na sua visão de mundo após ter se tornado mãe? A Milena de hoje é a mesma Milena de antes do parto?

Não tenho dúvida nenhuma que a Milena de hoje não é mais a mesma. Hoje, eu posso afirmar que tenho muito mais vivência, mais experiências e mais conhecimentos. Eu acho que todo mundo na verdade está em busca de se transformar e de evoluir, mas, penso que na maternidade, ela faz isso com a gente em uma intensidade muito alta. Ela vem como se fosse uma avalanche mesmo, e em um curto período de tempo você precisa se adaptar a uma rotina completamente diferente da que você estava acostumado. De um dia para o outro, você acorda e tem um bebezinho que depende de você para tudo. Isso muda muito a gente. Na minha percepção, eu senti que o nascimento do meu filho, toda a minha experiência de gestação, parto e pós-parto acabaram me dando mais força, mais garra e mais propósito de vida. Hoje, eu tenho meus objetivos traçados muito mais claramente, porque eu penso no meu desenvolvimento e no dele. Eu quero trazer uma qualidade de vida para ele também, então, por isso que eu falo que isso me deu mais propósito de vida.

Um dos milhares de pontos curiosos que tem na sua história na maternidade foi a hora da cirurgia, quando você entrou no centro e inclusive teve suas mãos amarradas durante a operação. Você chegou a se sentir impotente naquela situação?

Cara, eu vou falar que me senti totalmente impotente. Um dos fundamentos do parto humanizado é justamente o resgate do protagonismo da mulher durante o processo de parto. A equipe médica, ela tá lá para assistir o parto, e não para realizar todo o procedimento. O momento é muito da mãe e do seu filho. Eu tinha planejado, tinha criado uma expectativa em relação ao parto, que é normal e esperado por todas as gestantes. A gente pensa na hora do parto, a gente se prepara, estuda, cria expectativa. Naquela situação que eu não estava sendo protagonista do meu próprio parto, eu estava ali amarrada e não pude tocar no meu filho. Ele estava fazendo com que você estivesse em um lugar no qual não entendia. Eu não fazia ideia de como seria, ninguém naquela sala de cirurgia estava me vendo ali. Eles estavam me vendo como um procedimento médico, não como um ser humano. Eles estavam ali para realizar a cirurgia, tirar meu filho da minha barriga e pronto. Ninguém me viu naquela sala, ninguém falava o que estava acontecendo, não me explicavam sobre os procedimentos que eles estavam fazendo. Então, sim, eu me senti completamente impotente. Para não falar que ninguém me viu, teve uma anestesista que foi a única pessoa que estava ali me acalmando, mas, como eu falei, é bem essa questão de ter criado uma expectativa. Eu queria ser a protagonista daquele momento, eu queria ser a protagonista do meu parto, e acabou que eu não fui nem um pouco. Estava amarrada, aí foi isso total sentimento de impotência.

Milena durante o parto. Ao fundo da imagem é possível ver as pulseiras prendendo seus braços. (Foto: Arquivo Pessoal)

Tendo a vista toda situação que você passou até hoje, a gente sabe que tem bastante casais que tem indecisão sobre ter um filho. Quais são os mitos e as verdades que acontecem e se desmistificam após o nascimento?

O principal mito é o medo que a gente tem de não conseguir dar conta quando o bebê nascer. Eu tinha muito isso. Questionava-me constantemente sobre isso, se eu ia conseguir dar conta, o que eu ia fazer depois que o bebê nascesse. Eu posso falar que a gente dá conta sim. A gente consegue se adaptar a essa rotina com o bebê e inclusive achamos até estranho quando o bebê não está perto. O segundo mito é que existe um jeito ideal para criar uma criança. A todo tempo a gente é bombardeado com informações, com sugestões que até vem com filmes e novelas. É aí que acontece o problema, a gente vai criando na nossa cabeça como que é uma maternidade ou uma paternidade perfeita e ideal. Isso simplesmente não existe! Cada família tem uma realidade, cada criança tem um jeito, e você vai ver o que funciona e o que não funciona com vocês. As informações são importantes para guiar a gente, para que a gente tome decisões fundamentadas, mas é só a prática, só o dia a dia que vão dizer o que funciona com você e com sua família.

Uma das verdades, em minha opinião, a criança muda sim toda rotina de uma família. A gente tem que pensar que um bebê, ele vai precisar de supervisão o tempo inteiro, ele vai precisar de atenção, dedicação, ele vai precisar ser ninado, ser alimentado. Essa não é uma coisa ruim, essa mudança de rotina, só que a gente precisa planejar algumas coisinhas antes da chegada do bebê, porque muda muito. Se você trabalha fora, o que que eu vou fazer depois que o bebezinho nascer, eu vou sair do meu emprego, vou pegar a licença, botar ele numa creche, são coisas para se pensar. Você tem que fazer algumas coisinhas antes do bebê nascer, entrando nessa questão de planejamento. O planejamento entra também um pouco na questão da violência obstétrica. Como eu tinha falado anteriormente, para a gente se defender contra essas coisas, a gente tem que se informar muito, a gente tem que planejar, então, por exemplo, de onde você vai querer ter o seu filho, em qual hospital, qual a equipe médica que você vai escolher. Então ter um planejamento é importante sim por conta dessas questões também, não só do pós-parto, mas do parto e da gestação. No meu caso, eu não havia planejado, eu queria muito ter filho, mas eu queria ter uns anos mais tarde, e acabou que ele veio antes, e não tive planejamento nenhum, não eu tive que fazer sim. Eu deixei algumas coisas, tipo, eu trabalhava, eu pensei o que eu ia fazer, eu decidi que ia sair do mercado de trabalho para cuidar do meu filho. Tive que sentar com meu marido, como iriam ficar as contas, mas então é basicamente isso.

É uma pura verdade, claro que amor de filho é maravilhoso! É um amor único e especial que só cresce a cada dia. É uma coisa que todo mundo que tem filho fala, e a gente vê que depois do nascimento é um amor assim que não dá para explicar. Ele passa rápido sim, às vezes as mulheres, por exemplo, que estão no puerpério, a gente fica meio desesperada, tem os hormônios e as emoções à flor da pele, e toda aquela mudança de rotina, e às vezes a gente fica desesperada por ser uma fase um pouco difícil. Você vê outras mães falando relaxa que passa, e cara realmente passa. A gente está nesse momento de desespero e a gente se vê no fundo do poço e pensa: Meu Deus e agora, o que eu faço.

O que eu tenho para falar é isso. Tem que ter calma, paciência. Passa muito rápido. Tem que aproveitar cada segundinho junto, porque cada um vale muito. Você vai olhar para trás e vai falar: cara, eu consegui passar por tudo e você vai enxergar o tamanho da sua força. Isso é incrível!

Foto: Reprodução/Instagram

Na sociedade atual, algumas mulheres acabaram se adaptando ao parto humanizado. Já chegou a sofrer algum tipo de preconceito na família ou por  amigos pela sua escolha?

Olha, eu vou te falar que eu não sofri nenhum tipo de preconceito pelas pessoas que são próximas de mim quando eu falei que queria tentar um parto normal, com o mínimo de intervenções, o mais humanizado possível. Eu fui apoiada na minha decisão. Mas é claro que eu já ouvi alguns casos, tipo, da minha conhecida que decidiu ter um parto domiciliar. Ela conseguiu ter um parto domiciliar, tipo sem intervenção nenhuma. Quando a parteira chegou, o neném já estava saindo, para você ter uma noção. Quando ela foi levar o filho para consulta, se não me engano, foi no dia seguinte. Ela levou no pediatra, e ela me contou que chegou ouvir frases, e ela chegou a sentir o preconceito dos próprios enfermeiros e dos médicos, por conta dela ter optado por ter um filho fora do hospital. É claro que também tem sempre aqueles comentários, tipo: “Nossa você quer ter um parto normal sem intervenção? Corajosa hein! É tão mais fácil operar e tirar logo.” Eu ouvi vários casos desses. Não foi diretamente comigo, mas já ouvi, e acontece. Já houve casos de mães que optaram pela cesárea, tipo que agendaram cesáreas, e ouvirem que elas foram bundonas por isso, tipo: “Nossa, você vai ser bundona. Vai fazer uma cesárea, não vai nem tentar ter o parto normal”. Então, acho que qualquer decisão que a mãe tomar, ela vai ser julgada.

Foto: Reprodução/Instagram

Apesar dos problemas que você teve antes do nascimento do Guilherme, uma das pessoas que sempre estiveram do seu lado foi sua doula. O que essa ajuda e dedicação significaram para você?

Eu gosto de dividir em três momentos que a doula foi essencial. No pré-parto, na hora do parto e no pós-parto. Antes do parto, ela me passou muitas informações científicas sobre a gestação, questões do parto,… coisas que eu nunca nem tinha ouvido falar e ela preparou muito eu e meu marido para situações que pudessem vir acontecer. A gente participou de rodas de conversas com outras doulas e foi muito legal. Elas passaram todas as informações para gente, tudo que a gente precisava. Tínhamos uma troca muito legal com outros casais também. Isso era incrível. Algumas vezes que tive encontros que eu tinha só com ela, conversas minhas com ela que também eram muito legais e me ajudaram demais. Nesses encontros que eu tinha só com ela, acabou me ajudando inclusive a escrever o meu plano de parto, o que foi bastante importante para mim, porque ela estava respaldada com a ciência. Ela me passava informações científicas, coisas que se eu fosse fazer sozinha ia ser muito mais demorado, talvez eu nem conseguisse achar bibliografia suficiente para respaldar as minhas decisões. Então, ela me deu isso muito mastigadinho, foi muito bom.

Na hora do parto, teve algumas coisas que foram muito importantes, que foi o apoio emocional que é super necessário para mulher naquele momento de fragilidade e que você tá ali focado em você e no seu filho. Também teve o apoio físico, ela estava lá quando vinham àquelas contrações, aquela dor que é quase insuportável. Ela fazia algumas massagens nas minhas costas que me aliviavam muito. Ela me trouxe também um pouco de aroma terapia, me levava para tomar banho, me ajudava, estava ali dando o apoio mesmo que foi muito bom.

Depois do parto, como eu tinha falado antes, quando eu comecei assimilar um pouco do que tinha acontecido, eu fiquei muito mal. Eu me culpei, porque eu não entendia a dimensão de tudo que tinha acontecido, eu achava que a culpa era exclusivamente minha, que eu havia sido fraca por não ter aguentado as dores do parto normal. Quando eu fiz esse encontro do pós-parto com a doula, três ou quatro meses depois, que era para ser no pós-parto imediato, mas como eu fiquei muito mal, nem a procurei, e acabou que a gente nem fez. Uns meses depois, eu já estava um pouco melhor e chamei-a para conversar, e foi ela que abriu meus olhos para tudo que aconteceu. Foi ela que me explicou que eu havia sofrido violência obstétrica, e que até então eu estava sofrendo colocando toda culpa só nas minhas costas. Essa conversa que eu tive com ela foi superimportante para essa reflexão, além de ajudar no processo de aceitação, de recuperação e de tudo que tinha acontecido. Então, claro que significou muito para mim.

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