Lucas Miranda vive nova fase na carreira com estreia em “Vermelho Sangue”, série de suspense e fantasia do Globoplay

Luca Moreira
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Lucas Miranda (Carlos Locatelli)
Lucas Miranda (Carlos Locatelli)

Entre duas propostas simultâneas, o ator Lucas Miranda escolheu o caminho que o reconectaria às suas origens e recusou um papel em outra emissora para estrelar Pedro, um dos protagonistas de Vermelho Sangue, nova série de suspense e fantasia do Globoplay, que estreou no dia 2 de outubro. Escrita por Rosane Svartman — autora de sucessos como Vai na Fé e Totalmente Demais —, a produção marca a estreia de Lucas no streaming da Globo e apresenta uma trama que mistura o real e o sobrenatural, com vampiros, lobisomens e dramas humanos ambientados no interior do país.

Natural de Minas Gerais, Lucas vê o papel como um reencontro com suas raízes — tanto pelo sotaque quanto pela ambientação da série — e celebra a chance de integrar um elenco estrelado que inclui Rodrigo Lombardi, Alanis Guillen e Milhem Cortaz. Além da atuação, o artista segue envolvido com a música e o teatro, conciliando as gravações com o lançamento de seu EP Força Invisível e o espetáculo infantil Do Começo ao Fim, no Rio de Janeiro.

Você costuma dizer que o Tantra é “uma autorização plena do prazer”. Olhando para trás, em que momento da sua própria jornada você sentiu que havia se autorizado de verdade a viver o prazer sem culpa?

Sim, eu precisei reaprender a falar como na infância. Esse processo de resgate do sotaque foi uma delícia, muito único — um trabalho que eu nunca tinha feito antes. Nesse processo de redescoberta, eu viajei, voltei para minha terra, Oberlândia, conversei com meus avós, com meus amigos e realmente liguei a escuta, a consciência, para perceber como as pessoas da minha cidade falam — as expressões, as gírias, as melodias da fala.

Muitas vezes isso fica no automático, mas quando a gente está em um trabalho como esse, a percepção fica mais aguçada. Foi isso que tentei fazer na construção do personagem Pedro, e foi muito importante pra mim. Acho que é essencial para o nosso audiovisual contar essas histórias e permitir que o Brasil também se ouça no sotaque interiorano, no sotaque do sertão, do cerrado brasileiro. Foi muito divertido e me senti muito feliz redescobrindo o meu sotaque.

Sua primeira experiência com o Tantra veio ainda na época da faculdade de engenharia. Como foi o choque entre o pensamento lógico da ciência e a entrega intuitiva dessa filosofia? Eles ainda coexistem dentro de você?

Essa decisão de aceitar um trabalho que me reconectava com as minhas origens, em detrimento de outro projeto também muito relevante para a minha carreira, veio do coração. Eu escolhi Vermelho Sangue porque senti que estava mais alinhado com a minha verdade e com o que eu quero representar na minha trajetória — a minha mensagem e o lugar de onde eu vim.

Acredito que, quando a gente se conecta com as próprias raízes, consegue se comunicar melhor com o mundo e chegar mais próximo das nossas metas e propósitos de vida. Desde pequeno, sempre sonhei em viajar pelo Brasil e pelo mundo, filmando, contando histórias e aprendendo.

Essa construção de personagem foi muito rica, justamente porque me tirou da zona de conforto. Eu gosto desses desafios — e esse, em especial, foi um retorno às origens, às essências. Muitas vezes a vida adulta nos afasta disso, principalmente quando saímos da nossa cidade natal e vamos viver nas grandes metrópoles, como foi o meu caso. Então, esse retorno foi crucial e muito importante para mim, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

Lucas Miranda (Carlos Locatelli)
Lucas Miranda (Carlos Locatelli)

Você menciona que o corpo guarda dores e memórias que a mente esquece. Existe alguma história de transformação de um aluno ou paciente que te marcou a ponto de mudar também a forma como você enxerga o Tantra?

Viver o Pedro, que está imerso nesse universo místico, mas ao mesmo tempo leva uma vida pacata, foi um desafio maravilhoso e instigante. O Pedro representa muito o cotidiano mineiro, e o nosso núcleo na série aterrava esse universo sobrenatural — o que é crucial na dramaturgia, porque traz identificação com o público e impede que a história fique inatingível.

Quando a gente mostra o cotidiano local — o cafezinho mineiro, a cachaçinha, o cigarro de palha, o lobo-guará, ícone do cerrado —, a gente aproxima o público. Caso contrário, poderia ficar algo muito “hollywoodiano”, como nas histórias de vampiros e lobisomens.

Trazer esses elementos da cultura brasileira torna tudo mais original e aconchegante. Fazer parte disso foi uma alegria imensa pra mim.

Você perdeu empregos e foi julgada por se dedicar ao Tantra. Hoje, quando vê esse tema sendo abordado em festivais, reality shows e discussões públicas, sente que o preconceito diminuiu ou apenas mudou de forma?

O meu processo de criação é muito de fora para dentro. Primeiro, penso em como o personagem anda, qual é o corpo dele, o olhar, os trejeitos, como ele encara a vida, o ambiente onde está inserido. Só depois começo a explorar as camadas interiores — o que ele sente, seus medos, sonhos e objetivos.

Gosto muito de trabalhar assim, e um conselho que ouvi do Rodrigo Lombardi no set me marcou: “Antes de entrar em cena, esquece as técnicas. Deixa tudo de lado, abre a escuta e vai se divertir.”

Isso me trouxe mais segurança. É natural ficar nervoso no set, especialmente na primeira experiência profissional — são muitas pessoas, muita pressão. Mas é um paradoxo: na hora de atuar, é preciso abandonar o racional e deixar a criança interior assumir. Esse conselho do Lombardi foi realmente especial.

Lucas Miranda (Carlos Locatelli)
Lucas Miranda (Carlos Locatelli)

No Burning Man e em “The Retreat USA”, você mostrou que o Tantra pode existir mesmo sem nudez ou toque. O que isso revela sobre a verdadeira natureza dessa prática e sobre o que as pessoas realmente buscam quando chegam até você?

Pode parecer besteira, mas acredito que isso influencia muito. Além das cenas de ação, que exigiram bastante fisicamente — sol forte, clima seco do cerrado —, o que mais me marcou foi o simples fato de comer a comidinha mineira de novo, passar 40 dias em Minas Gerais, tomar uma cachaçinha…

O Pedro gostava de fumar um cigarro de palha, e tudo isso influenciou muito na vivência do personagem. Comer uma feijoada mineira, por exemplo, muda a forma como o corpo se comporta — e isso vai pra cena. Esse tipo de vivência traz veracidade e credibilidade ao universo retratado.

Curiosamente, percebo hoje que muita coisa que vivi pessoalmente naquela época refletiu no personagem. Frustrações amorosas, rejeições, decepções — sentimentos que o Pedro também experimentava.

Na época, eu não tinha consciência disso, mas vendo o resultado na tela, percebo como isso deu uma camada muito verdadeira e interessante ao personagem. Acho que o público, especialmente quem me conhece, vai perceber isso.

Você afirmou que “a sociedade não tem interesse em pessoas felizes porque elas consomem menos”. Quando você percebeu que o prazer podia ser também um ato político e não apenas pessoal?

Temas como autoestima, espiritualidade e superação me acompanham não só como ator, mas como ser humano. São assuntos que estou sempre investigando, sobre os quais gosto de falar, escrever e criar.

Recentemente, uma entrevistadora me perguntou o que eu gosto mais — música ou atuação — e eu respondi que seria como perguntar a uma mãe de dois filhos qual ela ama mais. É impossível escolher, porque as duas são partes do meu ser e se complementam.

Acredito que um bom ator se constrói pelos livros que lê, pelas conversas que tem, pelos lugares por onde passa, pelos cheiros, sabores, encontros e despedidas.

Eu me refaço e me reinvento todos os dias como ator. Quanto melhor sou como pessoa, cantor e performer, melhor me torno como artista — plural e multifacetado, como me considero.

Lucas Miranda (Carlos Locatelli)
Lucas Miranda (Carlos Locatelli)

O retiro “Montanha da Lua” mistura tradições tântricas, xamânicas e indígenas. Que tipo de transformação você espera provocar em quem participa — e o que esse encontro representa na sua própria trajetória?

Com certeza estou vivendo uma grande virada na minha vida. Saí de uma série sombria, com vampiros e lobisomens, fui para uma peça infantil e agora estou indo para uma comédia.

Isso é um verdadeiro presente para qualquer artista, porque transitar por estilos diferentes engrandece o trabalho e amplia as ferramentas criativas.

A arte tem esse poder — o riso transforma tanto quanto o medo. Cada público é tocado de um jeito, e ambos provocam reflexão.

O espetáculo infantil, por exemplo, me fez resgatar minha criança interior. Assim como na comédia, o foco não é “fazer graça”, mas trazer a verdade da vida. Uma boa comédia nasce de um bom drama.

Estou vivendo um momento muito especial: voltar ao teatro, estrear no streaming, receber novos fãs e ver pessoas conhecendo o meu trabalho. Espero que isso abra muitas portas e que mais gente possa acompanhar essa nova fase.

Para quem ainda enxerga o Tantra com desconfiança, qual seria o primeiro passo — o gesto mais simples — para começar a se reconectar com o próprio corpo e transformar prazer em autoconhecimento?

Sim, quero muito mostrar de onde eu vim, a minha mensagem e a minha essência.

Se eu pudesse resumir em três palavras, seriam: humildade, simplicidade e coragem.

Esses são os valores que aprendi e levo comigo — ser honesto, trabalhar sem passar por cima de ninguém, fazer o certo pelo certo e esperar pacientemente as coisas acontecerem.

A essência do meu trabalho é sobre respeito, amorosidade, conexão com o outro, com o meio ambiente, com os animais e com as pessoas.

Sou um artista plural, criado em meio à música e à diversidade artística, e quero que isso transpareça no que faço.

Quero que as pessoas vejam em mim alguém honesto, humilde e com muita vontade de trabalhar, de contar histórias — brasileiras e do mundo todo. Já tive o privilégio de conhecer muitos países, e cada experiência moldou quem eu sou hoje.

Lucas Miranda (Carlos Locatelli)
Lucas Miranda (Carlos Locatelli)

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