Duda Raupp, beatmaker, produtor musical e multi-instrumentista, se prepara para lançar “Planos Pra Nós” no dia 27 de novembro, mais um marco em sua carreira na cena do rap nacional. Com colaborações anteriores com nomes como Cristal, Victor Xamã e Rashid, desta vez, Duda inverteu os papéis e convidou o rapper para integrar o projeto. A faixa mistura beats inspirados no Soul dos anos 1970 com rap e letra de interpretação dúbia, reforçada por um refrão cativante na voz de Ivyson. Apesar de lembrar uma lovesong, a música aborda um tema mais amplo: a conexão com a natureza e a importância de preservá-la.
Com versos que transitam entre fases de um relacionamento e reflexões sobre as relações humanas com o meio ambiente, “Planos Pra Nós” promete ser mais do que uma música — um alerta sobre a necessidade de reconexão com a terra. O single marca também o início de um novo projeto de Duda, que mistura rap e soul com significados profundos e participações especiais, pelo selo Foco Na Missão.
“Planos Pra Nós” apresenta uma interpretação dúbia, mas com uma forte conexão com a natureza. Como foi o processo de traduzir essa ideia para uma música que também aborda temas como relacionamento e arrependimento?
Na verdade, quem propôs esse assunto na música foi o Rashid. Comentei com ele sobre a vontade de, por estar produzindo um álbum de Soul, que as músicas tivessem a temática de amor ou relações, mas trazendo uma ambiguidade para outros assuntos. Nesse caso, o Rashid escreveu as partes dele primeiro, e propôs essa dualidade da letra, que fala sobre a relação do ser humano com a terra como se fosse ele falando com uma pessoa com quem se relaciona. De cara eu e o Ivyson nos identificamos com o tema e seguimos assim. Eu espero que essa música convide as pessoas a refletir, mesmo. Sobre a relação de cada um com a natureza que está à nossa volta. Como ela é um respiro para nós, e como podemos ser um sufoco pra ela.
Você já trabalhou com grandes nomes do rap, e agora trouxe Rashid e Ivyson para este projeto. Como foi o processo criativo em grupo e o que você acha que cada um trouxe de único para a música?
O processo criativo foi muito fluido. Planos Pra Nós vai fazer parte de um álbum que eu estou projetando para 2025, que bebe da sonoridade do Soul dos anos 70 e 80. Assim, eu venho criando alguns instrumentais nessa textura, e vou encaminhando para artistas que eu quero que participe, que sinto que conversam com a proposta. No caso dessa música, eu mandei algumas opções de ideias instrumentais para o Rashid, que logo escolheu essa que ficou. Conversamos sobre essa ideia da dualidade, e ele propôs o assunto da música já me mandando o verso dele escrito e cantado. A partir daí, constatamos o Ivyson que logo de cara já topou, entendeu a proposta e compôs as partes dele também. Os dois são artistas incrivelmente criativos e isso facilitou o processo, mesmo a distância, era muito tranquilo.
A sonoridade de “Planos Pra Nós” une o Soul setentista com elementos futurísticos. Como você encontra equilíbrio ao mesclar referências tão distintas e como isso reflete sua identidade como produtor?
Eu sempre escutei muito Soul, e de alguns anos pra cá venho escutando algumas referências que trazem à tona essa sonoridade em músicas lançadas agora, nos últimos anos. Nas minhas produções sempre tem algo que vem daí, seja consciente ou inconscientemente. Não acho o Rap e o R&B distantes do Soul, vejo as coisas muito próximas. Ao longo da história, uma coisa foi influenciando a outra. Discos de Soul sempre foram sampleados no Rap. Então, acho que essa mistura faz sentido.
O adiamento do projeto devido às enchentes trouxe uma nova camada de significado à música. Como esses eventos impactaram sua visão sobre a mensagem que você quer transmitir com o álbum como um todo?
Com certeza as enchentes no Rio Grande do Sul impactaram muito no que essa música significa para mim, e até na mensagem que ela passa. Durante os meses em que a tragédia aconteceu, foi só isso que vivemos, foi só para ela que olhamos. Não conheço uma pessoa que não foi afetada direta ou indiretamente pelos alagamentos. Além da própria reflexão que a música propõe sobre nossa relação com a natureza, que com certeza vem à tona com a tragédia, também espero que meu disco ajude a trazer um pouco mais de visibilidade para a música feita no RS. Artistas gaúchos e a música feita lá já é muito pouco visível para o resto do país, e com o impacto da enchente, ficou mais difícil ainda pra muita gente ter a oportunidade de investir tempo na sua arte.
O Morro da Tapera foi escolhido como cenário do visualizer e para inspirar a capa do single. O que esse lugar representa para você e como ele se conecta com a essência de “Planos Pra Nós”?
Eu sinceramente não conhecia o Morro da Tapera antes de gravar o visualizer lá. Por mais que seja um ponto turístico lindo da cidade, ele é pouco conhecido para quem não mora na Zona Sul, que é meu caso. Quando eu e a Amanda Flores, diretora criativa dos visuais do single, começamos a pensar no visualizer e em lugares para as gravações, nos veio a recomendação de lá através de um amigo que já tinha ido. O morro foi simplesmente perfeito para o que estávamos pensando. A nossa ideia era destacar “o homem” olhando para uma vista imponente, como se estivesse olhando para a Terra, com quem se relaciona, e refletindo sobre tudo que construiu ali, nela e com ela. Como se pensasse: “Como é maravilhosa, mas como me arrependo de tudo que fiz de mal pra ela.” A trilha para o topo do morro é linda, e a vista é mais incrível ainda. Desde que fomos, se tornou um lugar que eu uso como refúgio e buscar tranquilidade em meio a correria do dia a dia.
Você acredita que a música pode ser uma ferramenta poderosa para despertar a consciência ambiental. Como “Planos Pra Nós” se posiciona nesse papel e como você espera que ela inspire as pessoas a cuidarem mais da natureza?
Eu espero que quem escute “Planos Pra Nós” possa simplesmente refletir sobre sua relação com nosso planeta, com a natureza. A música não traz uma mensagem direta sobre o que deve ser feito ou como, mas sim um respiro para pensar sobre. Acredito que cada um de nós tem uma relação diferente com o mundo ao nosso redor, mas que para todo mundo é importante buscar, em algum nível, essa relação e respeito com a natureza.
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