Quantas vezes por dia ou semana você pega o ônibus ou faz uso dos transportes públicos para ir ao trabalho ou estudar? Ao passar de alguns anos, os idosos e pessoas com necessidades especiais parecem viver diariamente uma verdadeira luta para terem direito ao conforto em um local de uso público onde todos deveriam ter acesso ao uso adequado. Eu possuo uma linha de pensamento que me deixa bastante intrigado a respeito de como os nossos semelhantes se comportam. Durante a pandemia da COVID-19, essa reflexão foi tomando vulto. Como a questão de ser impressionante que o próprio governo tenha que impor inúmeras leis para nos obrigarem a tomar ações que sejam objetivadas para a proteção das nossas próprias vidas, como o isolamento social,  e até coisas que não valem a nossa vida, porém, são atitudes que respeitosamente deveriam ser compartilhadas entre nossos semelhantes, como a idade ou estado preferencial.

Para os leitores que estão chegando agora no mundo e pensam que esse assunto é recente, estão muito equivocados! A defesa pelo público preferencial – os idosos, gestantes, pessoas com necessidades especiais, entre outras categorias – já tiveram grandes nomes defendendo esse direito humano. Uma das maiores admirações e orgulho que tenho foi quando coloquei os olhos para apreciar sua biografia pela primeira vez: um ícone natural da cidade de Tuskegee que é ninguém menos que Rosa Louise McCaykey, mais conhecida como Rosa Parks.

Foto: Reprodução/Pixabay

A ativista negra que vivia como costureira na cidade de Montgomery protagonizou uma das ações mais lembradas pela história do combate ao racismo no mundo inteiro. Na época em que se passou o ocorrido, o direito preferencial, que hoje no Brasil é conferido através da Lei No 9.452 de 2017, era nos Estados Unidos algo totalmente negativo. Os brancos, que de acordo com pesquisas estão na maioria dos altos cargos nas corporações, eram os considerados prioritários na sociedade. Infelizmente, uma das coisas que demoraram a ter andamento e uma aceitação correta, é algo que desde os anos 1900 era motivo de luta pela população afro-americana no estado do Alabama. Se você é um dos jovens que reclama de querer sentar nos lugares preferenciais ao invés de prosseguir a viagem em pé, pensem que na época, apenas poucas fileiras de assentos nos ônibus eram permitidos para a população negra.

O circo começa a pegar fogo no cair da noite da quinta-feira do dia primeiro de dezembro de 1955. Era mais um dia em que Parks embarcava em um ônibus na Avenida Cleveland – hoje “Rosa L Parks Avenue” – na região central da cidade, nossa heroína, mesmo sabendo que estava vivendo em um mundo injustiçado, cumpria seu “dever” e se sentava na primeira fileira dos poucos assentos reservados aos negros. Ao que parece, ao analisarmos superficialmente o caso, é correto colocarmos a culpa na supremacia branca, mas o antagonista que expôs uma vítima à humilhação naquele momento foi outra: James F. Blake. Seguindo sua viagem, chegou à parada de frente para o Teatro Empire. Nos próximos minutos, Rosa tomaria uma atitude que iria contrariar todos os pensamentos racistas e preconceituosos que mudariam os rumos dos ativistas pelo movimento dos direitos civis dos negros americanos. Antes mesmo de Martin Luther King Jr. ser eternizado com seu sonho de utopia entre negros e brancos, uma passageira ao observar os outros companheiros na fileira se levantando por exigência do seu motorista, Parks foi a única passageira negra a não ceder seu lugar. Com muita determinação e coragem, observou os outros três passageiros se levantando, um por um, e ao chegar sua vez, pois estava sentada em uma quarta fileira, andou uma a mais para o canto encostado na janela do coletivo.

Foto: Reprodução/Pixabay

Ao meu imaginário, penso na reação dos caucasianos ali presentes, quando ao aproximar-se, o motorista falou em tom grosseiro – “Por que você não se levanta?” – se coloquem nessa posição, fechem seus olhos por alguns segundos agora e se imaginem nessa posição. Pois é, essa é infelizmente a realidade de muitas pessoas, que apesar de muitas manifestações, luta e até chacinas, ainda são condenadas a viverem em situações de inferioridade pelo mundo todo. Ao descer as escadas do ônibus amarelo e verde com a companhia de policias e atuada no crime de seção 11 do capitulo seis da chamada Lei de Segregação do Código da Cidade de Montgomery. A fala do policial decretando a voz de prisão enquanto Rosa estava em choque foi a mais desprezível e o trecho que seria capaz de representar o maior atentado aos direitos humanos na época: “É a lei e a senhora está presa”.

Felizmente, o caso de Rosa Parks serviu para que a indignação vivida naquele início de dezembro, resultasse no maior boicote contra a segregação que a cidade viu até hoje. Apesar da duração de apenas um ano, o boicote aos ônibus de Montgomery, que contaram com a participação de figuras como Martin Luther King Jr. e Edgar Nixon – presidente da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor na época – que até hoje é lembrado por ter pagado a fiança de Parks, a guerra por direitos teve um impacto imensurável em todo o mundo.

Foto: Reprodução/Pixabay

Nos dias atuais, acabaram restando uma gigantesca massa de racistas entre a população, o que nos mostra a ignorância que tivemos por um dos capítulos mais marcantes que foram vividos há 66 anos. De acordo com uma matéria divulgada pela UOL – também em meados de 2020 – um estudo abordado afirmou que o racismo nos Estados Unidos se mostraria mais mortal do que as mortes causadas pelo novo coronavírus. Para termos uma noção, para conseguir igualar o número de negros mortos apenas em 2014, mais de 400 mil pessoas brancas teriam que morrer.

Por esse motivo, nos dias atuais, sempre que vocês subirem em um ônibus e observarem os assentos preferenciais levem o exemplo dessa guerreira, que não só promoveu um avanço pela luta dos direitos humanos nos Estados Unidos, mais que também se estendeu para o mundo inteiro. Rosa Louise McCauley faleceu na cidade de Detroit no dia 24 de outubro de 2005, e que nos seus 92 anos, com certeza faleceu com a certeza de que tinha colaborado e feito história ao defender sua raça. O mundo não avançou tão rápido quanto esperávamos, porém, o exemplo de Parks pode ser lembrado e aplicado cada vez mais em nosso dia a dia, passando-se de gerações para gerações. Se hoje temos esperanças e motivos reconhecidos para irmos à luta nas ruas e força para aguentar os ataques do mundo, é porque existiram pessoas que fizeram a diferença em seu tempo, e nunca se sabe quando outros exemplos nascerão a cada dia. Para finalizarmos, reprisamos o questionamento de Rosa: “Porque vocês mexem com a gente assim?”.

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