Educação no tempo certo: o retorno das aulas na pandemia

Luca Moreira
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Na última terça-feira, dia 19 de janeiro, acordamos com uma enxurrada de compartilhamentos nos aplicativos de mensagens dizendo que a cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, havia classificado as instituições de ensino como “serviço essencial” – que é o comércio permitido para funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus, que daqui a dois meses completa um ano. O que impressiona é a lógica na decisão dos órgãos públicos em fazer essa liberação nesse exato momento. Caso você esteja pensando positivo nessa decisão da prefeitura, vou tentar expressar de forma clara os pontos de raciocínio de minha discórdia.

O Brasil está passando nessas primeiras semanas do ano de 2021 por um grande aumento no número de mortes, com a atualização do consorcio de imprensa – que por sinal, como vocês devem se lembrar, foi criado após o governo se recusar a liberar informações na imprensa – ter anunciado que na mesma terça-feira que as escolas foram autorizadas, nosso país marcou mais 211 mil mortes, e com a média diária de 969 óbitos por dia.

Apesar das matérias apontarem que as crianças tem menor possibilidade de contágio, essa afirmação ainda não zera as suas possibilidades. Depois de muita luta, tanto política como de pesquisas, a ANVISA conseguiu liberar de forma emergencial as vacinas do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz, mas é importante frisar que elas não foram aplicadas ainda, muito menos tiverem efeitos!

Foto: Pixabay

Pensamos o seguinte: os estabelecimentos consideráveis essenciais são em sua generalidade espaços de utilizações rápidas, como clínicas médicas, supermercados, farmácias, pet shops, e até mesmo os serviços de entrega de comida, que tiveram um considerável aumento em julho do ano passado, sendo que o site Consumidor Moderno indicou um aumento de 94% com gastos de entregas na pandemia. Nesses serviços, gastamos não muito mais que duas horas por dia; já nas escolas, da maneira que estão sendo liberadas, nas categorias de educação infantil, ensino fundamental e médio, são alunos que permanecem em uma variável de sete horas por dia nos locais com um potencial contato com outros alunos e professores.

Em uma média de colégio grande com três mil alunos para um pequeno de 400 alunos, já imaginamos centenas de famílias, cada uma com seus respectivos estados de saúde e hábitos. Muitas pessoas estão desrespeitando o distanciamento social e centenas de pessoas também estão frequentando encontros, e isso faz com que os alunos se tornem representantes dessas famílias concentrados em uma única instalação. Isso me faz refletir em como seria possível que professores e funcionários dessas instituições de ensino consigam controlar centenas de alunos no cumprimento as regras propostas pela OMS – Organização Mundial de Saúde, que ainda estão em vigor.

Foto: Pixabay

Não sabemos a quem responsabilizar sobre a decisão de retorno. Muitos alunos e professores tiveram que se adaptar ao ensino à distância durante todo esse tempo, então porque esse recurso não poderia ser aproveitado até que todos os envolvidos estejam na sua totalidade assegurados de prováveis situações que possam provocar uma verdadeira “chacina familiar”? Sabemos que muitos alunos não conseguiram estudar durante todo o ano de 2020, mas depois de 1 ano todo perdido, não seria “nadar e morrer na praia” depois que já conseguimos a aprovação das vacinas? Acredito que temos o senso comum de que a educação é essencial, e para todas as idades, não apenas na fase infantil ou adolescente, mas vamos colocar um segundo questionamento: a vontade de voltar a sentar na carteira das salas de aula é maior do que a vontade de cuidar da saúde em caso tão grave como a COVID-19?

Reduzindo as creches e instituições de ensino à descanso paterno nos tempos atuais:

Em uma pesquisa recente que fiz no site de buscas Google, digitei o seguinte questionamento: “Creche é desculpa para folga dos pais?”

Bom, eu admito que fique bastante surpreso de ver como algumas famílias passaram a ver um espaço tão grandioso como uma instituição onde as pessoas crescem intelectualmente, como um verdadeiro centro de babás. As escolas estão perdendo o prestígio delas. Em um blog que li, descobri as definições chegam a ser cada vez maiores, sendo que a chamada do texto dizia exatamente que uma escolinha noturna prometia diversão para os pequenos e de “acréscimo”, uma folga para os pais.

Ter filhos realmente não é uma coisa para uma pessoa despreparada, e claro que o tempo que seu filho está no colégio, pode sim ser considerado um tempo para você poder se concentrar no seu dia como adulto, o problema é quando essa folga de sete horas se torna algo explicitamente utilizado como argumento, tanto para você, como para as instituições privadas que promovem a folga como o principal benefício ganho para os pais.

Possibilidade de influência financeira no retorno das aulas:

Porque a desconfiança das escolas particulares? – Existe uma grande diferença entre as escolas públicas e as privadas: a questão do comércio e das mensalidades. Muitas instituições de ensino tiveram que diminuir suas mensalidades como desconto para o tempo em que ficaram sem apresentar aulas e até mesmo durante as aulas online, devido a perda da experiência dos alunos. As escolas particulares e creches nessas categorias de educação infantil, fundamental e médio no Brasil, chegam a cobrar preços que podem superar em muito cursos universitários.

Uma escola específica de alto nível que identificamos, por exemplo, garante a franqueados uma possibilidade de payback em 36 dias no valor de R$ 400 mil em sua apresentação, por exemplo. Ou seja, a questão pode estar ligada mais ao conceito financeiro do que no próprio desenvolvimento do aluno. Nesse caso, caberia aos pais uma maior reflexão em relação ao que fazer com a educação de seus filhos nesse momento excepcional que o país vem passando.

Acompanhe os últimos artigos de Luca Moreira: www.instagram.com/lucamoreirareal

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