Como a comunicação e a tecnologia tem sido pivô para uma nova guerra interpessoal?

Luca Moreira
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À primeira vista, comunicar-se pode parecer uma tarefa simples. Entretanto, estudiosos da comunicação social explicam que se comunicar envolve processos complexos de transmissão, recepção e interpretação de mensagens. Na universidade, aprendemos que a comunicação segue uma estrutura básica: emissor, meio, canal e receptor. O emissor e o receptor são as partes envolvidas no diálogo, o meio é a linguagem utilizada, e o canal, o veículo pelo qual a mensagem é transmitida. Os “ruídos” são falhas que dificultam a interpretação correta, como quando uma ligação telefônica perde o sinal.

Hoje, porém, a comunicação enfrenta um novo inimigo, muito além dos problemas técnicos: a era da informação. Vivemos tempos de hiperconectividade, alimentados pelo avanço tecnológico, onde a comunicação é influenciada por interesses pessoais e comerciais. A internet, implementada comercialmente nos anos 90, se expandiu de forma que ninguém imaginava. Embora nascido na época em que a internet já era parte do cotidiano, consigo observar como ela impactou nossa forma de comunicar.

Com o passar do tempo, os usuários foram aprendendo a tirar proveito dessa nova rede. Como jornalista, posso afirmar que a comunicação humana sempre esteve impregnada de sentimentos como ego, inveja e curiosidade. Embora sejam naturais, é essencial controlá-los. Assim como em um acidente de trânsito, se exagerarmos em qualquer “pedal emocional”, podemos causar danos irreparáveis.

Mas como isso se relaciona com o jornalismo? Ao analisar a produção de notícias, logo se percebe o embate em torno da “verdade”. Teoricamente, o jornalismo busca retratar a realidade, mas é importante lembrar que uma empresa de comunicação, antes de tudo, é uma empresa. E, como tal, seus interesses também influenciam a maneira como os fatos são apresentados. Isso pode gerar desinformação, já que a versão que “vende mais” nem sempre é a mais precisa.

Na internet, a liberdade de produção de conteúdo não é acompanhada de uma metodologia padronizada, o que resulta em uma enxurrada de informações não qualificadas. Jornalistas, blogueiros e influenciadores que desejam se destacar precisam estabelecer um vínculo de confiança com seus públicos, criando um “contrato” onde a informação fornecida seja vista como confiável.

O problema surge quando interesses ideológicos ou populares deturpam a comunicação, resultando em acusações e transferências de culpa. É natural que, em meio a conflitos, as pessoas busquem responsabilizar grupos maiores para diluir suas próprias falhas. Mas isso apenas alimenta a hostilidade no ambiente.

A hostilidade no mundo atual

Vivemos em um mundo cada vez mais hostil, tanto no plano físico quanto no virtual. As redes sociais, que deveriam ser espaços para o diálogo respeitoso, se tornaram campos de batalha, onde a agressão se tornou quase automática. Para constatar isso, basta passar alguns minutos no Instagram ou no X (rede social banida no Brasil no momento da escrita deste artigo) e observar os comentários em uma postagem popular.

Um exemplo comum é alguém expressar uma opinião simples, e logo ser atacado com respostas agressivas como: “Quem pediu sua opinião?”. Esse tipo de interação reflete um comportamento cada vez mais presente: pessoas que não se conhecem sentem a necessidade de responder de forma ofensiva, mesmo em situações triviais.

A convivência está se tornando cada vez mais difícil. As pessoas exigem dos outros comportamentos que elas mesmas não conseguem oferecer. Estamos nos afastando de um mundo polarizado e nos movendo em direção a uma realidade ainda mais intolerante.

Enquanto essa “guerra interpessoal” continuar, todos nós seremos forçados a desenvolver estratégias de defesa contra os ataques diários que sofremos, seja no ambiente virtual ou no mundo real. E a pergunta que deixo para você, leitor, é: se hoje já estamos assim, o que esperar do futuro? Como as próximas gerações lidarão com essa crescente agressividade?

*Luca Moreira: Jornalista brasileiro especializado em entrevistas, conhecido por suas mais 1.600 entrevistas com personagens de mais de 24 nacionalidades. Fundador e CEO da MCOM Global e atual editor-chefe do site britânico PopSize United Kingdom. Há 2 anos apresenta o podcast semanal “Luca Moreira Entrevista” disponíveis em diversas plataformas como Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, entre outras. Seu trabalho já foi reconhecido tanto por veículos de mídia nacionais como pela revista VoyageLA, nos Estados Unidos.

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