Sabe aquele livro que divide opiniões entre pessoas que amam e favoritam, e outras que mal conseguem dar uma nota por não conseguirem gostar de forma alguma da leitura? O colecionador é uma destas obras.
Em primeiro lugar, devemos levar em conta que a editora Darkside é muito comentada entre os leitores, seja por suas lindas edições que enchem os olhos dos colecionadores, seja por suas falhas em alguns livros, na tradução ou gramática.
O livro publicado pela editora é realmente uma edição maravilhosa, de capa dura, corte colorido, fita marcadora e muitos outros detalhes que encantam. Ao adquirir um livro tão lindo, acabamos por vezes elevando nossa expectativa a respeito do conteúdo de forma que, se este não for o que esperávamos, pode acabar sendo uma experiência desagradável.
Começamos esta obra com uma introdução de Stephen King nos preparando para o que vem a seguir. A maioria sabe da reputação de King com suas obras de terror, tendo diversos livros muito conhecidos e adaptados para o cinema, isso também pode ajudar a elevar nossa expectativa de certa forma, mas vamos ao conteúdo…
A história trata de um sequestro e o livro é narrado em duas partes: uma pelo ponto de vista da vítima e outra pelo sequestrador. A primeira parte temos Frederick Clegg, que conta de forma um tanto quanto tóxica, a sua “paixão” e como surgiu seu amor por Miranda. O quanto ele a vê como um ideal de tudo o que aprecia em uma pessoa, todos os sonhos que tem de ter uma vida com ela, e o quanto queria que ela reparasse nele e se apaixonasse também (tudo isso sem sequer conhecê-la de verdade!). Ao decidir que ela precisa conhecê-lo para entender que o destino deles é juntos, e explicar tudo que ele sente para que, assim, ela também se apaixone por ele, Frederick começa a arquitetar “hipoteticamente” um sequestro, que afirma diversas vezes que não cometeria, até que se vê cometendo.
Esta primeira parte do livro, narrada pelo sequestrador, prende do início ao fim, que dura até aproximadamente a página 150, e o leitor acaba devorando o conteúdo rapidamente, porque somos apresentados aquela situação pela primeira vez, gerando curiosidade sobre como a história vai se desenrolar, quando e como vai acontecer, o que o leva a fazer tal coisa, e o que acaba gerando mais curiosidade ainda é saber o que se passa na cabeça de Miranda, a vítima, já que sabemos muito pouco a respeito dela verdadeiramente nesta primeira parte, principalmente seus pensamentos e sentimentos, só conhecemos por alto o que o sequestrador diz saber sobre ela.
A segunda parte, contada pela própria vítima, acaba sendo um pouco cansativa. De início, por estarmos voltando ao início do livro, praticamente recontando a história, só que desta vez, peça visão de Miranda. O fato de ficar misturando os acontecimentos do tempo em que está sequestrada com a vida passada, pessoas que ela conhecia e como a vida dela era antes do sequestro, não fazem o leitor criar nenhum vínculo com a personagem e nem conhecê-la mais, o que era uma expectativa na parte um.
Apesar de tudo, o final consegue ser chocante, causando diversos sentimentos no leitor; e não quero deixar spoilers nesta parte, pois para aqueles que ainda forem realizar a leitura para tirarem suas próprias conclusões, seria muito desanimador.
Contudo, realizada a leitura e mesmo com alguns contras, ainda assim valeu a pena. A primeira parte é realmente muito interessante, e a reta final da segunda consegue captar novamente a atenção do leitor para o desfecho, o único desafio é realmente conseguir passar pela etapa inicial da segunda parte sem abandonar a leitura; e o final, mesmo não agradando alguns leitores, é capaz de causar sentimentos, de fazer o leitor sentir algo em relação ao que está sendo lido, o que acaba sendo um ponto positivo para a obra.
Ps: A grande relação da obra com as borboletas, que se apresentam na capa e também é citada diversas vezes pela vítima ao longo da narrativa. Frederick Clegg, o sequestrador, tinha por hobby colecionar borboletas, e até mostra sua grande coleção à Miranda, contando como tudo começou, seu fascínio e se gabando de algumas borboletas raras que possui. Miranda se compara às espécimes, aprisionada apenas para fazer parte da coleção do sequestrador, visto que em nenhum momento ela consegue descobrir o que mais ele deseja, além de mantê-la presa, para tê-la somente para ele.