A frente de uma floricultura ilustra a capa do primeiro disco do cantor e compositor Camões. O colorido de “Flôres” retrata a forma irônica com que o artista fala sobre o amor e o cotidiano, misturando as letras com ritmos brasileiros e a estética synthpop. O álbum é dividido em dois momentos e reproduzem a visão do autor sobre sua geração, que “possui uma carapaça alegre que encobre uma profunda solidão”, como o próprio Camões define. “Flôres” é um lançamento via selo Milk Digital e está disponível nas principais plataformas de streaming.

Crônicas sobre rotinas e relacionamentos são o fio condutor do trabalho de Camões. As canções de “Flôres” brincam no limite entre o eletrônico e o orgânico, acompanhado por letras cheias de lirismo, franqueza e bom humor. Depois de dois trabalhos, os EPs “Cupim” e “Anilina”, o artista chega na plenitude de sua carreira, trazendo momentos dançantes, encorpados por riffs de guitarra e brasilidade em contraste com uma melancolia tropical.

O letreiro de uma floricultura de São Paulo representa os sentimentos que oscilam na obra do cantor: o entusiasmo e o ceticismo com o amor. O ar multicolorido das plantas da vitrine ilustram o sentimentalismo, assim como, ao mesmo tempo, mostram a tristeza profunda em meio ao cenário urbano. É o paradoxo clássico das rosas com o espinho, ou mesmo a dupla função das flores, que servem para encantar ou se despedir de alguém que se foi.

“O letreiro, por ser em neon, condiz com a estética que proponho nas minhas músicas com os timbre eletrônicos e com os synths […] existem também artistas nos quais me inspiro com títulos que remetem a flores nos seus trabalhos: o clássico do Macintosh Plus, ‘Floral Shoppe’, e o último álbum do rapper Tyler, The Creator, ‘Flower Boy’”, diz o cantor.

O registro começa com a envolvente “Só na Cena”, música em parceria com João Ribeiro; para seguir adiante com “Nova Aurora”, canção em homenagem à Baixada Fluminense e as cidades que ficam às margens do Rio de Janeiro. Terceira faixa, “Cumbia da Gota” é o encontro do eletrônico com ritmos latinos e abre espaço para “Pista 03”, que narra o prazer da solitude após uma noite de esbórnia. “Interlúdio Bad Vibe” é o momento de quebra do álbum, é a virada de chave da alegria para um momento de introspecção que perpassa as faixas seguintes. “Troca Sagaz” conta com a participação especial de Naif, assim como “Pode Querer”, que tem a colaboração do compositor Qinho. O disco segue com a pegada pop da balada “Ana”, que fala sobre como a paixão supera a razão até mesmo de quem não crê no amor romântico. “Paraty” equilibra o trabalho com a efemeridade das paixões e amores modernos e “Tédio” encerra o álbum com uma metalinguagem ao falar sobre o vazio após o término de um ciclo.

Após realizar sua primeira turnê internacional, onde se apresentou em palcos portugueses, Camões retorna ao cenário da boemia carioca com o primeiro álbum da carreira. “Flôres” expõe o novo momento do cantor e compositor, acompanhado de referências do synthpop à música oitentista.

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