Stéfano Agostini: Do “Detetive do Prédio Azul” ao cinema, jovem ator brilha no Festival do Rio

Luca Moreira
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Stéfano Agostini
Stéfano Agostini

Após marcar uma geração como o carismático Zeca, da Capa Verde, em Detetives do Prédio Azul, o ator Stéfano Agostini, de 13 anos, celebra uma nova fase na carreira com sua estreia nas telonas. O jovem talento de Niterói integra o elenco do filme (Des)Controle, dirigido por Rosane Svartman e Carol Minen, que teve sua première no Festival do Rio e tem lançamento previsto para 2026.

Na produção, Stefano interpreta Duda, um adolescente que tenta ajudar a mãe, vivida por Carolina Dieckmann, a enfrentar o alcoolismo — tema central do longa que aborda com sensibilidade o impacto da dependência na dinâmica familiar. Com uma atuação madura e emocional, o ator confirma sua transição do universo infantojuvenil para papéis mais densos e complexos, consolidando-se como uma das promessas do novo cinema nacional.

Você começou sua carreira muito cedo e cresceu diante das câmeras. Como tem sido amadurecer dentro do universo artístico e descobrir novos desafios à medida que vai crescendo?

Sim, eu precisei reaprender a falar como na infância. Esse processo de resgate do sotaque foi uma delícia, muito único — um trabalho que eu nunca tinha feito antes. Nesse processo de redescoberta, eu viajei, voltei para minha terra, Oberlândia, conversei com meus avós, com meus amigos e realmente liguei a escuta, a consciência, para perceber como as pessoas da minha cidade falam — as expressões, as gírias, as melodias da fala.

Muitas vezes isso fica no automático, mas quando a gente está em um trabalho como esse, a percepção fica mais aguçada. Foi isso que tentei fazer na construção do personagem Pedro, e foi muito importante pra mim. Acho que é essencial para o nosso audiovisual contar essas histórias e permitir que o Brasil também se ouça no sotaque interiorano, no sotaque do sertão, do cerrado brasileiro. Foi muito divertido e me senti muito feliz redescobrindo o meu sotaque.

Depois de nove temporadas como o detetive Zeca, o que mais te marcou nessa fase e o que você leva desse personagem para a sua vida e para os novos papéis?

Essa decisão de aceitar um trabalho que me reconectava com as minhas origens, em detrimento de outro projeto também muito relevante para a minha carreira, veio do coração. Eu escolhi Vermelho Sangue porque senti que estava mais alinhado com a minha verdade e com o que eu quero representar na minha trajetória — a minha mensagem e o lugar de onde eu vim.

Acredito que, quando a gente se conecta com as próprias raízes, consegue se comunicar melhor com o mundo e chegar mais próximo das nossas metas e propósitos de vida. Desde pequeno, sempre sonhei em viajar pelo Brasil e pelo mundo, filmando, contando histórias e aprendendo.

Essa construção de personagem foi muito rica, justamente porque me tirou da zona de conforto. Eu gosto desses desafios — e esse, em especial, foi um retorno às origens, às essências. Muitas vezes a vida adulta nos afasta disso, principalmente quando saímos da nossa cidade natal e vamos viver nas grandes metrópoles, como foi o meu caso. Então, esse retorno foi crucial e muito importante para mim, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

Stéfano Agostini
Stéfano Agostini

O filme “(Des)Controle” traz um papel mais denso, diferente das produções infantojuvenis. Como foi esse processo de se preparar para um personagem com tantas camadas emocionais?

Viver o Pedro, que está imerso nesse universo místico, mas ao mesmo tempo leva uma vida pacata, foi um desafio maravilhoso e instigante. O Pedro representa muito o cotidiano mineiro, e o nosso núcleo na série aterrava esse universo sobrenatural — o que é crucial na dramaturgia, porque traz identificação com o público e impede que a história fique inatingível.

Quando a gente mostra o cotidiano local — o cafezinho mineiro, a cachaçinha, o cigarro de palha, o lobo-guará, ícone do cerrado —, a gente aproxima o público. Caso contrário, poderia ficar algo muito “hollywoodiano”, como nas histórias de vampiros e lobisomens. Trazer esses elementos da cultura brasileira torna tudo mais original e aconchegante. Fazer parte disso foi uma alegria imensa pra mim.

Seu personagem convive com o sofrimento da mãe e tenta ajudá-la de forma silenciosa. O que você aprendeu sobre empatia e fragilidade humana ao interpretar o Duda?

O meu processo de criação é muito de fora para dentro. Primeiro, penso em como o personagem anda, qual é o corpo dele, o olhar, os trejeitos, como ele encara a vida, o ambiente onde está inserido. Só depois começo a explorar as camadas interiores — o que ele sente, seus medos, sonhos e objetivos.

Gosto muito de trabalhar assim, e um conselho que ouvi do Rodrigo Lombardi no set me marcou: “Antes de entrar em cena, esquece as técnicas. Deixa tudo de lado, abre a escuta e vai se divertir.”

Isso me trouxe mais segurança. É natural ficar nervoso no set, especialmente na primeira experiência profissional — são muitas pessoas, muita pressão. Mas é um paradoxo: na hora de atuar, é preciso abandonar o racional e deixar a criança interior assumir. Esse conselho do Lombardi foi realmente especial.

Stéfano Agostini
Stéfano Agostini

Contracenar com nomes como Carolina Dieckmann e Caco Ciocler deve ter sido uma grande experiência. Qual foi o maior aprendizado que você levou desses encontros no set?

Pode parecer besteira, mas acredito que isso influencia muito. Além das cenas de ação, que exigiram bastante fisicamente — sol forte, clima seco do cerrado —, o que mais me marcou foi o simples fato de comer a comidinha mineira de novo, passar 40 dias em Minas Gerais, tomar uma cachaçinha…

O Pedro gostava de fumar um cigarro de palha, e tudo isso influenciou muito na vivência do personagem. Comer uma feijoada mineira, por exemplo, muda a forma como o corpo se comporta — e isso vai pra cena. Esse tipo de vivência traz veracidade e credibilidade ao universo retratado.

Curiosamente, percebo hoje que muita coisa que vivi pessoalmente naquela época refletiu no personagem. Frustrações amorosas, rejeições, decepções — sentimentos que o Pedro também experimentava.

Na época, eu não tinha consciência disso, mas vendo o resultado na tela, percebo como isso deu uma camada muito verdadeira e interessante ao personagem. Acho que o público, especialmente quem me conhece, vai perceber isso.

Você também se apresentou nos palcos com “D.P.A. – A Peça 2: Um Mistério Musical em Magowood”. O que muda na sua energia e na forma de atuar quando está em frente ao público, em vez de uma câmera?

Temas como autoestima, espiritualidade e superação me acompanham não só como ator, mas como ser humano. São assuntos que estou sempre investigando, sobre os quais gosto de falar, escrever e criar.

Recentemente, uma entrevistadora me perguntou o que eu gosto mais — música ou atuação — e eu respondi que seria como perguntar a uma mãe de dois filhos qual ela ama mais. É impossível escolher, porque as duas são partes do meu ser e se complementam.

Acredito que um bom ator se constrói pelos livros que lê, pelas conversas que tem, pelos lugares por onde passa, pelos cheiros, sabores, encontros e despedidas.

Eu me refaço e me reinvento todos os dias como ator. Quanto melhor sou como pessoa, cantor e performer, melhor me torno como artista — plural e multifacetado, como me considero.

Stéfano Agostini
Stéfano Agostini

Com apenas 13 anos, você já construiu uma trajetória sólida. O que mais te motiva hoje como artista e que tipo de projetos você sonha em fazer no futuro?

Com certeza estou vivendo uma grande virada na minha vida. Saí de uma série sombria, com vampiros e lobisomens, fui para uma peça infantil e agora estou indo para uma comédia.

Isso é um verdadeiro presente para qualquer artista, porque transitar por estilos diferentes engrandece o trabalho e amplia as ferramentas criativas.

A arte tem esse poder — o riso transforma tanto quanto o medo. Cada público é tocado de um jeito, e ambos provocam reflexão.

O espetáculo infantil, por exemplo, me fez resgatar minha criança interior. Assim como na comédia, o foco não é “fazer graça”, mas trazer a verdade da vida. Uma boa comédia nasce de um bom drama.

Estou vivendo um momento muito especial: voltar ao teatro, estrear no streaming, receber novos fãs e ver pessoas conhecendo o meu trabalho. Espero que isso abra muitas portas e que mais gente possa acompanhar essa nova fase.

Fora das gravações e dos palcos, quem é o Stefano? O que você gosta de fazer no dia a dia, quando não está no mundo das artes?

Sim, quero muito mostrar de onde eu vim, a minha mensagem e a minha essência.

Se eu pudesse resumir em três palavras, seriam: humildade, simplicidade e coragem.

Esses são os valores que aprendi e levo comigo — ser honesto, trabalhar sem passar por cima de ninguém, fazer o certo pelo certo e esperar pacientemente as coisas acontecerem.

A essência do meu trabalho é sobre respeito, amorosidade, conexão com o outro, com o meio ambiente, com os animais e com as pessoas.

Sou um artista plural, criado em meio à música e à diversidade artística, e quero que isso transpareça no que faço.

Quero que as pessoas vejam em mim alguém honesto, humilde e com muita vontade de trabalhar, de contar histórias — brasileiras e do mundo todo. Já tive o privilégio de conhecer muitos países, e cada experiência moldou quem eu sou hoje.

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