“Mesmo se a Tempestade Chegar” emerge como uma intrigante ficção científica, tecendo reflexões profundas sobre temas candentes na sociedade brasileira. O autor, Paulo Pera, tece uma narrativa envolvente, explorando questões como fanatismo, os desdobramentos dos discursos de ódio, abusos de poder e ponderações filosóficas sobre a essência da luta pela humanidade. A trama acompanha Soulfly, protagonista que desperta sem memória em um hospital, desencadeando uma jornada marcada por reviravoltas e reflexões sobre seu passado ligado ao grupo Salvadores da Terra. Em uma narrativa fragmentada, com capítulos breves e flashbacks, o autor mantém os leitores ansiosos por desvendar os enigmas que cercam esse personagem principal.

O que inspirou você a abordar temas como fanatismo, discursos de ódio e abusos de poder em “Mesmo se a Tempestade Chegar”?

O livro começou a ser escrito quando eu ainda era adolescente, com uma premissa de romance romântico e um toque de fantasia, mas acabou ficando parado por cerca de dez anos. Quando retomei a escrita, já tinha outra visão da sociedade, com experiências e perspectivas ampliadas. Ao refletir sobre sociedades do passado que se submeteram a líderes tiranos, questionei como isso foi possível e percebi que, muitas vezes, esses eventos se repetem em nossa própria época. Fui motivado a explorar esse tema porque acredito que ele merece atenção, especialmente quando se desenvolve em meio à alienação causada pela mídia, pelo excesso de trabalho e, mais recentemente, pelas redes sociais. A abordagem inicial do livro pode parecer simples, mas ao longo das páginas, os leitores começam a perceber as semelhanças com tiranias históricas e como sentimentos inicialmente aparentemente inofensivos podem evoluir para um desfecho trágico.

Pode nos falar um pouco mais sobre o protagonista Soulfly? Como você desenvolveu esse personagem ao longo da história?

Soulfly é uma daquelas pessoas que assume ter perdido a esperança na humanidade. Cresceu em uma família problemática, sempre à margem da sociedade e distante de qualquer apoio familiar, com uma visão de mundo limitada aos problemas sociais que o cercava. Quando encontra um grupo de pessoas com experiências semelhantes e o poder de efetuar mudanças que achava necessárias, ele se junta a eles sem questionar. Embora perceba desvios de conduta dentro do grupo e sinta que seus objetivos favorecem o sucesso em detrimento de outros grupos, Soulfly só compreende que está do lado errado quando conhece Sara, que o faz questionar ainda mais o grupo e perceber que estava apoiando um líder tirano. É como acontece quando vivemos em bolhas sociais e alguém de fora nos apresenta uma perspectiva diferente dos acontecimentos.

A obra parece mesclar ficção científica, romance e fantasia. Como você equilibrou esses elementos para criar uma narrativa coesa?

Foi uma mescla facilitada pelo cenário contemporâneo em que se passa a história. Atualmente, vivemos em uma realidade que antes era considerada ficção científica, e os elementos de ficção científica e fantasia que fundamentam a trama não estão tão distantes da atual realidade. A maior especulação que faço ao usar esses elementos é explorar como a humanidade reagiria diante de uma revolução tão significativa quanto a apresentada no livro.

Há influências de animes e mangás, como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, na sua obra. Como essas referências se integram à história e ao público que você deseja alcançar?

Esses animes foram parte fundamental da minha infância e adolescência, e trouxeram temas importantes, como a importância da amizade e a determinação para proteger aqueles que não podem se defender. Além desses temas, usei essas influências para criar o ambiente de fantasia onde as energias podem ser manipuladas para fora do corpo, algo que também é explorado em “Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball” com os conceitos de “Cosmo” e “Ki”. Esses elementos, combinados com ação, humor e momentos de violência, chamam a atenção de todos os leitores que também consumiram esses conteúdos nas TVs dos anos 90 e 2000.

Curiosidade: o título do livro foi retirado da música que encerra os episódios de Dragon Ball GT, e a estrutura narrativa que envolve os personagens Soulfly e Sara foi inspirada na letra da mesma música.

Como foi o processo criativo ao explorar a ética, moralidade e a defesa da vida humana no contexto da trama?

Explorar questões éticas, morais e a defesa da vida humana no contexto da trama foi um desafio, pois envolve tópicos complexos e polêmicos que encontramos com frequência em nossas vidas. A ideia de superpopulação, por exemplo, é uma reflexão comum quando discutimos o futuro da humanidade, algo que também foi abordado de maneira impactante no livro “Inferno” de Dan Brown e no filme “Vingadores” da Marvel. No entanto, é alarmante como algumas pessoas adotam soluções simplistas, como a destruição em massa, quando confrontadas com esses dilemas. Essa solução preguiçosa, infelizmente, encontra eco em alguns indivíduos que preferem não se envolver em reflexões mais profundas, ou buscar soluções sustentáveis, mais complexas, mais trabalhosas, com investimentos à longo prazo, que poderiam beneficiar a sociedade e o mundo como um todo.

Paulo Pera

Mesmo se a Tempestade Chegar” foi vencedor na categoria “Romance” do edital da Fundação Cultural de Curitiba. Como essa conquista impactou você como autor?

Foi uma conquista que eu não esperava. Para um autor que ainda não tinha publicado um romance, a oportunidade de ter seu livro publicado sem custos é algo raro e valioso. Essa conquista me fez perceber que o que escrevo tem impacto e que mesmo autores iniciantes têm espaço para compartilhar suas histórias nas páginas e prateleiras Brasil afora.

Você mencionou que o livro será doado para bibliotecas e casas de leitura em Curitiba. Como vê a importância da disseminação da obra em instituições culturais?

Como escritor, meu objetivo principal é que minha obra seja lida e alcance o maior número possível de pessoas. Colocar o livro em bibliotecas e casas de leitura é uma maneira eficaz de compartilhar uma única cópia com várias pessoas, economizando recursos e alcançando novos leitores que buscam novas experiências literárias. Isso é importante para a disseminação da literatura e para encorajar a leitura, principalmente no público mais jovem.

Você também é ator, escritor e roteirista. Como essas diferentes expressões artísticas se complementam ou influenciam seu trabalho criativo?

Como todo artista, eu também busco inspiração em várias fontes para o meu trabalho. A literatura sempre foi uma grande influência, tanto em termos de narrativa quanto de estilos de escrita, mas minha atuação como ator e roteirista também desempenha um papel importante. “Mesmo se a Tempestade Chegar” não possui apenas inspirações dos animes, mas também referências ao mundo cinematográfico, especialmente com temática de super-heróis. Sou um entusiasta desse tipo de conteúdo, e esse consumo acaba respingando em tudo o que escrevo.

Para quem é a mensagem central que você espera transmitir aos leitores de “Mesmo se a Tempestade Chegar”?

Acredito que seja uma mensagem a todos nós, que devemos estar constantemente atentos para não cair em discursos de ódio e não apoiar ações prejudiciais em nome de um bem maior. Muitas vezes, aqueles que iniciam esses discursos não compreendem as consequências que podem gerar, e podemos ser nós mesmos a criar armadilhas ao aceitar essas ideias. Estamos todos suscetíveis a cair nessas ciladas, e ler um livro como este pode nos ajudar a reconhecer situações semelhantes que podem surgir em nossas vidas ou das pessoas à nossa volta.

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