A Banda Tona tem um nome que significa casca, pele, uma camada que envolve. Essa sensação, de uma música que vem de dentro indo de encontro com a realidade que vem de fora, é o que busca o projeto de mesmo nome que estreia com o single e clipe “Senhor do Bonfim”. Fazendo uma MPB carregada de elementos do rock alternativo, a banda se abre para dias melhores na faixa disponível em todas as plataformas de música digital.
Atualmente baseado em Niterói (RJ), o projeto surgiu da saudade. Essa palavra, tão brasileira, foi a raiz da busca de Cadu Canto (guitarra e voz) e Bruno Torquato (guitarra), amigos de bandas passadas e naquele momento fazendo intercâmbio na Holanda. Da reaproximação com a MPB, veio a vontade de mesclar rock a essa brasilidade. E de volta à terra natal, se uniram a Leonardo Quintanilha (bateria) e Jonatas Chaves (baixo) para criar as primeiras canções do que viria a ser Tona. Posteriormente, Yassine Lagraf (guitarra melódica) e Carlinhos Thomaz (bateria) assumiram os postos de Bruno e Leonardo, completando a atual formação da banda.

“Senhor do Bonfim” surgiu assim. Inspirada por Jorge Ben e Tim Maia, a faixa partiu do fim de um relacionamento e de uma busca por consolo, mas com um olhar positivo sobre aceitar o que faz bem – mesmo que a situação não pareça ideal. Com produção do vencedor do Grammy Latino Daniel Alcoforado, a faixa está disponível em todos os serviços de streaming e no canal do YouTube da banda.
Recentemente vocês liberaram o single “Senhor do Bonfim” como projeto de estreia na indústria musical. Poderiam nos contar um pouco da história dessa música e o que o fizeram escolhe-la como estreia?
JC: Essa música tem uma história que eu, Jonatas, gosto muito. Senhor do Bonfim surgiu enquanto nós estávamos preparando as guias para a gravação das primeiras demos. Na época, nós praticamente só tínhamos músicas reflexivas. Haviam músicas animadas mas nenhuma alegre. Íamos gravar no sábado e na sexta ainda haviam 3 ou 4 guias para preparar. No início do dia, porém, Bruno (que havia terminado um relacionamento recentemente) veio com os primeiros acordes e a primeira frase da música, como ideia tema. Nós amamos imediatamente a ideia e paramos tudo para trabalhar nela. Foi a primeira experiência de construção coletiva que tivemos. Antes alguém trazia uma melodia para apenas inserir a letra ou mesmo a música já pronta. Por conta dessa natureza coletiva e da energia para cima que ela possui, acreditamos que ela seria a estreia ideal para nós.

Com significado de envolvimento, casca e pele, como surgiu o nome “Tona”, e como ele define vocês?
JC: Nós por muito tempo não sabíamos definir o nosso trabalho. Tínhamos um nome difícil e que nunca agradou. Somente quando iniciamos a produção do EP e escolhemos quais músicas ficavam e quais saíam do repertório é que nossa identidade ficou mais clara. Nós queremos fazer músicas com letras que tragam alguma reflexão, uma forma de pensar diferente ou que faça aflorar algum tipo de sentimento em quem escuta. Nós queremos estar à flor da pele, trazendo sentimentos à Tona.
Naturais da cidade de Niterói (RJ), como foi que aconteceu o surgimento da banda e o que vocês acham do apoio do público em relação ao nascimento de novos grupos? O que mais encanta vocês na região?
CC: A banda surgiu ainda no final de 2015, quase como um reencontro de amigos (da época do ensino médio e faculdade). Disso, tivemos por muito tempo como formação base: Cadu Canto (voz e guitarras), Bruno Torquato (guitarras), Jonatas Chaves (contrabaixo) e Leonardo Quintanilha (bateria e voz). Passamos por algumas variações na formação, mas a base se manteve essa até o momento da gravação, em 2019, quando Bruno Torquato e Leonardo Quintanilha decidiram sair da banda. Eu, Cadu, acho a cidade de Niterói muito encantadora, inspiradora e acolhedora para a arte, pois há muita diversidade e expressividade cultural, mesmo sendo uma cidade relativamente pequena. Essa diversidade nos abriu portas para encontrar muita gente talentosa no meio artístico com os quais possuo muita proximidade hoje, como por exemplo os próprios Yassine Lagraf (guitarras) e Carlinhos Thomaz (bateria) que hoje são membros da banda, assim como tantos outros artistas que acompanho o trabalho bem de perto, cada um no seu estilo próprio.

Não é de hoje que a música tanto do Brasil como de fora, costuma explorar a mistura de estilos como o MPB de vocês que leva uns respingos de rock alternativo. É possível perceber um eclético harmonioso na essência final das músicas?
CC: Sim, de fato. Apesar do gosto musical dos membros (atuais e anteriores) da banda serem comuns quanto ao rock e mpb, ambos estilos musicais são muito amplos e em constante movimento, o que nos traz muitas referências ainda assim diferentes, do mundo todo. E vejo isso como algo muito positivo, pois, muito do que abordamos em nossas letras demanda um plano de fundo que reforce a mensagem final. Como falamos de reflexões e sentimentos (que geralmente são carregados de certa complexidade), as referências variadas acabam fornecendo um bom material para a composição, algumas para o conceito geral e outras para trechos específicos.
Antes de formarem a “Tona”, ambos os integrantes já eram amigos de longa data que estiveram em bandas anteriores. O que mais marcou o reencontro atual de vocês e de onde surgiu essa amizade entre Cadu e Bruno?
CC: A ideia de banda que pudesse misturar MPB e Rock surgiu ainda fora do Brasil. Em meados de 2014 a 2015, eu e Bruno fazíamos intercâmbio na Holanda. Nós já tínhamos estudado juntos no ensino médio e a nossa ligação musical já existia (toda baseada em rock e heavy metal pesado, acredite!). Ainda no intercâmbio e com muita saudade de casa, passamos a ouvir mais músicas brasileiras, eu com um gosto cada vez mais crescente pelo Milton e Clube da Esquina, e o Bruno por Djavan principalmente, e disso surgiu a proposta (imposta) do Bruno: “Quando voltarmos ao Brasil, teremos uma banda de MPB… com rock!” Algumas de nossas composições surgiram ainda nesse período e quando voltamos pra casa, Leonardo Quintanilha (que também estudou com a gente no ensino médio) comprou nossa ideia e chegou junto. Nossos primeiros “ensaios” foram na praia de Icaraí, em Niterói, com dois violões e um bongô. A coisa ficou um pouco mais séria quando Jonatas Chaves, meu amigo de faculdade, gostou do que ouviu (ainda no formato acústico) e assumiu o contrabaixo. A partir daí começamos a criar e ensaiar em estúdios, trazendo mais características dos instrumentos elétricos às músicas anteriormente iniciadas no violão.

Durante um tempo, vocês chegaram a fazer um intercâmbio na Holanda. Como músicos estrangeiros, tiveram muitos elementos que guardaram como inspiração encontrados nos outros lugares fora do Brasil?
CC: Dos que foram para o intercâmbio, eu tive mais contato com a música local atual. Destacaria principalmente os artistas Spinvis, Eefje de Visser e Clean Pete (todos passando pelo folk, pop rock e alguns elementos de música eletrônica, cantados em holandes). Mas, do lado de quem ficou pelo Brasil vale ressaltar que o Jonatas tem bastante conhecimento de bandas asiáticas como Asian Kung-fu Generation, K-On e Abingdon Boys School (todas japonesas), e o Yassine aprecia bastante alguns nomes latinoamericanos como Jorge Drexler (Uruguai), Natalia Lafourcade (México) e Dayme Arocena(Cuba), e africanos como Fatoumata Diwara e Amadou et Mariam (ambos do Mali). Embora não sejam muito claras em nossas músicas, certamente são referências de ideias que hora ou outra acessamos enquanto estamos tocando ou criando.
De volta ao solo brasileiro, a dupla passou a virar algo maior com a aproximação de Leonardo Quintanilha, Yassine Lagraf, Carlinhos Thomaz e Jonatas Chaves, que foi com quem deram início ao repertório da banda. Essa adição chegou a mudar o conceito da união da amizade de Cadu e Bruno como uma banda formada por amigos de longa data?
CC: Podemos dizer que sim, acaba mudando o conceito, muito pelo fato dos objetivos que vislumbramos, enquanto a banda e suas criações vão tomando corpo, e claro, isso não muda em nenhum pouco a amizade em si. Mas realmente, quando decidimos seguir de forma um pouco mais séria enquanto banda, tivemos de adotar outras posturas e lidar com mais assuntos que não conhecíamos antes. Quando estamos num clima de banda entre amigos, as coisas são mais soltas, e nem sempre objetivas. De fato, “perdemos” um pouco da descontração quase que constante para em troca aprender muito enquanto artistas, músicos e pessoas também. E é legal poder enxergar isso tudo de agora e ao mesmo tempo perceber o quanto ainda existe pra se aprender nesse meio.
Sabemos que “Senhor do Bonfim” foi inspirada em Jorge Ben e Tim Maia, além de um relacionamento que necesitou da busca por um consolo. Que mensagem e qual legado vocês esperavam passar com essa canção?
JC: Queríamos passar uma reflexão sobre relacionamentos. Mais importante do que ser feliz com alguém é ser feliz (antes). Atualmente a ideia do amor próprio tem ganhado cada vez mais espaço nas conversas e o intuito da música seria reforçar que é importante estar bem consigo mesmo. É o primeiro passo. Isso ajuda a evitar a armadilha de que o outro vai nos fornecer o que nos falta.