Com uma narrativa envolvente e repleta de temas relevantes para o público jovem, o romance “Contando Estrelas”, da renomada autora Luciane Rangel, mergulha em questões como superação, amizade e amor improvável. Com uma pitada de realismo mágico, a obra acompanha a jornada de Elisa, uma adolescente popular e egocêntrica, que vê sua vida transformada ao ser designada para fazer um trabalho voluntário com Fábio, um novo aluno peculiar que tem o hábito de criar origamis em formato de estrelas. À medida que se aproximam e compartilham experiências no hospital infantil da cidade, Elisa descobre o verdadeiro significado da amizade e do autoconhecimento, rompendo com estigmas de preconceito e superficialidade. Com mais de 40 livros publicados e uma legião de fãs, Luciane Rangel mais uma vez surpreende ao abordar temas como luto, amadurecimento e representatividade LGBTQIAPN+ de forma sensível e cativante.

Contando Estrelas aborda temas profundos como superação, amadurecimento e representatividade LGBTQIAPN+. Como esses elementos se entrelaçam na história e qual mensagem você espera transmitir aos leitores?

Na época que iniciei os primeiros rascunhos dessa história (lá para 2015 ou 2016) eu ainda sentia muita falta de mais histórias que abordasse esses temas, especialmente para um público mais jovem. Já existiam, claro, mas eu ainda sentia como sendo mais comuns enredos que limitavam os dilemas da adolescência a questões mais ‘simples’. Alguns destes temas foram abordados na história de uma perspectiva mais profunda, mas muitos também foram acrescentados de forma mais sutil.

O livro explora a dinâmica de Elisa e Fábio, inicialmente como “inimigos” e depois como algo mais. Como você abordou o desenvolvimento desse relacionamento e por que escolheu esse formato de “enemies to lovers”?

Como leitora de romances, o Enemies to Lovers sempre foi uma das minhas tropes favoritas (embora eu também ame demais um bom Friends to Lovers). Quando Fábio e Elisa surgiram em minha mente, com todas as suas diferenças de vivências e de percepções de mundo, não teria como existir entre eles, a princípio, nada diferente de um relacionamento ‘cão e gato’. Mas o processo no qual os dois se conhecem melhor e começam a se apaixonar passa pela convivência, pelo processo de se conhecerem além das primeiras aparências e, também, pela amizade.

A história envolve trabalho voluntário em um hospital infantil. Como essa experiência impacta os personagens e qual é a importância desse tema na narrativa?

A ideia do trabalho voluntário surge na história como uma exigência de uma professora, que quer que os alunos, divididos em duplas, escolham alguma causa ou instituição e realizem algum tipo de trabalho voluntário por lá semanalmente, pelo período de dois meses. Foi assim que Elisa e Fábio se viram obrigados a conviver um com o outro além dos muros da escola. Para o garoto, essa imposição representa apenas a continuidade de algo que ele já praticava. Mas para Elisa, é algo totalmente novo, que a tira de sua zona de conforto e a leva a conhecer realidades fora de sua bolha.

Origamis em formato de estrelas desempenham um papel significativo no livro. Qual é a simbologia por trás dessas estrelas e como essa escolha se conecta aos personagens e à trama?

Existem diversas lendas diferentes a respeito das estrelas de origami, chamadas de estrelas da sorte (‘Lucky star’). Desde os passos para a dobragem, em que o nó inicial significa as adversidades da vida, até a crença de que elas podem realizar desejos. Elas também simbolizam boa sorte quando presenteadas a alguém, além de desejos de amor e amizade eternos. Vários desses diferentes simbolismos foram trabalhados na trama, conectando os personagens em suas diversas relações, tanto no amor do casal protagonista quanto em suas ligações a personagens coadjuvantes.

A representatividade é um elemento essencial na literatura contemporânea. Como você abordou a representação LGBTQIAPN+ em “Contando Estrelas” e qual é a relevância desse aspecto na narrativa?

Desde o meu primeiro livro – publicado pela primeira vez ainda de forma virtual em 2007 – eu busco incorporar representatividade em minhas histórias, mesmo quando quase ninguém ainda falava a respeito disso. Em Contando Estrelas temos duas personagens fundamentais na história que, além de trabalharem no mesmo hospital onde parte da trama se passa, se conectam ao Fábio por uma ligação com o passado dele (não contarei qual é, para evitar spoilers dos futuros leitores).

Luciane Rangel
Luciane Rangel

A protagonista, Elisa, passa por um notável amadurecimento ao longo da história. Como você construiu esse arco de desenvolvimento do personagem e o que espera que os leitores absorvam dessa jornada?

Elisa é tida por muitos leitores, no início do livro, como ‘uma garota chata e mimada’. Mas a verdade é que um olhar mais atento consegue perceber que ela nunca foi uma pessoa ruim, era apenas uma muito fechada em sua própria bolha – como muitos de nós já estivemos em alguma fase da nossa vida, especialmente quando ainda se está em um processo de amadurecimento da adolescência. Fico muito feliz pelo fato de a maior parte dos leitores começar a leitura odiando a Elisa, ao decorrer do livro ir aos poucos percebendo as mudanças ocorridas durante a jornada dela na história, e terminar amando a personagem por quem ela se tornou, ou no caso, se descobriu ser.

A lenda japonesa das mil estrelas é incorporada ao enredo. Como essa lenda influenciou a trama e por que você escolheu integrá-la à história?

Eu comecei a escrever no final da adolescência, também como um passatempo, criando fanfics de animes e mangás. Então, quando passei a criar minhas próprias histórias, segui usando muitos elementos da cultura japonesa. O elemento escolhido para Contando Estrelas foi um que fazia também parte da minha vida, e também em um processo de ‘cura’, assim como foi para os personagens da história – embora, claro, em contextos bem diferentes. Os origamis entraram na minha vida em um momento em que eu passava por uma crise severa de depressão. Acho que posso dizer que descobrir esse novo hobby e, toda a cultura e as lendas por trás dele, foi algo que ajudou muito no meu processo de lidar com aquela fase turbulenta. Eu me apaixonei pelas lendas em torno da Lucky Star, e passei alguns anos com o desejo de inseri-la em alguma história, e quando as primeiras ideias do casal Elisa e Fábio vieram à minha mente, eu percebi o quanto eles se conectavam a essa simbologia.

O livro toca em temas sensíveis como luto e autoconhecimento. Como esses elementos se entrelaçam na narrativa e por que você os considerou importantes para a história?

São temas sensíveis e difíceis de lidar até mesmo quando já se é uma pessoa adulta. Mas que fazem parte das nossas vidas. No contexto do livro, são temas que marcam situações que ajudam a conectar não apenas os dois protagonistas um com o outro, mas também com eles mesmos.

O trabalho voluntário é uma parte fundamental do enredo. Você poderia falar um pouco sobre sua própria perspectiva sobre o voluntariado e como isso inspirou a inclusão desse tema no livro?

Na história, o voluntariado, sob o ponto de vista da Elisa, foi algo que ampliou a visão dela sobre desigualdades, sobre a existência de realidades diferentes da dela, e acredito que isso também é algo que se reflete na vida real. Especialmente em uma época em que o tempo é um dos recursos mais preciosos – e disputados – que temos, doar uma parte dele para de alguma forma ajudar qualquer causa importante, é algo que, além de ter sua importância no impacto direto na sociedade, também é uma experiência engrandecedora no desenvolvimento humano do indivíduo.

“Contando Estrelas” oferece uma reflexão sobre não julgar as pessoas e a importância do amor verdadeiro. Que mensagem você espera que os leitores levem consigo após ler esse livro?

É uma história, primordialmente, de amor romântico, mas que também fala sobre outras formas de amor. Sobre amizades, relações familiares, sobre empatia e respeito ao próximo. Sobre enxergar o outro além das primeiras aparências e de rótulos sociais. No livro, cada estrela dobrada representa alguma vida que, de alguma forma, os personagens conseguiram ajudar, seja por uma boa ação, por um conselho, ou por um suporte emocional em algum momento difícil. Acho que, mais do que uma mensagem, espero que os leitores terminem a leitura com a sensação do coração quentinho e que também desejem ser, assim como a Elisa e o Fábio, ‘contadores de estrelas’.

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