Felipe de Oliveira comenta aproximação com o público no álbum “Terra Vista da Lua”

Luca Moreira
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O cantor mineiro Felipe de Oliveira lançou, no dia 8 de outubro, o segundo álbum da carreira, intitulado “Terra Vista da Lua”, com participação especial de Laila Garin, bem como lyric video da faixa “Balada do Lado sem Luz”, releitura de canção composta por Gilberto Gil.

O renomado cantor baiano inspirou o título do disco “Terra Vista da Lua”, quando escreveu, na ocasião da chegada do homem à Lua, os versos da canção Lunik 9: “Poetas, seresteiros, namorados, correi / É chegada a hora de escrever e cantar / Talvez as derradeiras noites de luar”. O autor se referia ao desencanto da Lua, que, uma vez desbravada, não conservaria seu mistério para servir de inspiração aos artistas e apaixonados. A Terra, observada da Lua, inaugurava um ponto de vista que possibilitava analisar o seu inteiro, do lado de fora.

O projeto, assim, reúne sobretudo um repertório de canções inéditas de autores da nova cena musical brasileira, quase todos conterrâneos e contemporâneos ao intérprete mineiro. As faixas são ambientadas num cenário distópico que reflete sobre como posicionamos nossos afetos no mundo moderno, diante de questionamentos que perpassam o impacto dos recentes usos da tecnologia nas relações humanas, o paralelo entre evolução civilizatória, estética e ética, e os enigmas não alcançados pelo pensamento científico.

Tendo lançado recentemente seu novo álbum, para o público em geral, o que se pode esperar dele? 

Um trabalho honesto, fruto das questões mais pungentes de um intérprete, que arregimentou uma narrativa musical para dar conta delas. Um disco doído e, ao mesmo tempo, muito prazeroso. Um disco sem qualquer mensagem ou significado, mas que busca transmitir algo através da poesia. Um disco de insurgência.

Nos conte um pouco sobre quem é Felipe de Oliveira e seus projetos para o futuro.

Eu sou alguém que teve desejo pela arte desde muito novo e está, desde então, no caminho para encontrar a forma. A forma não nos vem todos os dias, todas as horas. A forma é rara. Tem dias em que a musa está adormecida. É preciso inspiração para encontrar a forma. O trabalho duro existe e nos demanda muito, mas sem a inspiração, não há trabalho duro que dê conta. É preciso muito mais coisas para encontrar a forma, mas eu não sei o que são. Estou tentando. Encontrei algumas coisas. Torço para encontrar mais e esse é meu projeto para o futuro.

Para chegar ao projeto final, você contou com apoio de diversas pessoas, assim como participações especiais. Qual o significado de cada contribuição obtida para se chegar à “Terra Vista da Lua”?

Terra Vista da Lua foi um trabalho conjunto. Sei que dizer isso é manjado e que todos os trabalhos são, mas é verdade e eu preciso dizê-lo. Os músicos envolvidos no processo (Barral Lima, André Milagres e João Paulo Drumond) dividiram comigo o processo criativo. Experimentamos as ideias de todos e construímos, coletivamente, os arranjos. Recebi, também, as participações de Laila Garin, Babaya Morais e Gabriel Mestro. Enfatizo, também, o trabalho competente do Henrique Soares na engenharia de som e mixagem. Todos que participaram deste trabalho levaram tudo às últimas consequências. Nada ficou pela metade. O que ficou inscrito no resultado final foi o relacionamento afetivo que se desenvolveu entre nós.

Como músico, como vocês vê a crescente da internet para a aproximação do artista com seu público?

Acho que não sei responder a essa pergunta, mas vou dividir algumas angústias. Por um lado, a facilidade de acesso que parte população conquistou com a internet é realmente interessante. Alguém do outro lado do mundo pode conhecer e ouvir meu disco, sem ser necessário possuir um suporte físico ou assistir a um show presencial, enquanto vemos diminuir, cada vez mais, o espaço para a cultura nas mídias tradicionais. Ao mesmo tempo, a internet não é exatamente uma alternativa mais fácil. Ela pode ser completamente árida. Acho que temos que tomar cuidado com o discurso que considera apenas o lado positivo da chegada da internet. Ela é uma ferramenta e, como qualquer ferramenta, pode ter diferentes propósitos e ser utilizada de diferentes maneiras. Não podemos nos esquecer de haver um algoritmo que, hoje, está a serviço das formas mais atuais de apresentação do capitalismo, que explora mais o nosso trabalho cognitivo do que o nosso trabalho físico. Ele lucra, hoje, com nossos likes e nosso comportamento na internet. Tudo o que fazemos vira produto. Embora seja um sistema que vende diversidade, estamos caminhando pra uma homogeneização cada vez maior. A exploração permanece e continuamos favorecendo quem já tem. Há que se ter cuidado com essas falácias.

Qual é o maior diferencial que podemos encontrar em seu segundo álbum de carreira, intitulado “Terra Vista da Lua”?

Acho que as singularidades estão ocultas. Elas só são singularidades justamente por não termos plena clareza delas. Não saberia dizer o que diferencia este disco especificamente, mas posso dizer que ele é um disco insurgente. Um disco que não cedeu aos imperativos do nosso tempo. Um disco que está votado apenas ao desejo de quem o fez. 

A música tem o poder de nos transmitir diversos sentimentos cada um de uma maneira diferente. Como músico, como você denominaria o conceito de música?

Eu diria que a música nos permite ir aonde a linguagem não alcança.

Além do álbum lançado recentemente, quais novos projetos podemos esperar de Felipe de Oliveira?

Estamos, agora, em processo de montagem do show!

Estrearemos online, em novembro e, no princípio do próximo ano, faremos a estreia presencial. Não sabemos ainda como será a questão da retomada das circulações presenciais, mas espero que possamos levar o novo show ao máximo de lugares possíveis!

A cada dia a gente amadurece mais em todas as nossas áreas da vida. Sabendo que a internet é algo eterno, o que você gostaria de deixar de recado para o seu eu do futuro saber do seu eu do presente?

O eu do presente quer cantar a vida inteira. Não sei o que meu eu do futuro vai desejar e respeito as mudanças de rota que ele eventualmente trace, mas é bom que ele se lembre que, ao menos um dia, ele foi alguém que queria cantar a vida inteira.

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