Em entrevista para o site, o cantor franco-brasileiro, Fábio Jorge conversou um pouco sobre seu álbum “O Tempo”, lançado ainda este ano. O 5o. projeto da carreira possui 10 faixas e contou com a consultoria artística de Thiago Marques Luiz, que lançou o cantor há 17 anos, os arranjos de base ficaram a cargo do multi-instrumentista Joan Barros, já a gravação, mixagem e masterização são de Rovilson Pascoal, do Estúdio Parede e Meia.
No repertório canções de diversos músicos e compositores consagrados, como: “Cuide-se bem” e “Nosso fim, nosso começo” (Guilherme Arantes), “A paz” (João Donato e Gilberto Gil), “Pra fazer o sol adormecer” (Gonzaguinha), “Canção do Medo” (Gianfrancesco Guarnieri e Toquinho), “Porta estandarte” (Geraldo Vandré e Fernando Lona), que conta com participação especial da cantora mineira Consuelo de Paula, entre outras.
Fábio Jorge já lançou 4 projetos em francês, sendo este o primeiro projeto com canções em português, tendo somente a faixa “La Mamma”, conhecida pela interpretação de Charles Aznavour, no usual francês, por se tratar de um tributo e uma prece à sua mãe. O intérprete pretende voltar aos palcos assim que possível e espera que o público receba com carinho o projeto. Confira a entrevista completa:
Lançado em setembro deste ano o álbum “O Tempo”, seu repertório nos levou a vários estilos musicais mesclando talentos de vários componentes. Como foi realizada essa seleção?
Essas escolhas vieram de uma grande reflexão sobre o que houve no mundo a partir de 2020 mais especificamente com a pandemia, as perdas, medos, angústias, desespero coletivo. Porém no meio da criação do meu disco havia já a esperança da vacina, do controle desse mal.
As músicas escolhidas têm a ver com um emaranhado de sensações relativas ao medo, mas também a esperança. Como sou um bom conhecedor do cancioneiro brasileiro e tenho pessoas ao meu lado que são maravilhosas, como o produtor Thiago Marques Luiz, que me auxiliou com a consultoria artística, nós conseguimos reunir um repertório bastante eclético, de várias épocas da música brasileira. A única canção francesa foi uma homenagem à minha saudosa mãe, que nos deixou em razão dessa doença horrível.
De acordo com o que nos foi divulgado, esse álbum veio com a ideia de refletir um pouco o momento difícil de pandemia que passamos. O que o fez chegar à conclusão de que “O Tempo” seria o álbum ideal para esse período?
Eu fiquei um ano e meio sem cantar, e isso estava me atrapalhando muito… parafraseando Nietsche, “A vida sem a música seria um erro”, e eu decidi me recolher em estúdio para expor meus sentimentos com relação a esse terrível momento mundial. A dor era imensa, o desespero era visto todos os dias, eu precisava falar ao Brasil sobre isso na minha língua materna. “O tempo” é um questionamento amplo do que fizemos, fazemos e faremos dele a partir de agora…
Após ter lançado quatro projetos em francês, esse está sendo o seu primeiro em português. Como foi ter essa recepção com o público brasileiro?
Eu comecei minha carreira cantando em português, e com pequenas inserções em francês. A resposta do público foi muito bacana na língua francesa, acho que pela minha facilidade, está no sangue não é? Então criei 4 álbuns de música francesa mas eu queria há algum tempo mostrar algo em português, porque sou um exímio colecionador e admirador da música brasileira, uma das melhores do mundo.
Esse disco novo tem tido uma receptividade muito interessante do público, é uma novidade, e acho que as escolhas também foram muito felizes. Na verdade estou muito feliz e surpreso com o progresso do álbum…
Existe uma faixa especial neste álbum que é a “La Mamma”, um tributo especial a sua mãe que foi interpretada por Charles Aznavour. Como é o seu trabalho com o mesmo?
Gravei algumas músicas do grande mestre Aznavour em meus álbuns anteriores, além de interpretar outras que nunca gravei em shows, além de ter criado em 2014, na Sala Funarte, um espetáculo dedicado às suas canções. “La mamma” eu nunca havia cantado, me foi sugerida por Thiago Marques Luiz e relata o ritual dos filhos perante à iminente morte da mãe, com uma poesia muito bonita, porém uma música bastante triste. Mesmo tendo um texto mais melancólico e tristonho, eu encarei de fato como uma prece à minha amada mãe, dona Renée.
Uma curiosidade sobre a sua criação que influenciou muito em sua carreira, foi o crescimento junto a família de sua mãe que tem origens francesas. Na sua opinião, quais são as principais diferenças artísticas entre a música francesa e a portuguesa (brasileira ou europeia)?
No Brasil acredito haver uma imensidão de ritmos…é uma pluraridade sem tamanho. Temos todo tipo de influências de fora, inclusive. Mas o samba, por exemplo, esse é só daqui. Há um charme, um cunho muito realista no cancioneiro francês que me atrai muito, porque eu sou um apaixonado pelo teatro, e as músicas francesas têm muito dessa teatralidade que eu considero pra mim, um elemento forte para entrega de uma canção para o público. Seja em disco ou em shows.
Além de artista, o que mais devemos saber sobre Fábio Jorge?
Eu nunca imaginei ser artista. Eu sempre fui um trabalhador com carteira assinada, desde os meus 15 anos de idade, e meu pai, maravilhoso, mas rígido, exigia que a gente estudasse e trabalhasse desde muito cedo, para garantir o futuro através de leis trabalhistas, aposentadoria, etc. Vim começar a cantar em 2004, impulsionado pela empolgação do iniciante, na época, produtor Thiago Marques Luiz, quando me ouviu cantar num CD demo que gravei num karaokê…rs… e a partir daí surgiu o Fábio Jorge por essas bandas.
Para se chegar ao resultado atual do álbum, você contou com a participação de muitas pessoas. O que cada uma dessa contribuição agregou em seus resultados finais?
Em primeiro lugar os arranjos de base (violões, percussões, contrabaixo e bateria) foram executados lindamente por Joan Barros, e depois fomos analisando o que cada música poderia ganhar como adorno. Duas das canções foram gravadas somente voz e piano com o excelente Alexandre Vianna e também resultaram muito positivamente. Houve a participação especial do bandoneonista Thadeu Romano numa delas, que eu amo, chamada “Canção do medo” (Gianfrancesco Guarnieri/Toquinho), e uma guitarra bacana do nosso grande parceiro Rovilson Pascoal, que captou tudo, mixou e masterizou o trabalho, em seu estúdio Parede e Meia.
Além do álbum, quais são suas expectativas para o futuro?
Eu sou um eterno aprendiz. Tenho muitas idéias e vontades, e isso me impulsiona a criar projetos na cabeça que eu tenho certeza, modéstia à parte, que ficariam muito bacanas. Não revelo porque não sei o que será de amanhã, mas posso adiantar que há inúmeras idéias a serem colocadas em prática, tanto em português como em francês.
Como o público tem recebido suas novas canções?
É muito curioso porque recebo comentários de muita gente, claro, como todo artista, e cada um tem uma opinião em relação às predileções. Quando vc jamais imagina, um chega e diz que preferiu essa ou aquela canção, mas há sim acredito que duas delas que é unânime como as preferidas.
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