Elisa Marques, escritora goiana, adentra o universo emocional de despedidas e redescobertas amorosas em seu livro de estreia, ‘Até minha terapeuta sente falta de você’. Com uma coleção de 72 poemas, a obra mergulha na narrativa intimista do término entre duas mulheres, oferecendo uma visão autobiográfica dessa jornada.
Em uma entrevista, Elisa compartilha a experiência íntima por trás do processo de escrita, destacando a influência de seu avô e a transição de seu estilo poético. Inspirada pela contemporânea Rupi Kaur, ela acredita no poder curativo da escrita e explora o amor romântico como tema central. Além disso, revela planos futuros, incluindo a tradução do livro para o inglês e um próximo projeto audiovisual. Com uma abordagem estética única, Elisa Marques promete envolver os leitores em sua obra melancólica e contemporânea, marcando o início de uma promissora carreira literária.
Seu primeiro livro, “Até minha terapeuta sente falta de você”, é altamente autobiográfico e repleto de emoções intensas. Como foi a experiência de transformar essas emoções em poesia?
Foi a partir dessa perturbação emocional que despontei na escrita. Viver simultaneamente a morte de um amor e meu nascimento enquanto poeta foi um processo desgastante. Na época eu ainda não tinha o discernimento para saber distanciar minha obra de mim, então por muitas vezes escrever essa história exigia mais do meu emocional do que eu estava preparada.
Você mencionou que a poeta contemporânea Rupi Kaur é uma inspiração. De que forma a arte da escrita, como expressa por Kaur, influenciou sua própria abordagem à poesia?
A Rupi não traz leveza nas palavras, não pisa em ovos, tem a língua afiada e uma escrita igualmente incisiva. O tom minimalista e brutal desse livro veio daí. A honestidade com que ela escreve seus versos me deu coragem para ser o mais visceral possível na minha abordagem à poesia.
O título do seu livro, “Até minha terapeuta sente falta de você”, é intrigante. O que o título representa para você e como se relaciona com os temas abordados na obra?
O título é uma declaração da falta. É tamanha que transfiro essa saudade para outras pessoas. É como se todo mundo sentisse a falta que aquela pessoa faz na minha vida – até a terapeuta. O título já diz que aquela pessoa não está mais lá e esse é o tom com que sigo durante toda a obra.
Você mencionou que o próximo livro seguirá o caminho da “autoficção”. Pode compartilhar um pouco sobre o que os leitores podem esperar deste próximo projeto?
Meu próximo livro vem com menos dor de cotovelo e mais romantismo. Tenho mais consciência dos recursos da língua e brinco mais com as palavras e seus significados. Os poemas agora também têm título. É um livro muito romântico e sensual, sem perder a melancolia que já é minha característica na escrita.
Sua influência literária parece ser transmitida por gerações, com seu avô desempenhando um papel importante em seu amor pela leitura e pela escrita. Como o legado literário de seu avô influenciou seu próprio trabalho?
A vida toda eu só ouvi falar do meu avô. Conheço o rosto dele a partir de três fotografias, então todas as lembranças que eu tenho sobre ele, não são minhas, foram construídas pelos olhos de outras pessoas. Eu só o conheci de fato depois que ele morreu, e a escrita sempre era citada como parte essencial da vida dele. Ele não existia sem a escrita, assim como eu não existo quando não escrevo. Reconhecer essa paixão em outra pessoa da minha família fez eu me cercar de livros, canetas e páginas em brancos. O legado dele foi uma espécie de validação de que eu também podia transformar a escrita em profissão.
O uso de letras minúsculas no início de frases e pontos finais em seus poemas é uma escolha interessante. Você pode explicar a significância dessa estilística e como isso afeta a leitura e interpretação dos poemas?
O ponto final para mim é um lugar de respiro no livro, onde o leitor é induzido a parar por alguns segundos a mais do que o habitual para ouvir o silêncio que aquele poema deixou. Sinto que o livro exigia esses espaços vazios. E a escolha pelas letras minúsculas foi uma tentativa de lutar contra a rigidez que a formação em jornalismo trouxe para a minha escrita. Esse desapego das normas exemplifica também a coragem com que nos entregamos ao primeiro amor. Essa falta de medo convertida em fragilidade.
Você tem planos de traduzir seu livro para o inglês. Como você acha que a poesia contemporânea, com suas nuances de linguagem e cultura, pode ser traduzida sem perder sua essência?
O estudo da tradução poética é muito complexo. É importante que se mantenha a honestidade do texto sem que se perca a força dos versos. O poeta escolheu aquelas palavras por um motivo. Acho que o maior desafio do tradutor é honrar essas escolhas.
Além da escrita, você também mencionou um projeto audiovisual. Como você planeja combinar literatura e cinema em seus projetos futuros?
Eu também trabalho com escrita de projetos culturais para leis de incentivo. Tenho um filme aprovado em que o roteiro é uma adaptação do meu livro, por exemplo, e outro em que irei dirigir uma web série documental sobre a vida e obra de alguns escritores brasileiros da literatura contemporânea. Em futuros editais pretendo continuar sempre levando a literatura comigo.
Qual mensagem ou emoção mais profunda você espera que os leitores extraiam de “Até minha terapeuta sente falta de você”?
Sofra e sorria sabendo que esse sentimento vai passar, e que o importante é o que você faz enquanto ele não passa.
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