Em meio a batalhas ancestrais, poderes elementares e revelações místicas, a trilogia A Saga Draconiana, do escritor gaúcho Antonio G. Olyver, apresenta a trajetória de Sophie Dupont — uma jovem que descobre fazer parte dos Drakkars, descendentes de dragões lendários. Portadora do raro elemento da Luz, ela se torna peça-chave para impedir que forças aprisionadas há milênios despertem e tragam a extinção da humanidade. Unindo mitologia, aventura e crítica ambiental, a obra mergulha o leitor em um universo onde salvar o mundo exige, antes, descobrir quem se é de verdade.
Ao descobrir seus poderes e sua verdadeira origem, Sophie também se depara com o peso da responsabilidade e do perigo. Como foi, para você, construir uma personagem que, apesar de jovem, precisa lidar com escolhas tão decisivas para o destino do mundo?
Criar a Sophie foi um trabalho lento, como uma semente germinando no meio do caos. Ela é jovem, sim, mas carrega dentro de si um fardo maior do que ela mesma; e isso exige que ela amadureça não por vontade, mas por necessidade, no centro de um turbilhão de coisas. Para mim, foi essencial achar um ponto de equilíbrio real, verossímil, entre a fragilidade de alguém que ainda está amadurecendo com a força latente de quem nasceu para algo grandioso. Isso me permitiu explorar um crescimento orgânico, onde a dor, o amor e as decisões moldam mais do que qualquer poder sobrenatural.
A Saga Draconiana traz uma protagonista com o elemento da Luz, algo raro e poderoso. O que esse elemento representa para você em termos simbólicos? De que forma ele reflete questões mais profundas sobre identidade, equilíbrio ou propósito?
Na Saga, o Elemento Luz é a união (ou a origem) de todos os Elementos; porém isso é, realmente, algo mais profundo. A Luz, para mim, não é apenas claridade. É consciência. É o poder de enxergar a si mesmo e ao outro com lucidez, mesmo nas sombras mais densas. Dar esse elemento à protagonista foi também para provocar uma reflexão: Sophie é chamada a iluminar não só o mundo ao redor, mas também os recantos esquecidos de si mesma, de seus companheiros. Ela carrega a responsabilidade de revelar verdades, equilibrar extremos e, acima de tudo, aprender que a luz mais forte também projeta sombras mais densas. De início ela teme o próprio Elemento, a própria descoberta, a própria mudança, mas com o tempo ela entende o quanto é poderosa essa mudança se abraçada completamente.
O universo dos Drakkars mistura mitologia, fantasia e temas do mundo real, como a destruição ambiental. Como você chegou à decisão de abordar questões tão atuais por meio de uma narrativa fantástica?
A fantasia é uma lente que amplia o real. Sempre enxerguei o mundo com olhos simbólicos, e a destruição ambiental, por exemplo, não é só uma crise ecológica, é um reflexo da ruptura da essência humana com sua origem natural. Escolhi tratar desses temas porque acredito que a fantasia não precisa ser apenas fuga. Ela pode ser (e talvez sempre precise ser) um espelho mágico, uma forma de fazer o leitor sentir na pele o que talvez ele já tenha deixado de ver com os olhos. E, para mim, a literatura, seja ela ficção ou não, precisa melhorar o leitor de alguma forma. Eu sempre espero que o meu leitor termine o livro um pouco melhor como ser humano do que quando começou. Por isso meus livros têm na essência também a função de ensinar virtudes e trazer a reflexão.
Adrian, Alexa, Tiamat e tantos outros personagens carregam traumas, dilemas e ambivalências. De que maneira você equilibra a ação e o ritmo da fantasia com a profundidade emocional de cada um deles?
Para mim, personagens são como expressões de partes da alma humana. Adrian, Alexa, Tiamat, Aimée, Helena, e até mesmo a poderosa Chaerin… cada um deles representa forças em conflito, traumas mal resolvidos, amores mal compreendidos. Helena, por exemplo, que é do Elemento Fogo, uma Drakkar Vermelha, tem um problema sério com a ausência e a falta de reconhecimento de seu pai, que é seu herói. Eu nunca quis que eles fossem apenas ferramentas da trama, eles são a própria história. Acho que o maior segredo é fazer com que cada cena de ação carregue também uma camada de emoção. Que uma luta seja, ao mesmo tempo, uma batalha contra o mundo e contra os próprios fantasmas. E para isso eu escrevo em primeira pessoa. Gosto de colocar o leitor no lugar da personagem. Fazê-lo sentir cada sentimento. Gosto de manipular as emoções do leitor nesse sentido.

Você cresceu sonhando em desenhar mangás e encontrou na escrita um novo canal para sua criatividade. Quais elementos da cultura japonesa — como nos animes ou RPGs — ainda influenciam seu jeito de construir tramas, personagens ou conflitos?
A cultura japonesa moldou meu imaginário desde cedo. O senso de honra, amizade, justiça, coragem, os dilemas morais, os arquétipos profundos que habitam animes, RPGs e tokusatsu (principalmente), tudo isso está enraizado em mim. Animes como Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon ou Yuyu Hakusho, e tokusatsu como Changeman, Flashman e Kamen Rider, eles influenciaram a construção dos vínculos entre os personagens, os arcos de redenção e até mesmo a estética dos confrontos. Essa influência está na raiz da minha escrita, de onde saem emoções cruas e virtudes bem definidas e, claro, cenas de ação de tirar o fôlego.
Sophie e os Drakkars enfrentam não apenas batalhas externas, mas dilemas internos que desafiam suas próprias crenças. Na sua opinião, por que é tão importante explorar esse conflito interno mesmo em histórias de fantasia?
Ah, essa é uma pergunta ótima, e a resposta é interessante, porque todo dragão que enfrentamos do lado de fora tem uma contraparte dentro de nós. Se a fantasia não toca no coração humano, ela vira espetáculo vazio, sem sentido, inútil. O conflito interno é o que dá peso às escolhas. É o que transforma um herói em alguém real, e alguém comum em herói. Gosto de mostrar que até os mais poderosos tremem, hesitam, erram. Porque é nisso que o leitor se vê, e é daí que vem o verdadeiro aprendizado.
Com uma narrativa que questiona a relação entre os seres humanos e o planeta, você propõe reflexões sobre justiça e desequilíbrio. Qual mensagem ou alerta você gostaria que os leitores levassem consigo após mergulhar nesse universo?
A Saga Draconiana é, antes de tudo, um lamento e um apelo. Um lamento pelo que estamos perdendo, inclusive para além das florestas, rios, espécies, harmonia, mas o próprio sentido em ser humano; e um apelo para que a humanidade desperte antes de ser tarde. Quero que o leitor saia da história se perguntando: “Que tipo de legado estou deixando? Que forças, dentro de mim, preciso despertar para proteger o que amo? Para seguir em frente?” A justiça, para mim, não é punição. É restauração. É reconexão. E isso é levado ao leitor diversas vezes durante A Saga Draconiana, de como se reconectar com a vida, com a natureza, no sentido de existência.
Publicar um livro de fantasia no Brasil ainda é um desafio, especialmente com um universo tão próprio como o seu. Como tem sido, para você, esse percurso como autor nacional de literatura fantástica, e que conselhos daria a quem sonha em trilhar esse caminho?
Com toda a liberdade poética: É um caminho cheio de dragões! Mas cada leitor que se encanta, cada mensagem dizendo “eu me vi nessa história”, ver que a Saga Draconiana tem uma taxa acima de 90% de reviews 5 Estrelas, isso vale mais do que qualquer prêmio. O Brasil ainda está acordando para a potência da fantasia feita aqui, com nossa voz, nossa escrita, nossos símbolos. O conselho que sempre segui, e que, naturalmente, passo a frente é: Persista (Sei que parece um clichê repetitivo, mas está sempre sendo dito porque é a mais pura verdade). Estude. Refine sua escrita. Mas, acima de tudo, acredite que sua visão de mundo tem valor. Construa seu universo como alguém que está erguendo um templo, um lugar onde outros possam entrar e se sentir em casa. Acredite na sua história antes de todo mundo.
Acompanhe Antonio G. Olyver no Instagram