Manolo Rey

Com 37 anos de trajetória, Manolo Rey relata evolução da dublagem brasileira nos últimos tempos e momentos que marcaram a indústria

Luca Moreira
8 Min Read
Manolo Rey

Descubra como Manolo Rey, lendário dublador brasileiro, transformou sua paixão pela arte em uma carreira emblemática, dando voz a personagens icônicos como Homem-Aranha e Luigi. Desde suas primeiras experiências em 1987 até sua visão sobre a evolução da dublagem e o impacto das novas tecnologias na indústria, Rey compartilha insights valiosos sobre seu trabalho e a transmissão de seu legado artístico para a próxima geração, incluindo sua filha, Bruna Laynes. Uma jornada de arte, emoção e desafios em um mundo cada vez mais digital.

Manolo, primeiramente gostaria de te agradecer pela oportunidade, e começar dando uma pequena retrospectiva do tempo em que você já está na dublagem. O que o levou a escolher trabalhar como ator e dublador?

Desde criança, sempre quis ser ator.  Meu pai me aconselhou a ser jogador de futebol e cheguei a treinar no infantil do Botafogo, em Marechal Hermes.  Virei goleiro.  Mas a minha vocação era mesmo pela arte.

É inegável afirmar que desde sua popularização no Brasil, a dublagem já passou por diversas fases em sua trajetória, incluindo o surgimento de dubladores mais jovens, como são os casos das crianças que hoje já estão inseridas no mercado. Comparando a época em que iniciou em 1987 até o momento, como enxerga esses avanços que vêm ocorrendo na arte e principalmente a nova geração de artistas que está chegando?

Há algum tempo, os papéis infantis eram feitos por jovens, com vozes leves.  Havia muito mais vozes graves no elenco.  Há proporção era favorável às vozes graves.  Isso foi mudando e se adequando à realidade brasileira. Nos EUA é comum vermos um ator com voz muito grave, voz de Cid Moreira, entende?  Aqui, o Cid Moreira tinha destaque justamente por ter uma voz diferenciada.  Não era comum.

Manolo Rey - Will Smith
Manolo Rey – Will Smith

Durante sua carreira, você chegou a dar voz a personagens icônicos como Sonic, Luigi, Homem Aranha, Gaguinho, entre outros que marcaram a vida de muitos fãs da cultura pop. Qual é a sensação de saber que faz parte da história de personagens que alcançam tantas pessoas, principalmente a arte sendo considerada algo praticamente imortal?

É muito gratificante.  Participei da infância de muitos, e me tornei uma referência.  Há uns 20 anos fiz uma camisa com a frase que mais ouvia em eventos, quando eu falava com alguém: “Nossa, parece que eu estou vendo dublado”.  Usei em um evento no Rio de Janeiro uma camisa com uma TV e os seguintes dizeres: “Sorria, Você Está Vendo Dublado”.

Logo no início dos anos 2000, você começou a dublar um personagem que se tornou bastante marcante em sua carreira – o Homem Aranha, na versão interpretada originalmente pelo Tobey Maguire. Qual é a importância desse personagem na sua carreira e a sua opinião em relação às novas versões lançadas posteriormente na franquia?

Esse personagem é muito importante.  Foi uma transformação na dublagem para cinema.  Até aquela época, dublávamos no máximo 5 filmes por ano para cinema, sempre censura livre.  A partir do Homem Aranha isso começou a mudar.  Atualmente dublamos mais de 100 produções por ano para cinema.

Manolo Rey - Tobey Maguire
Manolo Rey – Tobey Maguire

Além do trabalho como dublador, você chegou a fazer uma participação na novela “Roque Santeiro” em 1985, onde contracenou com Lima Duarte. Apesar de ter se consolidado fortemente na dublagem, sente saudades de estar em frente às câmeras?

Eu não investi mais no trabalho diante das câmeras.  É muito difícil.  Muitos dizem que a dublagem é um mercado fechado (até é), mas não é impossível de entrar.  Posso falar algumas dicas simples.  Mas e para a TV?  Como se entra?

Falando em câmeras, no ano de 2016 foi lançado o canal “Quem Dubla”, onde juntamente com os também dubladores, Matheus Perisse, Érika Menezes, Ana Elena Bittencourt e a sua filha, também dubladora, Bruna Laynes, comentavam um pouco do dia a dia da profissão de vocês. Como surgiu a ideia de se aventurar pela plataforma?

Eu tinha criado um site, com banco de dados de atores/dubladores/filmes, e se chamava “Quem Dubla”.  Foi a partir de um blog do Miguel Rosenberg.  Eu tive a ideia de dar o nome “Quem Dubla”, e ele usava “Quem Dubla Quem”.  Falei com ele, se ele se incomodaria de ter um nome parecido (o que é comum na dublagem, vide os nomes das empresas), e ele aceitou de boa.  Daí surgiu o site.  Quando a minha mãe faleceu, entrei em depressão profunda e busquei uma atividade que me ocupasse.  O Gustavo Veiga cuidava do site “Quem Dubla”, e eu tive a ideia de fazer vídeos para o site, porém, ele me desaconselhou dizendo que ia tomar muita banda e que eu não ganharia nada com isso.  Sugeriu o YouTube, pois eu seria remunerado.  Olha, até recebi alguma coisa, mas não pagou 1% do que gastei.

Falando na Bruna, hoje tanto você como ela compartilham da mesma profissão, com sua filha iniciando no início dos anos 2000, ainda criança. Como é a sensação de poder ter transferido essa arte para sua filha e o que isso representa como pai?

Eu me sinto realizado, porque ela tem a força dela, que ela mesma conquistou, não teve minha proteção.  Nunca passei mão na cabeça, nem dela, nem de ninguém que orientei.  Sempre busquei auxiliar os novatos, encaminhar, passar minhas técnicas.  Com ela não foi diferente.  Mas, para ela dublar alguma coisa comigo, tinha que me convencer.  Chegou a chorar, por exemplo, em “Pretty Little Liars”, pois eu não via ela dublando a Sasha Pietersen.  Fui convencido por outros a aceitá-la.  Mas, enfim, é uma atriz que escalei pouco em minha carreira como diretor.  Pode investigar.

Abordando um assunto mais recente para finalizarmos, no ano passado muito se falou sobre o avanço da inteligência artificial, e esse assunto acabou sendo muito debatido devido risco de ser utilizado em dublagens ou em outras funções na indústria audiovisual. Além do protesto de alguns dubladores no Brasil, tal assunto levou a uma greve de roteiristas em Hollywood. Qual a sua opinião sobre o andamento dessa situação e acredita que a profissão esteja segura no momento?

A Inteligência Artificial existe há muito tempo.  O problema é que estamos em meio a outra revolução industrial.  E tentam emplacar várias ferramentas inúteis, que não vão pegar.  Uma que ajudaria bastante seria para os deficientes visuais, para poderem ler qualquer livro com IA.  Talvez, com o tempo, seja aplicada em narrações e áudio descrições, mas em dublagem é muito difícil.

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