CEO da Stenna, Carolina Vargas comenta cenário do entretenimento na pandemia

Luca Moreira
13 Min Read
Foto: Divulgação

Carolina Vargas é fundadora e CEO do grupo Stenna, que reúne quatro empresas do segmento de distribuição, intermediação e agenciamento de conteúdo. Empreendedora e investidora, possui uma carreira dinâmica no mercado audiovisual nacional e internacional com quase 15 anos de experiência na área e amplo conhecimento em distribuição a nível mundial de conteúdos sob demanda (VOD), aquisição, plataformas, canais lineares e streaming. Também é CEO dos canais ZooMoo Kids e Woohoo, que juntos somam mais de 18 milhões de assinantes com presença nas maiores operadoras de TV por assinatura do Brasil.

Nascida em São Paulo (SP) no ano de 1986 e descendente de família italiana, Carolina desde pequena sempre desenvolveu seu lado empreendedor, e, com dedicação, cursou economia com pós-graduação em estatística e econometria na Universidad Europea de Madrid, uma das principais e maiores instituições particulares da Espanha.

Com um MBA em progresso na área de direito da propriedade intelectual na PUC-Rio, Carolina também já fez pós-graduações em direito digital na Escola Paulista de Direito e arbitragem jurídica na PUC-SP; extensão em direito do entretenimento e propriedade intelectual na Damásio Educacional; mestrado profissional em administração pela FGV-SP; extensão de comunicação na Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a USP; e formação de mediadores e conciliadores na Escola Paulista de Magistratura. Confira a entrevista:

Fundadora do grupo Stenna, você já está há mais de 15 anos na indústria de entretenimento focada na distribuição de conteúdo. Nas últimas décadas, os streamings estão se tornando aparentemente um grande investimento dos empresários. Qual é a sua visão em relação a essa tendência? As operadoras por TV a cabo podem correr o risco de buscar uma conversão de mercado?

O consumo de conteúdo por streaming já vinha crescendo muito nos últimos anos e deu um salto gigantesco com o início do isolamento social, onde as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e com opções reduzidas de lazer. Esse ‘boom’ acendeu um alerta em muitos produtores de conteúdo, que passaram a buscar plataformas para exposição de suas produções; e de programadoras, que decidiram lançar seus próprios serviços para atender seu cliente final diretamente. A TV por assinatura tradicional tem se reinventado, buscando novas formas de entrega de conteúdo e também criando suas próprias plataformas de streaming. Entendo que há espaço para todos que saibam se adaptar e entender as novas demandas de um consumidor cada vez mais seletivo e diverso.

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Identificando o quadro presente de apresentação em programas de televisão e jornalismo, estamos tendo a oportunidade de observar o aumento da presença feminina atrás das bancadas dos matutinos. O machismo vem sendo melhorado em alguns quesitos do meio televisivo?

Vejo cada vez mais as mulheres em posição de destaque e protagonismo em vários setores da televisão. Mais do que contratações femininas, precisamos de políticas internas que avancem efetivamente a pauta dentro de cada empresa. Apenas com ações práticas e estruturais vamos alcançar a equidade de gênero em todas as áreas da sociedade.

É inevitável concordar que todo tipo de empreendimento é uma aposta de risco e conhecimento de área de atuação, e a indústria de telecomunicação não é diferente. A respeito da criação de sua empresa e dos diversos contratos grandes grupos como SBT, Record, RedeTV, e a grande aquisição do canal Infantil ZooMoo Kids, qual é a sua leitura ao refletir do nascimento da Stenna ao o que ela é hoje?

A Stenna mudou muito desde a sua fundação, em 2014. Começamos como uma empresa de consultoria audiovisual e distribuição, e hoje, depois de muito esforço, nos tornamos um conglomerado de produção, distribuição, representação e consultoria audiovisual nacional e internacional. Este é um mercado que está em constante evolução e transformação, e tenho muito orgulho das equipes que com muito talento trabalham conosco frente a estes desafios.

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Atualmente, você também é proprietária do canal ZooMoo Kids, um canal que conta com uma programação voltada exclusivamente a crianças em idade pré-escolar. Essa faixa etária tem sido objeto de estudo durante alguns anos pelo governo e pelas companhias de entretenimento, afetando inclusive os responsáveis que parecem estar tendo um olhar mais digamos “criterioso” em relação ao conteúdo de alguns anos atrás. Você concorda que a superproteção vem sofrendo um aumento? Se sim, porque isso tem acontecido?

Vivemos num mundo em constante transformação social, política, cultural e econômica. Concordo que a sociedade esteja mais criteriosa quanto ao entretenimento digital para as crianças e vejo isso como algo muito positivo. Hoje, com a popularização da internet, todos podem criar conteúdo infantil e o uso de dispositivos móveis está acontecendo cada vez mais cedo entre os pequenos. Por isso, é natural que pais e educadores fiquem preocupados com o desenvolvimento das crianças por não sabermos quem está produzindo o conteúdo que elas estão assistindo. Neste momento, acompanhar e controlar o que elas estão vendo, principalmente na internet, é protegê-las de pessoas mal-intencionadas. No ZooMoo Kids, nos preocupamos muito em oferecer uma programação divertida e educativa que possa ser acompanhada por toda a família, sempre pregando valores importantes, como respeito, empatia, amizade e vida saudável. Além disso, o canal não transmite nenhum tipo de publicidade, e atua com uma equipe voltada à curadoria para que todo o conteúdo transmitido seja exclusivamente educativo e seguro.

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Sendo uma mulher empreendedora do ramo do entretenimento, em sua visão, qual é a importância de se expor histórias como a sua?

Foi muito difícil a trajetória até aqui, não vou negar que por muitas vezes eu pensei em desistir de empreender. Não é um dia a dia nada fácil. Eu abro mão da minha vida pessoal na maioria do tempo para fazer dar certo um sonho que hoje já não sonho mais sozinha. Juntos somos quase 30 colaboradores diretos e indiretos que dependem da minha ‘força’ para continuarem mantendo suas famílias em casa, com segurança e com uma vida digna.

Creio que expor histórias como a minha ajuda a inspirar e motivar outras mulheres a lutarem por um sonho e não desistirem, pois como seres humanos, temos uma grande tendência a seguir para o lado mais fácil da caminhada, mas, quando somos motivados, buscamos encontrar forças para lutar para os mais distintos caminhos. Gosto de mostrar sempre que não estamos sozinhas e que encontramos forças em pessoas muitas vezes que não conhecemos, mas por nos identificarmos na maneira de conduzir a vida, nos movem a agir com nosso melhor propósito.

Atualmente sou mentora voluntária em uma comunidade de desenvolvimento profissional para mulheres e as experiências que compartilhamos juntas são maravilhosas. Aprendo mais do que ensino, e com isso, conseguimos ver que não estamos sozinhas em nossos desafios cotidianos no empreendedorismo.

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A Stenna se tornou quatro empresas do mercado audiovisual. A Stenna International LLC, Stenna Media, Stenna Content e Colibri Import & Export. Qual é a diferença de cada uma delas?

Juntas, essas empresas formam o grupo Stenna, um conglomerado de produção, distribuição, representação e consultoria nacional e internacional. A Stenna Media é especializada na distribuição de produtos lineares e não-lineares, como VOD, OTT, SVAs e streaming. Já a Stenna Content é especializada na distribuição de conteúdo de vídeo sob demanda, como AVOD, SVOD, TVOD e Free VOD. A Colibri Import & Export é a nossa empresa de importação e exportação de produtos, tanto B2B quanto para B2C. E a Stenna International LLC atua executando todos esses serviços prestados, mas em âmbito global, atendendo empresas do mercado de telecomunicações e audiovisual presentes no exterior. Cada empresa do grupo reúne diferentes especialidades que se complementam de maneira ampla e integralizada.

Vivendo em uma pandemia, o trabalho teve alguma modificação? Se sim, qual?

Estamos muito atentos e acompanhando a evolução da pandemia, sempre seguindo todos os protocolos de segurança vigentes para proteger e assegurar a saúde e bem-estar de nossos colaboradores. Em 2020 todos fomos surpreendidos com a pandemia e a necessidade de estarmos mais presentes em casa, mas felizmente nosso fluxo de trabalho permite que consigamos trabalhar no regime home office sem grandes dificuldades. Temos seguido nesse modelo híbrido, onde o funcionário tem a liberdade de escolher onde quer trabalhar, com muita flexibilidade, para que consigamos avançar e entregar todos os projetos sem que comprometa nossas equipes e entregas aos clientes.

Nos conte um pouco sobre quem é Carolina Vargas.

Atualmente com 35 anos posso me considerar uma mulher de sucesso pessoal. Busco, desde muito nova, empreender e realizar sonhos. Sempre tive dentro de mim a vocação de liderar equipes e realizar a gestão de negócios. Tive uma formação internacional e nacional em grandes universidades, mas nada veio sem muito suor. Sempre lutei muito para conseguir estar onde estou hoje, concretizando meu grande sonho e transformando o meu sonho no sonho de muita gente. Sou uma pessoa que acredito que ninguém cresce sozinho e sempre coloco as pessoas da minha equipe como protagonistas dos seus trabalhos para que todos possam se desenvolver também. Posso dizer que a “Carolina Vargas” é hoje uma profissional que busca constantemente aprender, ensinar e gerir diversos tipos de sentimento, buscando com que todos ao redor sintam-se sempre felizes em estar na minha companhia, onde sempre haja troca de conhecimentos a cada palavra trocada.

Recentemente, o aplicativo de rede social Clubhouse tem chamado bastante atenção por ser uma comunicação restrita a convidados. Qual a sua opinião a respeito dessas polêmicas que tem se espalhado pela mídia nos últimos meses?

Acho interessante a estratégia de restringir o número de usuários para despertar desejo das pessoas pelo serviço. Porém, tudo acontece muito rápido na internet, e se essa exclusividade continuar por muito tempo, logo outras grandes empresas de tecnologia vão lançar suas próprias plataformas livres e abertas para abraçar as pessoas que se sentirem excluídas do Clubhouse. Sempre que posso uso o aplicativo para acompanhar a movimentação lá dentro e acho que tudo muito promissor. A questão é administrarem com sabedoria para não perderem o ‘timing’. Eu participo de algumas comunidades, tanto como ouvinte quanto como comunicadora, e confesso que ainda sinto que falta um maior conhecimento da entrega do conteúdo/discussão, e que a maioria das pessoas que estão atuando ativamente na plataforma ainda estão fazendo isto para se apresentarem ao mercado: ‘frente às tendências’.

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