Dentre as emblemáticas bandas que iluminam o cenário do rock’n’roll retrô brasileiro, emerge a Bloody Mary BM, originária de Niterói, cidade do Rio de Janeiro, e moldada em 2012. Sob a batuta de Mariana Oliveira, a voz vibrante que encarna a própria essência da banda, a Bloody Mary navega pelos estilos musicais com fluidez deslumbrante. Em cada acorde e nota, essa energia eclética abraça o palco, transmitindo desde rock e blues até pop, em português ou inglês, num espetáculo temperado com a inimitável mistura sonora da banda.

O segredo dessa harmonia reside no cuidado meticuloso de Marcus Ramalho com o baixo acústico, onde seu domínio se transforma em dança, enquanto Ciro Mendes, na bateria, injeta o groove que pulsa no palco, contagia a plateia e dá vida à sonoridade única da Bloody Mary.

Como surgiu a ideia de formar a banda Bloody Mary e qual é a história por trás desse nome?

A ideia de criar a Bloody Mary surgiu no ano de 2012, numa viagem que eu e meu marido Marcus Ramalho (baixista e integrante da banda), fomos até Las Vegas para participar do evento Rockabilly Weekend. Como gostávamos muito essa cultura retrô, resolvemos tentar levar um pouco do que vimos para o Brasil e quem sabe aproveitar ainda mais esse estilo que tanto amamos. Para isso, precisaríamos escolher um nome que traduzisse essa ideia e então surgiu o nome BLOODY MARY & THE MUNSTERS, passando mais tarde a ser apenas BLOODY MARY. Esse nome pode estar associado ao famoso drink feito com tomate ou até mesmo a lenda urbana. Um outro detalhe que teria que ser focado, seria o fato de investirmos na questão da imagem, pois sabemos que a imagem chega primeiro que o som e por isso, tínhamos que ter esse cuidado para atrair os curiosos e com isso, termos maior chance de mostrar esse estilo tão pouco conhecido no Brasil. No final, o meu topete, acabou sendo a marca registrada da banda e posso até dizer, minha assinatura. Hoje temos mais de uma década na estrada e ultrapassamos os 1000 shows realizados. Não sei dizer se deu certo, mas a jornada está sendo bem divertida e para nós é isso que importa.

Vocês mencionaram transitar entre diversos estilos musicais. Como conseguem manter essa versatilidade sem perder a identidade da banda?

Como disse acima, a banda começou num estilo que poucos conhecem no Brasil e é um estilo que amamos tocar, porém se permanecêssemos no Rockabilly tradicional, teríamos aqui no Rio de Janeiro pouca exposição. Por mais que lutássemos, o público continuaria não sendo tão expressivo a ponto de sustentar esse sonho. A máquina precisa andar, precisa sobreviver e para isso precisa aumentar o público. Não poderíamos ter o luxo de ser um “sucesso” no underground. No entanto, se era para abrir os horizontes, pensamos em fazer do nosso jeito, e para isso, precisaríamos aplicar o nossos DNA em cada música, independente do seu estilo e época. Por isso, começamos a pensar com muito carinho na desconstrução de grandes hits, para deixar com a nossa cara. A consequência disso tudo é que nos tornamos uma banda de cover, porém com uma identidade, ou seja, uma assinatura e isso tudo com uma imagem trabalhada por trás. Não posso deixar de falar que entendemos tudo isso como um processo de evolução natural. Acredito que se ficássemos parado no tempo, sem ousar e arriscar, certamente estaríamos numa prateleira.

Bloody Mary

Poderiam falar um pouco sobre a química sonora da banda e como ela se reflete no processo de criação das músicas?

Não importa o estilo musical e sim se a música mexe conosco. Quando encontramos essa música, inicia-se o processo de desconstrução para tentar aplicar o nosso DNA e aí, depois de ficar pronta, levamos ela para um teste num show num bar para ver como o público se porta ao escutá-la. Damos a música 3 chances para ela mostrar que pode estar no nosso set list. Por mais que a banda curta a m’sucia e adoramos tocá-la, se não tiver o feedback positivo do público, infelizmente, descartamos imediatamente e a música vai para a prateleira. Algumas voltam para o estaleiro para novos ajustes, porém, só sobrevivem as músicas que o fazem o público delirar. É certo dizer que preparamos 10 músicas num ensaio para levar ao final, apenas 3 para um show ao vivo, na qual apenas 1 ou nenhuma sobrevivem aos palcos. Esse é o nosso laboratório.

Qual é o processo de composição das letras e músicas na Bloody Mary? Existem temas ou experiências específicas que inspiram suas canções?

As músicas autorais são um capítulo à parte. Temos ciência que se quisermos ir mais longe, essa é a etapa que precisamos abraçar e nesse sentido, nos embrenhamos modicamente em 3 novas composições autorais que traduzem a maturidade da banda. Acreditamos que o resultado obtido possa servir de termômetro para isso e até um incentivo, mas sabemos que o mercado é bruto e não é de uma hora para outra que a coisa acontece. Temos que insistir e não parar, pois uma hora o sucesso bate à porta e precisaremos estar prontos para isso. Com relação a essas músicas, os temas que adotamos são ligados ao lado positivo da vida. Achamos que chega se “sofrência”, jamais apelaremos para vulgaridade nas letras. Sexualidade já tem demais por aí e não achamos que combinamos com isso. Conotações políticas são complicadas no dia de hoje. Se falarmos o que pensamos, certamente vão nos calar. Sim o rock é rebelde, mas escolhemos um outro caminho que também é divertido.

Como vocês veem o papel da Bloody Mary no cenário do rock’n’roll retrô brasileiro? Existe uma mensagem ou objetivo específico que desejam transmitir por meio da música?

Já não somos assim tão retrô como antigamente e como gostaríamos e acredito que somos uma evolução do sistema, onde precisou-se abdicar do que amamos para sobreviver ao mercado. Foi uma escolha nossa embarcar no que acreditamos ser uma evolução natural e adoramos essa transição que não foi feita de uma hora para outra e sim gradualmente, pois era necessário entender o meio. Uma coisa é certa, nos divertimos muito com o que fazemos e por fazermos do nosso jeito, a verdade fica escancarada e por isso, a felicidade de estar no palco ficou algo marcante para o público.

Bloody Mary

Quais são as influências musicais que mais impactam o som da banda e como essas influências se manifestam em suas performances?

Bem, não descartarei as nossas origens, mesmo que essas estejam agora bem rarefeitas na nossa sonoridade, mas se você para ouvir com calma, ainda achará um pouco de ELVIS e toda a turma dos anos 50. Atualmente, focamos muito no aspecto eletrônico e estudamos constantemente o que está rolando no mundo para tentar sugar aos máximos essas influências e ao final, se for possível, temperar com o estilo retrô.

O que vocês destacariam como os principais desafios e conquistas ao longo da trajetória da banda até o momento?

O convívio de viver num microcosmo chamado “PLANETA BANDA”. A paciência é uma virtude e se conseguirmos focar nisso, a jornada fica mais fácil. O dever de casa está sendo bem-feito e estamos sobrevivendo. Essa administração cartesiana é uma excelente ferramenta para superar os obstáculos e nos levar com mais segurança aos nossos objetivos e até mesmo na conquista de nossos sonhos que em nada diferem de qualquer banda. Viver da música.

Vocês mencionaram a interação com o público durante as apresentações. Como descreveriam a experiência de se apresentar ao vivo e qual é a importância dessa interação para a Bloody Mary?

O público é o reflexo do nosso trabalho. Se ele se diverte, nós nos divertimos. O foco é a diversão e para isso, usamos o público para alcançarmos o nosso objetivo. É muito ruim tocar para ninguém. É muito ruim para nós, fazer um show contemplativo, onde todos ficam sentados e ao final da música batem suas palmas. Queremos é bagunçar o lugar. Trazer para o momento, aquela experiência única. A pessoa precisa ir para casa pensando que foi uma noite e tanto e que precisa repetir.

Existe algum álbum ou música que consideram como o ponto alto na carreira da banda? Se sim, poderiam compartilhar um pouco sobre essa produção?

Todas as músicas do repertorio são feitas com muito carinho e como falei acima, muito testadas, porém não há como não falar de uma música que nos acompanha desde a primeira apresentação da banda ocorrida numa oficina de carros. Essa música é tocada em todo show desde então e acreditamos que poderíamos estar nos Guinness Book por tocá-la mais de 1000 vezes até hoje. A Música é “You’re The One That I Want” do filme “Grease”. Essa música traduz o que somos e o que queremos transmitir ao vivo.

Quais são os planos futuros da Bloody Mary em relação a novos projetos musicais, turnês ou qualquer outra novidade que possam compartilhar com os fãs?

Enquanto se busca sobreviver a cada dia a dia, ainda temos sonhos e trabalhamos arduamente para que se realizem. Pretendemos em 2024 continuar com a fórmula de 2023, mas ousaremos ainda mais. Buscaremos alianças que nos remetam a uma maior exposição, pois acreditamos que se tivermos a chance de mostrar o nosso trabalho ao mundo, a chance de tocar numa grande arena para um público acima das 10.000 pessoas fica mais próximo. De qualquer forma, enquanto isso não chega, continuamos por aqui fazendo o que tanto gostamos.

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