Pedro Goifman, destaque da série “B.A.: O Futuro Está Morto” (MAX), está se preparando para uma série de novos projetos em 2024. Além de brilhar no curta-metragem “Atravessaria a Cidade Toda De Bicicleta Só Pra Te Ver Dançar”, que foi exibido em um festival classificatório para o Oscar, Pedro participou de “Histórias de Fantasmas Verdadeiros Para Crianças” (Cine Brasil TV). Ele também tem estreias previstas em “Tarã”, uma série do Disney+ com Xuxa e Angélica, “SIM”, seu primeiro longa como diretor, e “Eclipse”, um filme de Djin Sganzerla, onde viverá um dos papéis mais desafiadores de sua carreira.

Recentemente, Pedro falou abertamente sobre sua luta contra a depressão, diagnosticada aos 14 anos. Ele destaca que interpretar seus personagens tem sido uma parte importante de seu processo de cura. A expectativa para uma segunda temporada de “B.A.: O Futuro Está Morto” é alta, já que a série foi um dos conteúdos mais assistidos da MAX na América Latina. Pedro expressou seu desejo de continuar interpretando Tomás, um personagem que ele descreve como um dos mais significativos de sua carreira.

Em “Eclipse”, Pedro interpreta Felipe, um jovem de 18 anos e filho de um fazendeiro, descrito como uma pessoa difícil. O filme está em fase de finalização e deve estrear em 2024. No curta “Atravessaria a Cidade Toda de Bicicleta Só Pra Te Ver Dançar”, Pedro vive um amor LGBT e a beleza das primeiras vezes, tendo sido um sucesso no festival Curta Cinema.

Pedro também falou sobre sua experiência trabalhando em “Tarã”, destacando a relação próxima que desenvolveu com Angélica durante as gravações. Além de seus papéis como ator, Pedro está se aventurando como diretor. Ele está prestes a finalizar seu longa “SIM” e planeja produzir “Adrenalina”, um curta-metragem que escreveu recentemente. Ele também está trabalhando no roteiro de “Terra Roxa” com o diretor Maurício Abbade, no qual será protagonista. Apesar dos desafios pessoais, Pedro continua a se dedicar à sua carreira e a inspirar outros com sua coragem e talento.

Pedro, você já atuou em séries de sucesso como “B.A.: O Futuro Está Morto” e agora tem vários projetos em andamento. O que mais te atraiu para o papel de Tomás e como foi interpretar esse personagem?

Quando li o roteiro de “B.A.: O Futuro Está Morto” sabendo que eu ia fazer o Tomás, foi amor à primeira vista. O personagem é tudo que um ator pode querer: dificílimo, carismático, tem cenas divertidas, dramáticas, tensas e até um pouco de ação! Essa complexidade foi o que mais me atraiu. Fiquei animado na hora. Por outro lado, também percebi que dar vida a um personagem tão complexo não seria uma tarefa fácil. Por isso, me debrucei nos estudos. A série é inspirada em uma HQ do Rafael Coutinho, então, além de ler e reler o roteiro muitas vezes, estudei muito o personagem que ele tinha criado nos quadrinhos, identificando trejeitos que eu poderia adicionar na minha construção, sem perder a minha criatividade, personalidade e inventividade como ator. Os diretores e roteiristas foram sempre muito abertos aos improvisos e eu pude criar muita coisa do Tomás. Sou apaixonado por ele!

Em “Eclipse”, você interpreta um personagem que descreveu como um dos mais desafiadores de sua carreira. Pode nos contar mais sobre ele e por que foi tão difícil para você?

O Felipe é um personagem que aparece pouco na trama de “Eclipse”, o que já traz uma dificuldade: o personagem precisa fazer sentido, ir de um lugar para outro, é interessante que exista algum tipo de transformação. Construir isso de uma maneira interessante com pouco tempo de tela é um desafio. Ademais, ele é um homem que representa algo de muito ruim. Não respeitaria ele se fosse uma pessoa real; portanto, interpretá-lo com verdade se torna ainda mais difícil. Além disso, tenho uma cena com uma carga dramática muito pesada, uma das mais difíceis que fiz em minha carreira.

Certamente o Felipe foi um grande desafio para mim, mas fiquei orgulhoso com minha performance. Tenho muita confiança no trabalho da Djin Sganzerla, diretora e roteirista, e tenho certeza que será um filmaço!

Como foi trabalhar com Xuxa e Angélica em “Tarã”? Você mencionou que desenvolveu uma forte conexão com Angélica. Como essa relação afetou sua atuação na série?

Trabalhar com a Xuxa e a Angélica em “Tarã” foi ótimo. Elas, assim como o resto da equipe e do elenco, são muito experientes e pude aprender muito com isso no processo. A Angélica e eu fazíamos mãe e filho e nossos personagens, Niara e Kauê, tinham uma cumplicidade muito forte na história. Nós dois nos conectamos muito e tenho certeza que o nosso afeto estará visível nas telinhas.

Pedro Goifman (Arthur Cestaro)
Pedro Goifman (Arthur Cestaro)

Você recentemente falou sobre seu diagnóstico de depressão aos 14 anos. Como foi tomar a decisão de falar sobre isso publicamente? Você sente que interpretar Tomás em “B.A.: O Futuro Está Morto” teve um papel em seu processo de cura?

Eu não costumo falar muito sobre a minha depressão, inclusive pedir ajuda depois de ter identificado a doença foi o processo mais difícil para mim. Escolhi falar publicamente, porque acredito que a decisão de seguir com uma carreira pública traz também responsabilidades e sinto que posso ajudar pessoas compartilhando minhas vivências. Devemos falar sobre os transtornos mentais, já que são doenças que podem ser tratadas.

E sim, interpretar o Tomás e entender os problemas pelos quais ele passa, foram processos que me possibilitaram um maior entendimento sobre a minha depressão e os meus problemas. Entendendo as dores do personagem e vestindo-as, pude refletir sobre as minhas dores. Entendendo os prazeres do personagem e vestindo-os, refleti sobre meus prazeres. Foi um mergulho intenso e saí melhor dele.

Com seu filme “SIM” sendo seu primeiro longa como diretor, e “Adrenalina” como um novo curta-metragem ficcional, como você se vê equilibrando sua carreira como ator e diretor?

Não me vejo equilibrando as carreiras de ator e de diretor, inclusive nem acho que tenho uma carreira como diretor. Eu sou ator. Sou um ator que dirige, um ator que escreve, um ator que produz, um ator que às vezes faz câmera, montagem e o que precisar para tirar as ideias do papel, mas sempre um ator.

Desde pequeno me interesso pela direção e acho que ocupar outras funções no audiovisual engrandece meu trabalho como ator e vice-versa. Acabei me interessando pelos trabalhos de diretor e roteirista e isso está sendo uma delícia.

Já tinha dirigido alguns curtas caseiros (tanto de ficção quanto documentários) e inclusive ganhei alguns prêmios. Além deles, em 2020 fiz duas webséries, uma delas se chama SONIDOS, e é uma pesquisa a partir de sons do cotidiano e diferentes gêneros textuais. Esta está disponível no Instagram e YouTube. A outra se chama “Estão me observando” e é um suspense/terror em formato de vídeos curtos. Ela está disponível no Instagram e TikTok e conta com um elenco ilustre: Linn da Quebrada, Jup do Bairro e Matheus Nachtergaele.

Ano passado decidi embarcar em um novo desafio como diretor: o filme “SIM”, meu primeiro longa, que é um documentário. Ele une a linguagem do cinema com a performance, para debater questões artísticas e sociais. Estamos no processo de montagem do filme, que é demorado, mas espero poder exibi-lo em breve.

“Adrenalina” é um projeto que tenho muito carinho. Um curta que eu criei para fazer junto com o grande cineasta, crítico, ator e teórico do cinema Jean-Claude Bernardet, que considero meu avô afetivo (e que inclusive marca presença no filme SIM). Ainda não posso falar sobre o que é, mas é um filme lindo que escrevi, vou dirigir e atuar ao lado dele.

Como você aborda a criação de personagens complexos como Tomás e Felipe? Qual é o seu processo para dar vida a essas figuras?

Sinto que cada personagem tem seu processo, cada um funciona de um jeito, então não tenho um método específico. Claro que leio muito sobre diferentes técnicas de atuação, já fiz vários cursos e sempre mantenho uma pesquisa ativa (inclusive estou na Escola de Arte Dramática da USP).

Porém, acredito que o fundamental para dar vida a qualquer personagem é escutá-lo. Ler o roteiro com atenção e fazer perguntas para o seu personagem – ele sempre responde. Está tudo dentro de nós mesmos.

Gosto de fazer essa pesquisa intensa com o roteiro e com meu corpo para depois partir para referências externas, que são sempre muito importantes e bem-vindas. Sempre peço indicações de filmes, livros, séries etc para os diretores (e preparadores, se o projeto tiver) e costumo fazer uma playlist musical para cada personagem.

Em “Eclipse” conversei bastante com a Djin (diretora) sobre o Felipe e também troquei com a Lian Gaia (uma das protagonistas do filme e uma baita atriz) sobre a relação dos nossos personagens.

Em “B.A.: O Futuro Está Morto”, além dos diretores Mariana Youssef, André Ristum, Marcelo Mesquita e Denis Cisma, troquei muito com a Fernanda Rocha, preparadora de elenco, que acompanhou o processo e me guiou de uma forma sensível e impecável.

Pedro Goifman (Sérgio Santoian)
Pedro Goifman (Sérgio Santoian)

Qual foi o momento mais memorável ou desafiador no set de “B.A.: O Futuro Está Morto” ou em qualquer um dos seus trabalhos recentes?

O momento mais desafiador para mim em “B.A.: O Futuro Está Morto” certamente foi a cena final do episódio 4 (que segue para o começo do episódio 5). Para continuar contando vou ter que dar um spoiler, então não diga que eu não avisei!

Essa cena é uma tentativa de suicídio. O Tomás chega no quarto, começa a beber e gargalhar, esse riso se transforma em um choro que vai aumentando, então ele se senta na cama e uma sequência de ações acontece. Fazer essa cena era um grande desafio, não só pela carga emocional da atuação, mas também porque poderia despertar gatilhos em mim. Porém, me sentia pronto.

O diretor do episódio era o André Ristum. Ele me chamou no canto – sabia que era um momento dificílimo para mim – e disse “Eu confio em você, você leu o roteiro, sabe como é a cena. Não vou te dar nenhuma marcação. Você sabe o que fazer.”. Foi a melhor coisa que eu poderia ter ouvido. Então, ele chamou o Hélcio Alemão Nagamine, diretor de fotografia incrível, e falou “Alemão, é câmera na mão e segue o Pedro, não tem marcação, confio em vocês”. Nos olhamos e, juntos, gravamos a cena em plano sequência, passando por todas as emoções em uma dança entre ator e fotógrafo.

Quando acabou a cena eu saí do estúdio, fui para uma área externa e voltei a chorar. De alívio, de felicidade, de tristeza que tinha sobrado do Tomás, uma mistura de sensações. O André veio até mim e disse “Não sei nem se eu devia estar te falando isso, mas eu tinha certeza de que a cena ia ficar boa, mas não tinha ideia de que dava pra ela ficar TÃO boa”. Ufa. Eu consegui.

Você mencionou estar roteirizando um longa chamado “Terra Roxa” com Maurício Abbade, no qual também será protagonista. Como foi essa experiência de criar um roteiro do zero e, ao mesmo tempo, se preparar para atuar no papel principal?

Está sendo uma loucura. Escrever um longa de ficção é uma coisa que não achei que faria tão cedo. Eu conheci o Mauricio nos testes para “Atravessaria a cidade toda de bicicleta só pra te ver dançar”, curta que ele dirigiu e que estreou agora em 2024. Tinha acabado de gravar “Tarã” e fui chamado para testar para o protagonista desse filme. Fiz o teste. Nesse primeiro contato, ficamos conversando por tanto tempo que a bateria da câmera acabou no meio do papo e a audição ficou pela metade. Logo recebi o convite para interpretar o Pedro (olha que coincidência, eu e o personagem temos o mesmo nome!) e durante as gravações percebemos que tínhamos uma sintonia artística muito forte. Viramos amigos.

Meses depois, o Mauricio me contou que estava com uma ideia para o seu primeiro longa-metragem como diretor e que queria que eu protagonizasse. Ele me contou o que tinha pensado e eu fui complementando. A sintonia foi tanta que ele me convidou para escrevermos o filme juntos. Então assim está sendo.

Já temos uma versão pronta e agora estamos fazendo alterações, correções e simultaneamente no processo de viabilizar financeiramente, que é uma etapa dificílima. Escrever um roteiro que eu vou atuar é difícil. Às vezes eu escrevo um diálogo e tem falas que eu queria muito dizer, mas que cabem muito mais na boca de outros personagens, então tenho que desapegar; é difícil construir uma personalidade diferente da minha para o personagem; é difícil construir a narrativa inteira, com os acontecimentos, criando um mundo que funcione de maneira lógica e que seja interessante. O processo todo é difícil, mas é delicioso e eu estou amando.

Você mencionou que sempre teve a tendência de ser um personagem em situações sociais. Como você equilibra isso com a necessidade de ser autêntico em sua vida pessoal e profissional?

Eu sempre carreguei uma máscara social muito forte. Aquela imagem clássica do palhaço com depressão, da pessoa aparentemente feliz, mas que na realidade é profundamente triste. A psicanálise e a psiquiatria têm me ajudado muito a dissolver cada vez mais isso. Eu busco ser menos um personagem e tentar encontrar comigo mesmo (se é que isso existe). Porém, sou ator, construir personagens faz parte do meu trabalho, e às vezes é importante inclusive em situações fora da atuação. A chave é tentar entender como dosar. Gosto muito do que o Jim Carrey fala sobre esse assunto. Ele é uma grande inspiração.

Pedro Goifman (Arthur Cestaro)
Pedro Goifman (Arthur Cestaro)

Com tantos projetos e experiências para compartilhar, qual é a principal mensagem que você gostaria de deixar para seus fãs, especialmente aqueles que lidam com desafios semelhantes aos que você superou?

Honestamente o que eu desejo é que as pessoas tenham mais escuta. Sinto que está todo mundo querendo falar e ninguém ouve. Então as pessoas começam a falar mais alto, terem discursos mais loucos e de repente estamos afogados em uma grande insanidade. Estou querendo ouvir mais e sugiro isso para as pessoas. E ouvir mesmo, tentando entender a dor do outro.

E desejo que as pessoas que não se sentem ouvidas e nem confortáveis para falar (como eu muitas vezes me senti e me sinto) procurem redes de apoio. Se você sente que tem algum tipo de transtorno mental, essas coisas têm tratamento (e inclusive vários lugares oferecem isso de maneira gratuita). Só profissionais da saúde vão poder ajudar a melhorar realmente essas doenças e para isso você precisa falar delas. Vamos juntos. Viver é difícil, mas às vezes é bom. Bora viver.

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