Além de integrar o elenco de “Malhação – Viva a Diferença”, a atriz paulista Ana Flávia Cavalcanti lidera o projeto “A Babá Quer Passear”, em que performa de forma provocativa o a invisibilidade aos empregados domésticos no Brasil.

Nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro, ela sente na pele a reação das pessoas em uma ação um tanto quanto provocativa. Em entrevista ao colunista Luca Moreira, a artista deu detalhes desse projeto, apresentou seu ponto de vista sobre o tema e contou como acontece o surgimento dessa mobilização.

Como é interpretar uma personagem de caráter tão forte como a diretora Dóris em “Malhação”?

A Doris é uma personagem muito incrível. Ela tem essa força, essa garra, essa determinação em prol de uma causa, na minha opinião a maior causa: que é a educação pública de qualidade.

A Maria Carolina de Jesus disse: a arte mais forte do mundo é a inteligência.

E a escola é o melhor lugar para praticar, desdobrar, ampliar e dividir inteligência.

Sobre a criação do “A Babá Quer Passear”, de onde veio a ideia e o conceito do projeto?

A ideia surgiu em um sonho. Sonhei com um carrinho de bebê gigante cor de rosa e somei a isso minha total indignação ao fato de quase sempre serem mulheres e homens negros nas funções de serviçais. Seja como babá, diarista, porteiro, manobrista, garçom, cozinheiro, varredor de rua.

Quase sempre são pessoas negras. O que evidencia a manutenção da herança escravagista que ainda praticamos no Brasil .

Acredita que o enredo que você está vivendo na “Malhação” tenha influenciado também a ideia do projeto?

Não. São dois temas muito pertinentes, urgentes e que precisam ser debatidos na nossa sociedade. A educação pública e o empregado doméstico no Brasil.

Mas são abordagens completamente diferentes. A Malhação é uma novela da Rede Globo que tem um alcance enorme e a performance é meu trabalho de formiguinha, ali no dia-a-dia tentando abrir espaço pro diálogo.

Como você avalia a situação atual do empregado doméstico no Brasil?

A situação atual do trabalhador como um todo é degradante. Estamos perdendo direitos trabalhistas conquistados com muita luta. E a última notícia que nos chega é que os deputados, os senadores e o próprio presidente estão tentando relaxar as punições das leis que proíbem o trabalho escravo.

Sério! Se por um lado me sobram forças para lutar, por outro eu me sinto vivendo no final do século XVIII tamanho são os retrocessos.

Eu aqui querendo discutir as condições de trabalho, a remuneração, o contato, a proximidade dos empregados domésticos e me chega essa notícia de trabalho escravo! Entende?

Sobre respeito, eu acho importante a gente pensar em termos legais, porque se não os empregados domésticos vão ficar sempre à mercê de boa vontade, de ajuda. Quando a discussão deveria ser outra.

Na sociedade em que vivemos o respeito é uma conquista social atrelada a dignidade de vida, vamos falar em termos de melhores condições de trabalho e remuneração e aí o respeito vai acontecer. Não precisamos de ajuda, precisamos exercer nossos direitos.

Esses dois pontos são fundamentais para discussão de respeito.

Qual é o seu principal objetivo com esse seu projeto? Já tem mais gente trabalhando ao seu lado?

Eu quero abrir a discussão sobre o empregado doméstico, sobre a exaustiva carga horária x baixos salários, a segregação social imposta através de uniformes e espaços delimitados para babás em especial, e o fato de serem quase sempre pessoas negras nessas funções. Recebi um convite do Sesc Ipiranga para realizar a performance em SP no início do ano que vem.

Sobre sua personagem em “Malhação”, que tipo de público você espera conquistar com ela? Que mensagem você deseja passar?

Eu desejo me comunicar com todo mundo. Com quem tiver um tempinho e parar pra ver Malhação. Todas as pessoas me interessam, é verdade que Malhação tem um público bem jovem, mas isso tem mudado.

Essa temporada tem apresentado temas que são de interesse para a população como um todo.

Mensagem aos leitores:

Agradeço o espaço de troca. Acredito muito no diálogo, no debate. Pra mim é uma oportunidade muito boa poder expandir meus ideais, meus pensamentos e meu enorme desejo de viver em uma sociedade igualitária e sem racismo.

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