Ana Cristina Rosa abre jogo e desromantiza empreendedorismo em “Empreender Sem Desculpas”

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Ana Cristina Rosa (Foto: Divulgação)

Antes de se tornar uma líder de sucesso e mentora de mais de 1.500 empreendimentos, a portuguesa Ana Cristina Rosa teve as asas podadas muitas vezes. E foi justamente para desromantizar o processo de construir o próprio negócio que ela se dedicou ao livro Empreender Sem Desculpas, título lançado pela DVS Editora em Portugal e no Brasil. Em um discurso intimista, a autora convida quem deseja se aventurar no mundo dos negócios a identificar os principais medos que rondam seus sonhos e oferece respostas e caminhos a seguir. A obra reúne estratégias para ajudar os futuros empresários a entrarem em ação.

Viver na corda bamba sem saber quanto vai ganhar no mês, conviver com todas as inseguranças que atacam a mente e lidar com quem não empreende são alguns dos desafios enfrentados no cotidiano das organizações. Para superar estes obstáculos, como mostra a escritora na obra, é necessário manter o foco, vencer a síndrome do impostor, assumir a posição de líder e entender a montanha russa do universo empresarial.

Nesse relato sincero, Ana Cristina mostra que trabalhar no automático, sem paixão, afasta as pessoas do propósito e pode favorecer, também, o surgimento de doenças. Enfrentando altos e baixos na carreira, enquanto tentava se convencer de que continuava no caminho certo, ela passou a experimentar crises frequentes de pânico. Além disso, sentia falta do apoio familiar ao comentar sobre seus sonhos. A partir daí, passou a buscar respostas para alguns questionamentos.

Ao longo da narrativa, a autora testa o leitor e o instiga a pensar como aplicar os ensinamentos na vida e na carreira. A instrutora usa a própria experiência como jornalista que abandonou a profissão, optou pelo empreendedorismo e venceu as crenças limitantes para reforçar a mensagem do livro. Afinal, ao abraçar seu lado criativo, ela conseguiu dar um salto naquilo que realmente a empolgava: a mentoria de empreendimentos.

Em um depoimento de força e superação, a empresária convida o leitor a se questionar em cada etapa do caminho e a olhar de frente para o empreendedorismo. Com uma abordagem diferenciada sobre o tema, debatido quase sempre sob o prisma das metas, balanços e plano de negócios, a especialista propõe uma viagem de dentro para fora, com o intuito de despertar o empreendedor que vive dentro de cada um, camuflado por crenças que foram ganhando raízes com o passar do tempo. Confira a entrevista!

Além de identificar medos e crenças limitantes, como você ajuda as pessoas a superá-los e a transformá-los em ações positivas? Você poderia compartilhar exemplos práticos de como seus ensinamentos têm impactado a vida e o sucesso de seus clientes e alunos?

Ao longo desses 12 anos de empreendedorismo, já lidei com milhares de empreendedores. Muitos deles têm as mesmas crenças limitantes que eu já tive. Os desafios foram muitos e no meu livro “Empreender Sem Desculpas” compartilho muitos dos piores momentos no meu negócio. No entanto, se pudesse escolher um desafio, seria o fato de ter feito tudo sozinha.

A minha essência empreendedora fez com que quisesse desbravar todo o caminho sozinha e a maioria dos empreendedores que acompanho caem nesse erro, e o que hoje vejo é que foi desnecessário e atrasou a minha evolução. É fundamental nos rodeamos de pessoas que estão a passar por desafios semelhantes aos nossos.

Tenho muitos exemplos de clientes meus que, ao ultrapassarem esses desafios, se tornaram empreendedores bem-sucedidos. A Daniela Alfarrobinha, um dos nomes portugueses mais reconhecidos na área de vídeo, tinha medo de se expor, de aparecer diante das câmeras, o que a limitava na hora de conseguir chegar a mais pessoas. Hoje, é instrutora online e treina outras pessoas a usarem o vídeo para potencializar os seus negócios.

A Liliana Santos acreditava que por viver em Paris (França), nunca conseguiria ajudar pessoas no seu país em Portugal. Ajudei-a a criar um negócio 100% digital, o Instituto Português de Aromaterapia, e hoje acompanha milhares de famílias a usarem a aromaterapia e treina profissionais na área a criarem os seus negócios.

A Ana Rita Monteiro, que é Mentora de Profissionais de Amamentação, provou a todos que a saúde, aparentemente um serviço físico, pode ser transitada para o online e impactar de igual forma. A Catarina Batista, terapeuta, acreditava que a sua área só funcionaria no presencial e que por isso estaria limitada. Ajudei-a a criar o seu negócio digital e hoje treina pessoas de todos os cantos do mundo no seu Treinamento online – Certificação de Radiestesia Integral Sistémica.

A dentista Joana Duque deixou de ter medo de apostar numa nova área e hoje impacta a vida dos seus clientes e alunos através da sua Certificação em Produtividade Aplicada e Consciente. E tantos outros exemplos de sucesso nas mais variadas áreas de negócio: coaching, terapias, nutrição, cozinha, cabeleireiro, pilates, produtividade, gestão, etc. Tem sido uma jornada fantástica, com muitos casos de sucesso que provam que é possível criar empreendimentos bem-sucedidos.

No seu livro, “Empreender Sem Desculpas”, você aborda a importância de identificar e superar a síndrome do impostor para se tornar um líder de sucesso. Como você ajuda seus clientes a reconhecer e superar essa crença limitante?

A minha missão é provar através do meu exemplo que é possível transformarmos as nossas crenças limitantes em aprendizagens que nos colocam no caminho do sucesso.

Sempre mostro que tudo o que está sentindo é normal e ajudo-os a passar pelo processo. Nada mais eficaz do que partilhar o meu exemplo e de como fui capaz, apesar de todos os medos, de avançar e criar um negócio de sucesso. O verdadeiro sucesso começa primeiro dentro de nós e na forma como o encaramos.

Temos de estarem preparados para a curva do crescimento, para os momentos de dúvida, receios, fracassos. Pensar que não são capazes ou que ainda não estão à altura do que sonham fazer, faz parte desse processo de construir uma mentalidade vencedora. Por isso, considero tão importante fazerem parte de grupos de empreendedores onde todos falam a mesma “linguagem” e entenderem que todos esses medos podem surgir, mas não são devedores do que realmente querem alcançar.

O percurso não vai ser sempre linear, pelo contrário, vai ser bem imprevisível, e no fim, vai culminar num resultado AINDA melhor do que esperavam. Nesses momentos de dúvida criei uma técnica que hoje partilho com os meus empreendedores. Imagina uma balança, de um lado tem os teus receios, dúvidas, do outro lado os teus sonhos e a tua vontade impactar o mundo. Qual pesa mais? A resposta é: sempre que o propósito é mais forte do que o medo, então é nisso que vão focar.

Então, sempre que alguém me diz que tem medo de não ser capaz, eu recordo que não é sobre ele, é sobre as centenas, milhares de pessoas que vai ajudar. Remeter ao nosso “porquê”, a verdadeira razão pela qual queremos empreender, é essencial para não nos autossabotar.

Muitas pessoas têm medo de seguir sua paixão e se aventurar no mundo dos negócios devido à falta de estabilidade financeira. Como você aconselharia alguém a encontrar um equilíbrio entre seguir sua paixão e garantir sua estabilidade financeira ao empreender?

Falo sobre isso no meu livro “Empreender sem Desculpas” no capítulo Empreendedor Empregado. No cenário ideal, esta transição deve ser feita de uma forma planejada. Aos primeiros sinais de insatisfação e a vontade de criar um negócio próprio, começar a criar um plano B, enquanto se continua a manter o plano A, neste caso o plano A é o emprego que dá o tal rendimento fixo, e apenas quando o plano B for rentável o suficiente, abandonar o emprego e dedicar-se em exclusivo ao novo negócio.

Então, o meu conselho é que gradualmente comece a criar o seu negócio em paralelo ao seu emprego atual. Pois um dá a estabilidade e o outro a oportunidade de sonhar com uma vida melhor. Gradualmente, o negócio próprio vai crescer de tal forma que tudo começa a acontecer naturalmente. Até lá, pode errar e aproveitar a viagem, pois tem todas as suas necessidades asseguradas. Quando tiver o seu negócio, fruto de uma paixão, vai sentir que tudo valeu a pena e que não há nada melhor do que fazer aquilo que realmente gostamos.

Ana Cristina Rosa (Foto: Divulgação)

Você criou a primeira Certificação em Instrução Online em Portugal em 2019. Como você vê o futuro do empreendedorismo digital e como você aconselharia alguém a se preparar para este novo mercado?

Estamos a viver a era de negócios mais digital de sempre, onde criar um negócio é mais fácil do que alguma vez foi, basta um computador e internet. Em minha opinião, existem alguns elementos que devem ser levados em conta, para se ter sucesso neste novo mercado:

-Estar sempre um passo à frente: pesquisar tendências de mercado, ver o que se faz noutros países, buscar inspiração, inovar;

-Encurtar caminho com quem já chegou lá: nesta era digital tudo acontece muito rápido, então há que ser inteligente e encurtar caminho aprendendo com pessoas que já estão onde se quer chegar;

-Fazer com Autenticidade: neste mundo digital a conexão ultrapassa qualquer barreira geográfica, então fazer com autenticidade, mostrando qual o nosso propósito, no que acreditamos, quais os nossos valores, vai atrair pessoas que se identificam conosco e com o que estamos a criar.  .

Precisamos caminhar para uma era de empreendedorismo onde tudo é inovador, diferenciador, tecnológico. Parar neste mundo é ficar para trás. Temos constantemente de adaptar, ousar e inovar.

Um dos grandes desafios que encontramos em muitos empreendedores e empreendedoras é conseguir tirar seus negócios do papel e executá-los, muitos sem nem saber por onde começar. Em sua opinião, existe uma receita de bolo para esse processo e qualquer pessoa pode conseguir ser dono do próprio negócio?

Muitos empreendedores esperam saber “tudo” para começar e isso nunca vai acontecer. Eu diria que o primeiro passo da receita é começar!  Para começar existem alguns passos chave. O primeiro é, sem dúvida, apostar numa área que lhe apaixone verdadeiramente. É aqui que irá buscar a motivação para agir, persistir e não desistir nos momentos mais desafiantes.

Segundo passo, procurar rodear-se de outros empreendedores, juntarem-se a comunidades, grupos de networking onde possam partilhar experiências e trocar ideias. Terceiro passo, apostar em aprender sempre mais, procurar mentores de excelência no seu país e no estrangeiro, inspirar-se nessas pessoas e absorver tudo o que têm para ensinar.

Quarto passo: ousar, inovar, experimentar, e estar preparado para fracassar quantas vezes forem necessárias, retirando todas as aprendizagens possíveis disso e melhorando continuamente. Se eu tivesse que dar uma receita para “Empreender com Sucesso” diria que os ingredientes principais são: paixão, consistência, mudança e fazer sem desculpas.

Atualmente, muitas pessoas objetivam empreender, principalmente pela “liberdade” de controle que os próprios negócios dão, além, claro, de uma melhor condição financeira. Você acredita que empreender seja a melhor solução para os problemas trabalhistas atuais? Como os patrões podem estar enxergando essa transformação?

Eu não sou do gênero de romantizar o empreendedorismo, e de que este é o caminho para todos os problemas trabalhistas atuais. O meu livro “Empreender sem desculpas” foi precisamente escrito com o propósito de ajudar a quem deseja se aventurar no mundo dos negócios a identificar os principais medos que rondam os seus sonhos e oferecer respostas, além dos caminhos a seguir.

Embora o empreendedorismo sempre tenha feito parte do meu DNA, tenho conhecido muitas pessoas que preferem um trabalho por conta de outros com um salário fixo e que se sentiriam felizes, assim, se a empresa reconhecesse o seu valor e contribuísse ao negócio. Temos muitos empregados com espírito empreendedor que são uma mais-valia nas organizações, e que se sentirem-se motivados e reconhecidos dão um contributo enorme para o crescimento dos negócios.

Por isso, o que defendo, não é que todo o mundo se torne empreendedor, vão sempre existir diferentes perfis de pessoas. O que vejo como um caminho é os patrões valorizarem os seus recursos humanos aproveitando os melhores talentos de cada um. Teremos assim pessoas felizes e realizadas, quer sejam empregadas ou empreendedoras.

Ana Cristina Rosa (Foto: Divulgação)

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais atualmente, principalmente quando se fala na editoria de negócios, é o teste do 4 Days Week, que vem obtendo resultados positivos em empresas europeias com a redução da carga horária semanal de trabalhadores. Você possui opinião sobre esse processo?

Não foco a mensuração dos meus resultados em número de horas de trabalho e sim em cumprimento das metas estabelecidas. O mesmo procedimento é aplicado na forma como gerencio a minha equipe. Não considero motivador impor um número fixo de horas de trabalho semanais, é muito mais produtivo o foco na execução das tarefas e cumprimento das metas.

Na minha empresa definimos que as sextas-feiras de manhã são para treinamento livre (assuntos da área de interesse de cada elemento) e na parte da tarde, a minha equipe está livre para relaxar, fazer o que bem entender com o seu tempo. Acredito e comprovo pela minha experiência que conseguimos fazer mais em menos tempo quando o foco é a meta, e não a carga horária obrigatória. A motivação e a produtividade aumentam, assim, significativamente.

Ana, a respeito do empreendedorismo, as mulheres têm conseguido ganhar cada vez mais força nos negócios. Hoje, ter uma empresa identificada como dirigida por mulheres é um avanço. Considerando a crescente presença de mulheres empreendedoras, como você se sente ao inspirar outras mulheres a se destacarem no mercado e o que você acredita que pode ser feito para apoiar ainda mais o empreendedorismo feminino?

É um orgulho enorme ver cada vez mais mulheres a assumirem-se como empreendedoras e a impactar o mundo de uma forma tão diferenciadora. Nos meus grupos de empreendedorismo mais de 95% são mulheres, com as quais me identifico muito. Mulheres que tal como eu querem criar uma vida que lhes permita impactar o mundo fazendo o que mais amam, e ao mesmo tempo conquistar liberdade de tempo e dinheiro para usufruírem com as pessoas mais importantes da sua vida.

Faço parte de comunidades com milhares de mulheres empreendedoras, onde o apoio e o compartilhamento de experiências são constantes. Vejo nestes grupos um forte potencial de mostrar o poder das mulheres empresárias e de que cada vez mais caminhamos para uma sociedade onde o gênero não define o que podemos ou não alcançar. Paixão, talento, competência, capacidade de ação, esses sim são os indicadores do sucesso.

Acompanhe Ana Cristina Rosa no Instagram

*Com Regina Soares

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