“A Velhinha e o Porco,” o mais recente lançamento da biblioterapeuta Clara Haddad, cativa os leitores com uma narrativa encantadora sobre uma idosa em busca de companhia. Inspirado em um conto popular inglês, o livro aborda temas como solidão, empatia e as transformações que ocorrem quando nos atentamos às necessidades dos outros. Com ilustrações vibrantes do talentoso artista colombiano Canizales, esta obra não apenas oferece uma envolvente história, mas também destaca a importância de compreender e lidar com as emoções, especialmente em relação ao isolamento dos idosos.

Pode compartilhar como surgiu a inspiração para adaptar esse conto popular inglês?

Quando criança, me encantei com a história “The Old Woman and Her Pig”, presente em uma coleção antiga chamada “Mundo da Criança”. A história, compilada por Joseph Jacobs, tornou-se especial pela presença de uma palavra mágica em minha infância: “Pinguela”, referente à ponte que a velhinha atravessava. A sonoridade dessa palavra permaneceu comigo ao longo dos anos. Apesar de perder o livro, a oportunidade de adquiri-lo em um leilão online anos depois reavivou minha paixão pelo conto. E, no verão de 2023 em Portugal, eu peguei vários livros para reler. Depois da leitura dessa história, decidi finalmente escrever minha própria interpretação, conectando-me à narrativa que tanto me encantou na infância.

Ao inserir um personagem ao final do conto, você oferece uma reviravolta. Como essa adição influencia a mensagem que deseja transmitir?

A adição de um personagem ao final do conto foi uma escolha deliberada para proporcionar surpresa e humor, ao mesmo tempo em que introduz uma reflexão sobre o amor na terceira idade. Essa reviravolta visa não apenas cativar o leitor com o inesperado, mas também explorar temas mais profundos relacionados ao envelhecimento e ao potencial de encontrar amor em diferentes fases da vida.

A solidão entre os idosos é um tema importante. Como você espera que essa história contribua para conscientização e ação sobre esse problema?

Acredito firmemente na importância de cuidarmos de nossos idosos, que dedicaram suas vidas a nós quando éramos jovens. O envelhecimento, por si só, muitas vezes leva à solidão, podendo agravar problemas de saúde mental e física. A obra conta a história de uma velhinha que se sentia sozinha e resolve ter um animal de estimação para lhe fazer companhia. Com esta ação da personagem, busco sensibilizar a partir da leitura do conto, a reflexão dos pequenos leitores para a importância de estar presente na vida dos idosos. E esse tema para mim é sensível, pois o contato com a minha avó na infância foi fundamental para mim e criou uma memória que vai durar para a eternidade.

Sua experiência em biblioterapia se destaca. Como você vê as narrativas infantis moldando a empatia nas crianças?

Acho que mais do que moldar, a palavra seja inspirar. A biblioterapia vale-se, essencialmente, da palavra. Seja oral ou escrita. E as palavras dos livros servem de ponto de partida para um trabalho biblioterapêutico. Por exemplo, o livro lança o tema e o leitor/ouvinte a assimila, valendo-se sempre de sua liberdade de interpretação, dando a possibilidade de dar sentido ou novos sentidos ao lido/ouvido. A biblioterapia, como técnica, utiliza histórias para explorar emoções e questões importantes. As histórias permitem que as crianças compreendam e expressem seus próprios sentimentos, além de cultivarem a empatia ao se identificarem com as experiências dos personagens.

Como colaborou com o ilustrador Canizales para garantir que as imagens complementassem efetivamente a narrativa?

Minha parceria com o ilustrador Canizales foi estabelecida após nos conhecermos na Itália durante a Bologna Children’s Book Fair em 2023. Fomos apresentados pelo nosso editor. Durante o processo de criação do livro, não interferi na abordagem artística dele. E acredito que a liberdade dada ao ilustrador permitiu que ele trouxesse sua própria visão da narrativa em forma de imagem.

Clara Haddad

A protagonista enfrenta dificuldades para encontrar ajuda. Qual é a mensagem subjacente sobre a sociedade e a disposição para apoiar os outros?

Penso que um dos temas transversais da história seja justamente essa reflexão: Será que nos ajudamos? Ou ajudamos quem nos pede ajuda?Estamos atentos a isso? A falta de apoio oferecido à velhinha levanta questões sobre a solidariedade e a disposição da sociedade para ajudar aqueles que enfrentam problemas, mesmo quando esses problemas não nos afetam diretamente.

Além da história principal, que mensagem específica você espera que as crianças absorvam dessa aventura da Velhinha e do Porco?

Além da diversão proporcionada pela história, desejo que as famílias leitoras considerem a importância da convivência com os idosos em suas vidas. A história de “A Velhinha e do Porco” serve como um lembrete gentil da partilha e do valor dos momentos compartilhados com os mais velhos.

Seu compromisso em ajudar as crianças a entenderem suas emoções é notável. Como vê a literatura como uma ferramenta para esse propósito?

A literatura desempenha um papel vital na exploração e compreensão das emoções em todas as idades. Nos permite questionamentos de vários tipos. A literatura nos instiga, emociona, inquieta… e, com as crianças, além de provocar isso tudo, as histórias oferecem uma maneira segura e envolvente de abordar temas emocionais complexos, promovendo a compreensão e a expressão saudável de sentimentos.

Dentre suas diversas obras infantis, como essa se destaca em relação ao impacto que espera causar nas crianças?

Na minha literatura, procuro abordar as emoções, os sonhos, a busca da realização do que queremos. Tudo isso com humor e leveza. Me inspiro na vida, nas pessoas, nos amigos e no que vejo, sinto e conheço do mundo e quero partilhar. No caso da obra “A Velhinha e o Porco”, acredito que se destaca dos meus outros títulos pela narrativa acumulativa, algo que cativa muito as crianças, a abordagem suave de temas difíceis como solidão e empatia, além de buscar criar a oportunidade de promover a reflexão nas famílias sobre a importância de valorizar os idosos.

Considerando a versão em inglês para leitores bilíngues, qual é a importância de oferecer essa experiência cultural e linguística às crianças?

Acho incrível a proposta da Telos Editora em ter uma coleção com livros em outros idiomas. Adorei saber que haveria também a edição em inglês da obra “A Velhinha e o Porco”. Oferecer uma versão em inglês não apenas amplia o alcance da obra dentro e fora do Brasil, mas também enriquece a experiência cultural e linguística para leitores de diferentes origens, abrindo portas, enriquecendo o universo literário e promovendo a inclusão.

Acompanhe Clara Haddad no Instagram

Share.