Nova ficção cristã de Vitória Souza explora desigualdades e fé em uma sociedade distópica

Luca Moreira
8 Min Read
Vitória Souza
Vitória Souza

A escritora Vitória Souza apresenta em Aurora, publicada pela Editora Mundo Cristão, uma trama que une ação, romance e mensagens de esperança em um cenário distópico marcado por corrupção e desigualdade. Na devastada nação de Kyresia, dividida em cinco territórios após um vírus catastrófico, a protagonista Helsye descobre ser imune ao Lanulavírus, tornando-se peça-chave em uma revolução libertadora liderada pelos Recolhedores. Com reflexões sobre fé, amizade e liberdade, o livro destaca princípios cristãos enquanto aponta para a redenção divina.

Como surgiu a inspiração para criar o mundo distópico de Aurora e como você o conectou aos princípios da fé cristã?

Quando escrevemos um livro, ele acaba refletindo todas as experiências e arte que consumimos ao longo da vida. O mundo distópico de Aurora tem muito do que vi na pandemia, em especial sobre as transformações que uma época tão sombria provocou na humanidade, mas também tem muito das minhas histórias favoritas, desde livros do C. S. Lewis até filmes do Studio Ghibli. Conectar isso à fé cristã acontece de forma natural porque, como alguém que ama a Cristo, é um hábito enxergá-lo em tudo e interpretar o mundo através da visão que temos da Palavra de Deus.

Helsye é uma personagem forte e cheia de determinação. Como foi o processo de desenvolvimento dela e de sua jornada de autoconhecimento e fé?

Escrever a Helsye foi desafiador porque ela é bastante diferente de mim. Porém, algo que temos em comum é a mania de tentar ser suficiente e esquecer que dependemos de alguém maior. Enquanto Helsye tenta ser uma heroína por conta própria, ela fracassa, pois só existe um que pode salvar o mundo. E é submetendo-se a Ele em sua perfeita sabedoria que ela se torna quem nasceu para ser.

O livro explora questões de corrupção, desigualdade e poder. De que forma você vê essas temáticas dialogando com o contexto atual?

Eu acredito que a ficção nos conta uma história e quando estamos envolvidos demais a ela, nos faz perceber que era a nossa. Desigualdade e corrupção são temas tão corriqueiros em nossa realidade que muitas vezes não nos incomodam como deveriam. Porém quando vemos os personagens que amamos sofrendo por algo semelhante, passamos a desejar algo diferente para eles e isso também nos leva a desejar um mundo diferente do lado de cá dos livros, e fazemos isso mudando o único comportamento sobre o qual temos controle: o nosso.

A imunidade de Helsye ao Lanulavírus a torna uma figura central na luta dos Recolhedores. Como você equilibrou essa ideia de resistência física com a fé espiritual?

Helsye é imune ao vírus por conta de algo que foi colocado dentro dela, e se desenvolveu durante a caminhada até que ela estivesse pronta. É exatamente assim que a vida cristã funciona. Existe algo dentro de nós, como uma semente, que produzirá frutos para o Reino de Deus, porém nem sempre estamos conscientes do tesouro que carregamos ou temos maturidade para exercer esse ministério. É a caminhada que nos aperfeiçoa se, durante ela, entendermos que é aquele que nos chamou e que sabe o que Ele mesmo colocou em nós que pode nos tornar quem nascemos para ser.

Em Aurora, você alterna os pontos de vista entre Helsye e Loryan. Qual foi a sua motivação para apresentar diferentes perspectivas na narrativa?

A ideia inicial era apresentar apenas o ponto de vista da Helsye. Porém, enquanto escrevia, percebi que a história do Loryan era densa demais para ser apenas um cenário secundário da história principal. Então decidi mostrar a transformação acontecendo do lado de dentro, dando acesso ao leitor aos pensamentos dos dois personagens, para que eles pudessem se conectar com ambos sem intermediários.

O personagem Ayah traz mensagens que remetem à Bíblia e ao perdão. Qual foi o impacto dele na história e o que você espera que os leitores absorvam dessas lições?

Ayah-Besar, que significa Grande Pai, é uma representaçao de duas Pessoas da Trindade. É a partir do seu aparecimento que a história muda completamente, assim como os personagens são de um jeito antes de encontrá-lo, e de outro quando chegam à Betel. O meu desejo é que Ayah, sendo apenas uma representação imperfeita do Eterno e de seu Flho, provoque saudades. Que suas palavras, gestos e ações lembrem, mesmo que vagamente, do quanto o Senhor nos ama e de não importa o quão perdidos, machucados ou envergonhados seus filhos estejam, há lugar à mesa do Pai para eles. Deus sempre dá um jeito de chamar suas crianças para casa, mesmo que seja através de uma história de ficção.

A fé e a esperança são elementos fundamentais na trama. Como você aborda esses temas para ressoar com os leitores, especialmente em um cenário distópico?

Aurora é o nome dado à luz da manhã que aparece entre a escuridão da noite e o dia claro e perfeito. Então o livro, nesse sentido, é sobre os milagres do meio do caminho. É sobre manter a esperança nessa fase em que não está mais tão escuro como antes, mas ainda não estamos no lugar onde desejamos estar, de que o Senhor é fiel para terminar a obra que ele começou. Assim como o universo diatópico de Aurora termina com uma batalha vencida, porém muitos desafios pela frente, essa história nos lembra que seja em qual fase estivermos, devemos continuar confiando em Deus e mantendo os olhos fixos nele, e então seguiremos adiante, para o sol do amanhecer.

Qual mensagem você gostaria que os leitores levassem de Aurora, especialmente em relação ao valor da luz e da redenção em meio às trevas?

Aurora é um grande e imperfeito convite. Mais do que uma história que fará os leitores perderem o fôlego ou darem risadas, Aurora foi escrito para que os filhos de Deus voltem para casa. Que se lembrem que não importa quão escuro esteja, o Senhor os vê. E que, se aceitarem o convite, nunca mais precisarão caminhar sozinhos, porque a Luz do mundo estará no caminho. E mesmo que ainda haja dificuldades, Ele sempre será suficiente.

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