Nick Souza busca referências no funk e R&B brasileiro para “No One”

Luca Moreira
13 Min Read
Nick Souza (Foto: Danyal Barden)

Canadense filho de pais brasileiros, o cantor, produtor e beatmaker Nick Souza faz de sua arte uma declaração de amor às suas raízes. “No One”, seu novo single, une funk, R&B e pop de um modo dançante e climático ao mesmo tempo. Este é um lançamento do selo MDC Music.

Em seus lançamentos anteriores, Nick Souza buscou referências que vão do chill funk em “Baile” às festas latinas em “Perreo”. Atualmente em passagem pelo Brasil em busca de referências e parcerias com criadores locais, o artista está em um mergulho na cultura local. Agora, Nick transforma em música a brasilidade que herdou de berço.

Buscando profissionalizar-se no mercado, Nick cursou música na Western University e Fanshawe College em Londres, Ontário, Canadá. Acompanhando o produtor e engenheiro Dan Brodbeck, indicado ao Grammy e vencedor do Juno Award, Souza se tornou um profissional com múltiplas habilidades: produtor, compositor, engenheiro de mixagem e masterização.

A carreira de Nick começou na sua residência universitária, com a produção do seu primeiro single e EP, “All The Way” e “Souza Szn, Vol.1” respectivamente, lançados em 2019. O sucesso do álbum o levou por clubs e outros palcos em Toronto, Hamilton e Londres, incluindo no Modrn Night Club, Mod Club, Mustang Lounge e The Wave. Nick vem consagrando o seu nome, não apenas como artista, mas também como engenheiro, compositor e produtor com alguns dos novos nomes da música de Toronto, incluindo Kafayé, Jonah Zed e Fleedoe.

Ao longo de 2020, Nick Souza participou do Beat Series, uma competição de música para lusófonos da zona de Toronto. No concurso apresentado pela MDC Media Group, Nick Souza enfrentou 12 concorrentes por um prêmio total de $5,000 e um contrato de gravação de álbum. Em novembro de 2021, lançou o seu primeiro single pela label, “Light Show”, pelo qual ganhou Melhor Performance Rap/Hip-Hop nos Prémios Internacionais da Música Portuguesa de 2022. Confira a entrevista!

Lançado recentemente, a música “No One”, fez referência às suas raizes brasileiras, utilizando-se do funk, do R&b e do pop para isso. Como foi que nasceu a ideia dessa nova música?

A ideia da mistura de estilos na produção é algo que eu sempre tento buscar nas minhas músicas. É uma característica minha, sendo que sou uma pessoa que tem essa dualidade de culturas. Eu acho que a produção tem que refletir isso pra ser mais autêntica a minha pessoa. O tema da música é um tema de relacionamento perdido, tipo um love song sobre um namoro que não deu certo.

Atualmente você está de passagem pelo país em busca de novas parcerias, e apesar de ser canadense, seus pais são brasileiros. Como tem sido a sua ligação musical com o Brasil e como faria um comparativo entre a musical brasileira e a canadense?

Essa estadia no Brasil agora está sendo muito importante pra mim – não somente pra buscar parcerias e influências, mais pra estabelecer mais concretamente a minha identidade como pessoa. Cresci com os meus pais sempre tocando música Brasileira e quando passava as férias aqui os meus primos sempre me mostravam o’que estava no auge na época, e eu levava essas referências de volta pro Canadá – então eu sempre tive um conhecimento mas nunca fui completamente imerso como agora. Sinto que essa imersão vai ser muito importante pra amadurecer a minha conexão com as minhas raízes. Eu acho que a música Brasileira, devido à língua Portuguesa, é bem mais expressiva do que a Canadense, e os ritmos Brasileiros são bem mais contagiantes – algo que eu acho que o Brasileiro só percebe e valoriza direito quando sai pra fora pra conhecer outras culturas. A música Brasileira mexe com a alma das pessoas de um jeito que outros estilos de música simplesmente não conseguem.

Nick Souza (Foto: Danyal Barden)

Diferente de seus lançamentos anteriores, onde buscava referências do chill funk até às festas latinas, essa vez você está explorando novos ritmos. Como tem sido passar por essa nova experimentação de ritmos e qual é o mais fácil de trabalhar?

Experimentar com novos ritmos sempre foi algo libertador pra mim. Sempre quis me posicionar como um artista que inova e apresenta estilos de música de um jeito inesperado e único. Por causa disso acho que toda experimentação é meio dificil porque é necessário tratar cada genero com um gosto e carinho muito cuidadoso pra não perder a essência dela na tentativa de misturar ela com as outras influências que eu tenho. Nesse momento oque me inspira mais é o funk, mais já experimentei com samba e bossa nova e pretendo trabalhar mais profundamente com esses ritmos e vários outros também.

Durante sua trajetória acadêmica, você chegou abcissas música na Western University e na Fanshawe College em Londres Ontário e Canadá. Posicionando mais para o mercado fonográfico, o reconhecimento e a cultura profissional de cada região são bastante contrastáveis?

É contrastável mas não bastante. Música é uma língua universal e não importa da onde que você seja – você falando a língua da música você pode se comunicar com gente do mundo inteiro – não importa a cultura ou o idioma. Claro que estilos e técnicas mudam de região pra região e estilo pra estilo, mas acho que as maiores diferenças que eu notei foram duas. A primeira sendo que no Brasil o processo criativo na maioria das vezes começa com a letra e a música é desenvolvida depois da letra. No Canadá a gente começa com a música ou o “beat” já encaminhado e o artista escreve a letra baseado nas emoções que ele ou ela sente quando ouve a base do beat. A segunda é na questão de mixagem e masterização. Os engenheiros gringos várias vezes fogem da distorção digital para conseguir um som limpo e “comercial” enquanto os Brasileiros não tenham medo de introduzir a distorção para conseguir um som bem alto que bate forte. Isso é bastante aparente no funk.

Durante esse projeto, você teve o acompanhamento do produtor Dan Brodbeck, indicado ao Grammy e vencedor do Juno Award. Como foi a troca de vocês nessa parceria?

O Dan sempre foi um mentor pra mim na música. Quando acho apropriado eu mando as minhas faixas inéditas pra ele criticar e dar suas opiniões. Ele sempre falava que é muito importante eu incorporar os elementos das minhas raízes culturais na minha música pro meu trabalho virar algo único que reflete quem eu sou. Ele deixou bem claro pra mim que devo desenvolver a trilha sonora e o legado musical do povo que faz parte de várias culturas ao mesmo tempo. Ele sempre me apoia.

Nick Souza (Foto: Danyal Barden)

Hoje em dia, você se tornou um artista de múltiplas habilidades, tais como a produção, composição, engenharia de mixagem e masterização. Gostaria de saber um pouco mais sobre como foi o seu início na carreira musical?

Eu comecei em casa fazendo beats e escrevendo letras em cima dos beats que eu fazia. Mas claro que no começo eu tocava os meus beats e logo depois tocava as músicas dos meus artistas favoritos e o som deles era bem mais forte, claro, e alto. Ao perceber isso eu fui atrás de ver porque o trabalho deles era tão melhor sonoramente do que meu e daí eu comecei a estudar e praticar mixagem e masterização na internet. Meu primeiro trabalho pago na indústria musical foi gravando músicas pra outros artistas em um estúdio ao lado da minha casa no Canadá. Eu trabalhava em um estúdio e os artistas alugavam o espaço pra trabalhar comigo e gravar suas músicas. Foi através disso que começei a fazer os meus contatos e a crescer na cena em Toronto.

Sobre seu processo de composição, como geralmente ocorre o seu processo criativo e quais são elementos vitais que não podem faltar em uma música sua?

Normalmente eu começo no piano achando tons, timbres e cordas que me movem. Depois disso já começo a murmurar e improvisar algumas melodias pro meu vocal que cairiam bem com os timbres que gravei no teclado. Quando acho as melodias que eu quero eu começo a decodificar meus murmúrios e torná-las em letras, e a medida que vou escrevendo cada letra vou desenvolvendo a instrumentação também. Eu faço a letra e o beat sincronizadamente.

No decorrer da sua caminhada, você se apresentou ao lado de grandes nomes, tais como Kafayé, Jonah Zed e Fleedoe, artistas conhecidos da cidade de Toronto. Qual foi o seu momento mais marcante até hoje na carreira?

Está tudo muito novo pra mim. Eu não consigo pensar em um momento específico que foi mais marcante do que os outros. O fato de eu estar vivendo meu sonho lançando músicas, tocando shows, conquistando novos fãs e apoiando os meus colegas que estão seguindo no mesmo caminho ainda é bem surreal pra mim. Eu não consigo pensar em uma só coisa que se destaca das outras. Acho que esse momento está pra vir ainda.

Em 2020, você participou de uma experiência nova ao fazer parte do “Best Series”, concurso de música para lusófonos, onde enfrentou 12 concorrentes, ganhou $5000 e saiu com um contrato de gravação para um álbum. Como foi a experiência na competição?

A experiência foi boa. A competição foi bem disputada e eu estou feliz que eu fui escolhido pra ganhar os prêmios. Foi uma grande conquista e abriu muitas portas pra mim, mais com essa nova conquista vem muito mais desafios para superar se eu quero chegar ao ponto que estou prevendo e manifestando, e eu estou pronto pra enfrentar essa subida longa e difícil.

Outra investida importante foi no single “Light Show”, pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Performace Rap/Hip-Hop nos Prémios Internacionais da Música Portuguesa de 2022. Pode falar um pouco mais dessa música?

Essa música pra mim foi um jeito de lidar com as amizades que se dissiparam durante a pandemia. Foi um tempo bem difícil pra mim e essa música me ajudou muito a purgar a tristeza e solidão que eu estava sentindo. Isso é a primeira função da musica pra mim nesse momento – eu uso ela pra me livrar dos sentimentos que estão presos dentro da minha alma. O fato de eu ter ganhado um prêmio pela música é uma grande confirmação que eu estou fazendo o meu trabalho bem-feito e pelos motivos certos.

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