Especialista aponta que a cobrança para “dar conta de tudo” tem feito crescer os casos de depressão, ansiedade e perda de identidade feminina.
A ideia de que a mulher precisa ser “multitarefa” — mãe exemplar, profissional de sucesso, esposa dedicada, filha presente e amiga disponível — está cobrando um preço alto pela saúde emocional feminina. Pesquisas recentes mostram que a sobrecarga de papéis tem levado a níveis alarmantes de exaustão e adoecimento.
Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que as mulheres têm duas vezes mais chance de desenvolver depressão em relação aos homens. Já o relatório “Mulheres no Trabalho”, publicado pela McKinsey em 2024, indica que 78% das mulheres brasileiras relatam sintomas de ansiedade, estresse ou insônia relacionados ao acúmulo de responsabilidades.
Além da carga mental, os números revelam desigualdade concreta: segundo o IBGE, as mulheres ainda dedicam, em média, o dobro de horas semanais ao trabalho doméstico não remunerado em comparação aos homens, mesmo quando têm jornada integral fora de casa.
Para a psicóloga e terapeuta integrativa Laura Zambotto, de Jundiaí (SP), esse cenário é um alerta: “Muitas mulheres chegam até mim sentindo que perderam a própria identidade. Elas se definem apenas pelos papéis que ocupam — mãe, esposa, filha, profissional — e esquecem quem são em essência. Esse apagamento pessoal gera sofrimento psíquico profundo e, muitas vezes, crises de ansiedade, depressão e dificuldades nos relacionamentos”, explica.
Laura, que comanda a Casa das Rosas Terapias Integrativas®, acredita que o problema não está em ser múltipla, mas em acreditar que é preciso ser perfeita em todos os papéis o tempo todo. “Quando a mulher aprende a se colocar como prioridade, sem culpa, ela resgata força e equilíbrio. O autocuidado não é luxo, é uma questão de saúde pública”, defende.
O fenômeno da chamada “síndrome da mulher maravilha” vem ganhando destaque no meio acadêmico. Pesquisadores da USP publicaram em 2023 um estudo ligando a sobrecarga feminina ao aumento de quadros de burnout doméstico, caracterizado por exaustão emocional crônica causada pela soma de trabalho remunerado e tarefas do lar.
Diante desse cenário, iniciativas como o Projeto Uma Nova Mulher, criado por Laura neste ano, buscam oferecer caminhos de reconexão com a identidade feminina. “Quando uma mulher desperta para si, ela melhora não apenas a própria vida, mas também o ambiente familiar e social em que está inserida”, afirma.
Especialistas reforçam que trazer luz a esse debate é fundamental para combater o avanço silencioso de doenças emocionais. Afinal, enquanto a sociedade continuar exigindo que mulheres deem conta de tudo, o custo continuará sendo pago em forma de saúde mental.