Brasileiro usa pouco filtro solar e está deixando o produto fora de sua lista de compras

Luca Moreira
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O primeiro verão em um cenário mais controlado de pandemia se anuncia no Brasil. Com a nova estação, é esperado o aumento no número de banhistas em praias e piscinas. Porém há cuidados fundamentais que ainda precisam ser colocados em prática. Completar o ciclo vacinal contra a Covid-19 é a prioridade da lista. Mas juntamente com a pandemia, há fatos que vêm preocupando os especialistas. De acordo com uma pesquisa que envolveu 2.165 pessoas em 27 estados brasileiros, 62% da população não aplica filtros solares diariamente. “Na falta de campanhas de conscientização durante a pandemia, temos uma população desatenta à necessidade do uso de fotoprotetores, que são essenciais contra os nocivos raios ultravioleta”, afirma o especialista em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Lucas Portilho, que há cinco anos lidera este estudo nacional sobre a utilização de fotoproteção. Para o especialista, tão preocupante quanto o comportamento do brasileiro é o preço dos filtros solares. Os insumos para a fabricação sofrem impactos diretos da alta do dólar e isso tem tirado o produto da lista de compras.

Mestre em Ciências Médicas com ênfase em Proteção Solar, Portilho destaca que em 2019 60% da população não fazia uso diário de protetores solares. “Em 2015, eram 53%, mas em 2021, com um avanço em 62%, a situação acende um alerta para a comunidade médica”, diz.

Outro dado significativo apontado na pesquisa liderada por Lucas Portilho revela uma dúvida dos brasileiros. “O estudo mostra que, em 2021, 70% da população não tem a mínima ideia da quantidade de fotoprotetor a ser usada. E sem saber quanto aplicar, a pessoa pode achar que está protegida quando, na verdade, tem áreas descobertas na pele”, afirma.

Outro hábito importante para proteger a pele, ignorado por 64% dos entrevistados na pesquisa, é a necessidade de reaplicar o filtro solar de tempos em tempos e depois de sair do mar ou da piscina. Em 2019, eram 67%, aponta o especialista.

Lucas Portilho avalia que é preciso extremo cuidado com a radiação UVB, que causa as incômodas queimaduras solares. Porém, a preocupação com fotoproteção não se restringe às praias e piscinas. “Há também os raios UVA, que atravessam vidros e janelas e penetram profundamente na pele, chegando à derme, onde estão as fibras de colágeno e elastina”, destaca. “Os radicais livres gerados por esta radiação promovem a degradação destas fibras e causam fotoenvelhecimento, rugas, linhas de expressão, flacidez e manchas.” O especialista atenta ainda para os riscos de câncer de pele. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no triênio 2020-2022, a estimativa é de 177 mil novos casos de câncer de pele não melanoma no Brasil.

No levantamento encabeçado por Portilho, há um índice a ser comemorado. O especialista mostra que o número de pessoas que ignora a proteção UVA ao escolher um filtro solar vem diminuindo ano a ano. “Em 2016, representava 71% dos consumidores. Em 2021, são 59% contra 60% em 2019”, diz.

Outros dados da pesquisa

– FPS 30, 50 e 60 são os preferidos dos usuários.

– Em 2021, mais da metade da população (55%) não utiliza o produto em dias nublados. Em 2019, eram 68%; 63% em 2017 e 50% em 2016.

– 44% se expõem ao sol apenas pela manhã por acreditar ser o horário mais seguro (50% em 2019; 43% em 2017 e 41% em 2016).

– 13% em 2021 utilizam roupas para se proteger do sol (9% em 2019; 5% em 2017 e 7% em 2016).

– Apenas 12% consultam o dermatologista para indicação do melhor filtro; mesmo número do ano de 2019 (10% em 2017 e 6% em 2016).

O especialista que atua há mais de 12 anos desenvolvendo fotoprotetores observa que a atual crise financeira colocou o filtro solar em segundo plano na lista do consumidor. Muitas das matérias-primas utilizadas na formulação dos protetores são importadas e sujeitas às oscilações do dólar, o que encarece o produto na prateleira. “Quando se pensa em desistir de levar um filtro solar para casa, é preciso lembrar que o Brasil é um dos países com maiores índices ultravioleta do mundo”, diz. “Por tudo o que já se sabe sobre doenças de pele e câncer e a eficácia dos fotoprotetores para evitá-las, é possível afirmar que o bronzeado do verão nem sempre é sinal de saúde”, finaliza.

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