A enfermeira Fernanda Mascarenhas, mentora em salas de vacinas aponta que  a mudança visa aumentar a eficácia da imunização e eliminar os riscos associados ao uso do vírus vivo atenuado, garantindo uma proteção mais segura contra a poliomielite

Desde Julho de 2023, o Ministério da Saúde anunciou a substituição gradual da vacina oral contra a poliomielite, popularmente conhecida como “gotinha”, pela versão injetável. Em uma live conjunta com o CONASEMS, o Ministério da Saúde anunciou a previsão de que, a partir de meados de setembro de 2024, todas as vacinas administradas no País sejam injetáveis. “Essa mudança é um passo essencial para evitar a reintrodução da doença em regiões onde já foi erradicada”, comenta. 

A vacina inativada (VIP), administrada via injeção, já é aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade, de acordo com o Calendário Nacional de Imunização, com a nova recomendação, às doses de reforços, que anteriormente incluíam uma dose oral aos 15 meses e outra aos 4 anos, passarão a ser exclusivamente injetáveis, sendo administradas apenas aos 15 meses. Este novo esquema vacinal elimina a necessidade do reforço aos 4 anos, garantindo uma proteção contínua e eficaz.

Fernanda Mascarenhas, explica a importância dessa transição: “O uso continuado de vacinas com o vírus vivo atenuado, como a VOP, apresenta riscos, especialmente em contextos de baixa cobertura vacinal. Há sempre a possibilidade, embora pequena, de o vírus vacinal sofrer um processo de mutação e causar poliomielite derivado da vacina. Com a VIP, eliminamos esse risco, garantindo uma proteção segura e eficaz.”

A poliomielite está erradicada em quase todo o mundo, exceto no Afeganistão e Paquistão, onde ainda são registrados casos de poliovírus selvagem. No Brasil, a doença foi declarada erradicada em 1994, mas a queda na cobertura vacinal nos últimos anos tem gerado preocupações. Em 2023, a cobertura vacinal contra a poliomielite ficou em apenas 77,19%, muito abaixo da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Saúde adotou um microplanejamento, estratégia que adapta as ações de vacinação às realidades locais de cada município. “Eles estão intensificando as ações em regiões com baixas taxas de vacinação, como áreas indígenas e estados de fronteira. A vacinação em creches, escolas de educação infantil e a busca ativa de não vacinados são algumas das medidas que eles estão implementando para aumentar a cobertura vacinal e posteriormente o encerramento da vacina de gotinha”, detalha Fernanda Mascarenhas.

A atualização do esquema vacinal é vista como um avanço significativo. “A transição para a vacina injetável é um passo crucial para a saúde pública. Com o vírus selvagem praticamente erradicado, precisamos focar em métodos de imunização que não apresentem riscos de disseminação do vírus vacinal”, reforça Mascarenhas. “A VIP não só elimina esses riscos, mas também oferece uma imunidade robusta e duradoura contra a poliomielite.”

A substituição da vacina oral pela injetável marca uma nova era na luta contra a poliomielite no Brasil. Essa medida, alinhada com as recomendações internacionais, visa garantir uma imunização segura e eficaz, mantendo o país livre da poliomielite e protegendo futuras gerações de crianças brasileiras. “Estamos comprometidos em retomar as altas coberturas vacinais e assegurar que cada criança tenha acesso a vacinas seguras e eficazes. Essa mudança é um marco importante nesse processo”, conclui Fernanda Mascarenhas.

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