Alessana Franciele Schlichting, pesquisadora da Universidade Federal de Rondonópolis, afirma que o modelo transforma resíduos em insumos e fortalece a competitividade do agronegócio brasileiro.
O modelo de economia circular, que propõe reinserir resíduos na cadeia produtiva e reduzir desperdícios, pode gerar ganhos econômicos expressivos. Projeções da Fundação Ellen MacArthur apontam que a adoção global dessa prática tem potencial de movimentar até US$ 4,5 trilhões até 2030, com impacto direto em setores como agricultura e indústria.
No Brasil, onde o agronegócio responde por cerca de 25% do PIB, o tema ganha força diante da dependência externa de insumos. Dados da FGV Agro mostram que, em 2023, os fertilizantes representaram aproximadamente 30% do custo de produção da soja, em um cenário em que 85% da demanda nacional é suprida por importações.
Para a doutora em Agricultura Tropical e pós-doutoranda da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Alessana Franciele Schlichting, a transição para esse modelo pode mudar a lógica da produção no campo. “A economia circular aplicada ao campo significa ressignificar resíduos que antes eram descartados e integrá-los de volta ao ciclo produtivo, seja na forma de adubos, corretivos de solo ou fontes alternativas de energia”, afirma.
Pesquisas da Embrapa já demonstraram que o uso de resíduos agroindustriais, como cinzas vegetais e subprodutos orgânicos, pode reduzir em até 20% a necessidade de fertilizantes químicos em determinadas culturas, além de contribuir para a recuperação de áreas degradadas. Segundo Schlichting, o impacto vai além da produtividade. “Quando aproveitamos resíduos, reduzimos a pressão sobre recursos naturais, diminuímos custos de produção e transformamos o que era passivo ambiental em ativo econômico”, explica.
A pesquisadora também destaca que a adoção desse modelo acompanha a mudança de comportamento dos consumidores. Um levantamento da McKinsey em parceria com a FGV revelou que 62% dos brasileiros consideram critérios de sustentabilidade ao escolher alimentos. “O mercado tem valorizado práticas sustentáveis, e a agricultura que adota economia circular se posiciona de forma competitiva, mostrando que é possível aliar produtividade, responsabilidade ambiental e retorno econômico”, observa Schlichting.
O desafio, no entanto, está em ampliar a escala. “A economia circular não pode ficar restrita a experiências pontuais. É preciso transformar esse conceito em política agrícola, com investimentos em pesquisa, capacitação e incentivos que alcancem o produtor rural em diferentes regiões”, conclui a pesquisadora.