Bullying: o mal do século e como isso atinge a vida das crianças e gera reflexos para os adultos

(Priscila Santos, na capa)

O bullying é um problema complexo, capaz de deixar marcas emocionais e psicológicas profundas nas vítimas. Estima-se que 23% dos brasileiros já tenham passado por essa experiência, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O impacto, como explica a pediatra e psiquiatra infantil Flávia de Freitas Ribeiro, vai além do presente, podendo gerar alterações no cérebro que afetam memória, atenção e controle emocional, além de aumentar em 40% o risco de depressão e ansiedade na vida adulta. “Essas alterações no cérebro podem resultar em dificuldades emocionais e de socialização ao longo de toda a vida, reforçando a importância de uma intervenção precoce,” afirma.

Para os pais, o primeiro passo é criar um ambiente seguro e aberto em casa, onde a criança sinta que pode compartilhar suas experiências. A pediatra sugere: “A escuta ativa é fundamental. Muitas crianças podem não falar abertamente sobre o bullying por vergonha ou medo de piorar a situação. Por isso, os pais precisam ficar atentos a sinais indiretos.”

“Fortalecer o ambiente familiar foi fundamental,” conta DJ Anabzzi, ao recordar seu próprio caso de bullying por usar óculos, sendo chamado de “quatro olhos”. “No meu caso, eu tinha a sorte de ter pais que sempre conversavam muito comigo, ajudando a fortalecer minha mente e me ensinar a não me deixar abalar por comentários desse tipo.” Essa base familiar, segundo ele, foi decisiva para enfrentar as provocações.

(DJ Anabzzi)

Nas escolas, a psicóloga clínica e escolar Camila da Silva Conceição, da Legacy School, destaca a importância de promover respeito e empatia. “Ensine as crianças a respeitarem as diferenças e a se colocarem no lugar dos outros”, afirma. Ela recomenda que os educadores realizem palestras e workshops para conscientizar sobre o bullying, suas consequências e como agir. Além disso, professores e funcionários devem ser capacitados para identificar sinais de bullying e agir de acordo com uma política clara contra essa prática.

A pedagoga Teresa Daltro, diretora da Rede Daltro, observa os sinais comuns do bullying, como o comportamento repetitivo, a intenção de causar dano e a desigualdade de poder entre agressor e vítima. Entre os efeitos, ela destaca a evasão escolar e o declínio do desempenho acadêmico. Para Daltro, é essencial que tanto pais quanto educadores fiquem atentos a mudanças comportamentais e trabalhem juntos para oferecer um ambiente acolhedor.

Priscila Santos, conhecida no meio empresarial como a ‘Rainha dos Reboques’, também enfrentou o bullying em sua infância. “Me chamavam de ‘cadeiruda’ e ‘Xuxa Preta’ porque eu era fã da Xuxa, mas não tinha o perfil das paquitas”, relembra. As palavras feriam, mas o apoio de sua mãe a ajudou a entender que era uma criança normal, fortalecendo sua autoconfiança. “Graças a Deus, eu tive uma estrutura familiar muito boa, que abriu minha mente para não viver nessa bolha de bullying e preconceito.”

 

Além da ajuda familiar, iniciativas criativas nas escolas têm se mostrado eficazes para conscientizar. No Colégio RCS, no Rio de Janeiro, os alunos produziram um curta-metragem sobre bullying, abordando temas como transtornos e deficiências ocultas. No filme, a alegoria de uma “cabeça de abóbora” representa a experiência de uma criança autista, mostrando a importância do ambiente escolar para o desenvolvimento saudável de todos os alunos. A psicóloga Camila destaca que “iniciativas como essa promovem a reflexão e contribuem para a construção de um ambiente mais empático.” O curta-metragem pode ser assistido no YouTube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=uZelRzlN4Es.

O ator Haysam Ali compartilha a própria experiência para ilustrar o impacto do bullying ao longo da vida. “O bullying é um tema sério e precisa ser tratado como tal. Passei por isso desde pequeno por não me comportar como ‘macho’, e isso gerou muita insegurança”, diz. Haysam explica que só conseguiu superar o trauma com ajuda profissional e hoje usa sua voz para conscientizar sobre a gravidade do problema. “Precisamos ter empatia e abrir espaço para conversas sobre esse tema, criar consciência como sociedade. Só assim poderemos evoluir.”

(Haysam Ali)

Ao ouvir quem passou por essa experiência e os especialistas que lidam diariamente com suas consequências, fica claro que o combate ao bullying envolve o fortalecimento do ambiente familiar, a conscientização no ambiente escolar e o apoio da sociedade como um todo. Cada passo é crucial para que o bullying não seja apenas superado, mas compreendido e prevenido, minimizando suas consequências a longo prazo.

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