No mesmo dia em que milhões celebraram o festival dedicado a Ganesha na Índia, a cantora Zen Moraes e o multi-instrumentista Marcos Mohan lançaram o single “Ganesha Sharanam Mantra Dance”, já disponível nas plataformas digitais. A faixa, acompanhada de videoclipe gravado em São Paulo e na Índia, marca o início do projeto Mantra Bossa Lounge, que une tradição espiritual e sonoridades contemporâneas em uma fusão entre mantras milenares e influências da música popular brasileira.
O lançamento de vocês coincide com o festival de Ganesha, um dia tão especial na Índia. Como foi para vocês preparar esse encontro entre a espiritualidade e a música justamente nessa data simbólica?
Escolhemos lançar nesse dia propositalmente. Inclusive, a música Ganesha foi a primeira que gravamos em estúdio, justamente pela importância que damos ao ritual de Ganesha, que é sempre o primeiro a ser invocado.
O projeto “Mantra Bossa Lounge” une mantras milenares com elementos da música brasileira e moderna. Em que momento vocês sentiram que essa fusão poderia realmente criar algo único?
Tivemos uma resposta muito positiva quando apresentamos essas músicas ao vivo na Índia. O público era bastante internacional, vindo de diversos continentes. A música brasileira, com nosso jeito de cantar e tocar, é muito atraente e está associada à fama do Brasil como um país de cultura vibrante, com pessoas alegres e calorosas. Como o estudo do Yoga e o canto de mantras na Índia são fortíssimos e atraem pessoas do mundo inteiro, entendemos que unir esses dois universos seria, em primeiro lugar, um prazer para nós e, ao mesmo tempo, algo bem recebido pelo público.
Vocês já apresentaram esse trabalho tanto no Brasil quanto na Índia. O que mais chamou a atenção de vocês nas diferentes reações do público em cada país?
No Brasil, geralmente nos apresentamos em retiros de Yoga e em centros de estudo e prática, onde o público é direcionado, todos cantam junto e entram na vibração. Já na Índia, além de apresentações em alguns ashrams, também cantamos ao ar livre, sentados à beira do rio Ganges. Foi especial ver como as pessoas foram se juntando ao nosso redor, de diferentes perfis, e curtindo a música. Os indianos adoram pedir autógrafos e tirar selfies, o que foi muito gratificante.
O videoclipe traz registros da Índia, como o Rio Ganges, e também participações de bailarinas de um projeto social. Qual foi o impacto pessoal de viver e registrar essas experiências para depois compartilhá-las na música?
As bailarinas são meu xodó! Sempre que vou ao sul da Índia me envolvo com elas, e têlas no clipe é uma verdadeira honra. Sei como é difícil para elas se dedicarem à dança, já que a comunidade de onde vêm enfrenta muitas limitações financeiras. Para elas, a dança é um resgate de dignidade, e se dedicam de corpo e alma. Parte do propósito desse trabalho musical é também mostrar a Índia para o mundo. Gravar lá foi uma forma de expressar nossa admiração pelo país e pela espiritualidade tão presente em sua tradição, com a qual nos identificamos profundamente.

A sonoridade de vocês combina violão, percussões brasileiras e instrumentos indianos tradicionais, como o sarod e o harmônio. Como foi o processo de equilibrar essas duas linguagens musicais no estúdio?
Acho maravilhoso termos hoje as ferramentas de produção musical que permitem unir universos sonoros diferentes. Nossa inspiração vem de muito antes, quando ouvimos as gravações de Ravi Shankar e George Harrison tocando juntos nos anos 70. Em Delhi, compramos nossos instrumentos indianos do mesmo luthier que fabricou os deles. Só nisso já existe uma linda história de tradição familiar, de linhagem musical e de reverência pelo som e pelos artistas da música clássica indiana. Um dia, na presença de vários pandits, mestres da música Indiana, tocamos no violão Garota de Ipanema e Wave, de Tom Jobim. Foi emocionante sentir o respeito e o carinho que eles tiveram conosco. Isso mostra que a boa música não tem fronteiras e pertence ao mundo. Colocar tudo isso em prática no estúdio, para criar este álbum, foi um processo de aplicar nossa musicalidade somada às nossas experiências.
Vocês mencionam que a música pode ser apreciada tanto em práticas de meditação quanto em situações cotidianas, como uma viagem de carro. Que sentimentos ou estados vocês esperam despertar nas pessoas quando escutam essa obra?
Em primeiro lugar, queremos despertar um estado de alegria. E, por ser um mantra, que é também uma oração, nossa intenção é trazer leveza e uma conexão elevada com a espiritualidade, independentemente da religião. Acredito que todas as orações e boas intenções são muito válidas e necessárias hoje em dia. Não importa o idioma ou as particularidades de cada tradição espiritual: no centro de cada ser, o aspecto Divino é o mesmo.

O projeto reverencia divindades de diferentes tradições, de Ganesha a Jesus Cristo. O que essa pluralidade espiritual representa para vocês como artistas e como indivíduos?
Eu vejo Deus em diversos nomes e formas. Cada cultura tem seu idioma, sua tradição e seu modo de se aproximar do Divino. Cantar esses nomes sagrados é, para nós, um ato profundamente espiritual. Poder unir nossa paixão pela música a um propósito elevado sempre foi nosso objetivo.
Se a música não tem fronteiras, como vocês mesmos afirmam, qual é o maior sonho de vocês com esse trabalho em termos de alcance e conexão com o público ao redor do mundo?
Nosso maior desejo é que essa música seja compartilhada, que muitas pessoas cantem os mantras e que o poder dessas orações seja amplificado pelo mundo.

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