No dia 05 de dezembro, o cantor e compositor Zen Mariano lançou “Contraste Emocional”, faixa que chega aos aplicativos de música unindo sensibilidade pop e crítica social para retratar amores que enfrentam barreiras impostas pela desigualdade. Inspirada em histórias reais, a canção parte da imagem de um jovem da periferia tentando conquistar alguém de um universo completamente oposto — um encontro afetivo atravessado por julgamentos, expectativas e distâncias criadas pelo próprio tecido social brasileiro. “É mais comum do que parece”, afirma o artista, que transforma essa vivência em poesia direta e contundente.
A sonoridade acompanha a narrativa desse choque de mundos, iniciando com uma flauta que evoca delicadeza antes de se abrir em um pop vibrante e contemporâneo. Produzida por Luciano King — baterista de Zeca Pagodinho —, a faixa reúne Tony Cantisano (guitarra), Liandro Goes (flauta), Zamba (teclado) e Ramom Torres (baixo), criando uma atmosfera que equilibra leveza, tensão e movimento. O resultado nasceu de um processo criativo de três anos, tempo necessário para que Zen lapidasse uma letra que, embora curta, carrega densidade emocional e crítica: “A música fala de uma realidade dura, onde padrões financeiros e estéticos ainda definem quem merece amar.”
O lançamento ganha força adicional com o videoclipe dirigido por Jacson Félix, gravado nas ruas do Rio de Janeiro e marcado pela espontaneidade do encontro com moradores locais — além da simbólica presença do Cristo Redentor no horizonte. A música e o vídeo se unem para reforçar a mensagem central: amores atravessados pela desigualdade não deveriam ser exceção nem tabu, e falar sobre isso é tão urgente quanto necessário.
“Contraste Emocional” nasce de uma história sobre amor atravessado pela desigualdade social. Em que momento você percebeu que essa era uma narrativa que precisava virar música — e o quanto ela dialoga com experiências reais que você já viveu ou testemunhou?
Vivi em 2018 – Eu me envolvi com uma mina de uma classe bem diferente da minha e percebi que ela enfrentou muitas coisas junto comigo. A família dela tem um condição financeira bem alta, o ciclo de amizade também e foi base para à inspiração. E eu realmente ia ao seu encontro de ônibus.
A composição levou três anos até ficar pronta. O que mudou em você, como artista e como pessoa, nesse processo tão longo, para que a letra chegasse ao ponto que você queria?
Eu levei esse período para concretizar a letra porque de lá pra cá eu amadureci muito como artista , e vejo que outras pessoas passam por isso. Eu a reescrevi diversas vezes, pois eu queria trazer algo que fosse moderno e ao mesmo tempo expressasse um cenário que afasta muitos corações que se amam.
A música começa suave, com flauta, e evolui para um pop mais energético. Por que era importante que a sonoridade também refletisse esse contraste entre mundos tão diferentes?
Sim, a música começa num estilo bem suave, a flauta camufla oque viria a seguir, a introdução da música já transmite a realidade! No refrão temos uma mistura de ritmos , pop, pop reggae, samba etc que remete a minha realidade. A realidade do suburbano, temos um início clássico e uma resolução popular.
Você reuniu músicos de peso no arranjo, como Luciano King e Tony Cantisano. Como foi trabalhar com uma equipe tão experiente e de que forma essa troca ajudou a ampliar a força emocional da faixa?
Esse ponto foi importantíssimo para o resultado, eu enviei a base o Luciano King que é baterista do Zeca Pagodinho e quando ele me chamou para fazer a voz guia eu fiquei surpreso. A sensação de gravar com a banda é maravilhosa, o astral é muito envolvente. Foi uma equipe fantástica, o Tony Cantisano é um músico fera demais , que guitarrista magnifico.
A canção aborda um preconceito que muitas vezes é silencioso, mas muito presente: o choque entre classes. Você já sentiu esse tipo de barreira na pele? Que conversas espera provocar com essa música?
Sim , já vivenciei e ainda vivo! O preconceito entre classes socias ainda é muito grande, e muita das vezes nem pelos envolvidos no romance , mas muita das vezes pela família, amigos e pessoas próximos. Pois quando o amor chega nada consegue desfocar a vontade de estar perto um do outro e ser feliz. Eu tenho certeza que Contraste Emocional vai tocar o coração de muita gente , e trará a conscientização de que é melhor um amor puro e verdadeiro que algo para agradar aos outros.
O videoclipe foi gravado nas ruas do Rio de Janeiro e contou com a interação espontânea de moradores. Houve algum momento das filmagens que te marcou especialmente e que talvez não estivesse no roteiro?
Gravamos na rua Voluntários da Pátria em Botafogo, muita gente ficou curiosa, muita gente passava e e se envolvia no clima, um fator que me recordo foi de um jovem angolano passando e participou naturalmente, uma senhora que trabalhava na farmácia saiu da loja e acompanhou a filmagem.
O Cristo Redentor aparece como pano de fundo em cenas do clipe. Esse símbolo foi escolhido apenas esteticamente ou ele representa também uma metáfora dentro da história que você quis contar?
O Cristo Redentor no clipe representa a igualdade, que independente da classe sociais somos abençoados de forma igualitária. E também por ser o cartão postal do Rio de Janeiro.
“Contraste Emocional” expõe feridas sociais, mas também fala de esperança. O que você acredita que ainda pode transformar — no amor, na arte ou na sociedade — para que esses contrastes deixem de ser tão dolorosos?
Eu tenho a esperança que muita coisa boa já esteja acontecendo, a movimentação cultural derruba barreiras e une todas as classes sociais. Eu acredito que o futuro será bem melhor e que essas contrastes sociais, emocionais e culturais um dia serão apenas coisas do passado.
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