No universo de Bela Leitura, onde figuras literárias icônicas ganham novas vidas e ocupações, o escritor Vinícius Lima Costa nos leva a uma jornada com Arquimedes, um bibliotecário peculiar. Em “Conspiração Literária: O patrulheiro literário”, Arquimedes se vê recrutado para desvendar mistérios e enfrentar o enigmático “Sabotador”, enquanto interage com nomes como Shakespeare e Conan Doyle. Apesar dos desafios, ele encontra conforto na música dos Beatles e outras bandas, que permeiam a narrativa como uma trilha sonora envolvente.
Como surgiu a ideia de criar a série “Conspiração Literária” e transportar figuras icônicas da literatura para uma realidade paralela?
Minhas pretensões iniciais foram muito, mas muito mais modestas. Estava num momento da vida que sentia a necessidade de me reinventar. Comecei a ler obcecadamente romances policiais, pois me considerava um tanto quanto “sem conteúdo” para criar algo, e encontrei em Maurice Leblanc e seu “Ladrão de Casaca” um personagem fascinante, um anti-herói. Tratava-se de uma fase na vida em que questionava valores e objetivos.
Por outro lado, achava tal personagem excessivamente afrontoso a minhas convicções e percebi que deveria também ler sobre um herói da literatura mais convencional, ou seja, livros de Arthur Conan Doyle sobre Sherlock Holmes. Além de não me sentir com conteúdo, ficava incomodado em não saber que nomes poderia atribuir aos personagens de uma história que porventura eu fosse escrever. Fascinava-me o fato de que alguém podia ser fã daquele a quem se contrapõe, o que é o caso de Arsene Lupin em relação a Sherlock Holmes. Depois de ler sobre romance policial, passei para outros gêneros, mas ainda sem um objetivo definido.
Foram dois anos de muita leitura até que senti naturalmente aflorar de mim um pequeno texto de meio de história na qual os personagens fossem autores da vida real. Resolvido o problema dos nomes e começava aí a ser construída uma história com conteúdo. Depois de um tempo lendo e escrevendo sobre literatura ocidental, vi que poderia fazer o mesmo com a literatura oriental e, em seguida, percebi que também poderia transportar para a história fatos da minha vida de uma forma simbólica. Ao final, notei que a história estava grande demais para um único livro, daí surgiu a necessidade de transformar em uma série.
Em “O patrulheiro literário”, o protagonista Arquimedes é recrutado para enfrentar o misterioso “Sabotador”. O que você pode nos contar sobre os desafios que ele enfrenta ao longo da história?
Minha obra é simultaneamente clichê (uma jornada do herói), mas ao mesmo tempo inédita (com um protagonista profundamente humano, ordinário, poderia ser alguém que você conhece), com questões a serem resolvidas, medos, conflitos internos a enfrentar, frustrações, autocobranças. Em sua jornada ele tem que resolver o problema para o qual é recrutado, mas também buscar respostas e, sobretudo, superação ante as perdas.
O uso da música como um elemento importante na vida do protagonista, especialmente as referências aos Beatles, Scorpions e Elton John, é fascinante. Como você decidiu incorporar essa paixão musical à narrativa?
Foi natural, não uma decisão pensada. Música é algo que sempre fez parte da minha vida e com ela “mexia”.
Além de entreter, “O patrulheiro literário” também traz elementos de bom-humor, mistério e aventura. Como você equilibrou esses diferentes aspectos ao criar a trama?
Também foi natural. Sou naturalmente uma pessoa bem-humorada e quando tenho conteúdo dentro de mim, consigo transmitir com espontaneidade.
Você menciona a presença de “easter eggs” na história, revelando curiosidades da vida real, como a desavença entre Arthur Conan Doyle e Maurice Leblanc. Como esses detalhes adicionais enriquecem a experiência de leitura?
Queria fazer o leitor sentir que estava “lendo” uma série cômica da TV. Seriados sobre vizinhos que não se toleram rendem boas piadas. Há várias referências a seriados cômicos, desenhos engraçados e cenas de filmes de tipos bem icônicos em minha obra, que transportei como documentando a existência e a influência dos mesmos sobre a minha vida. Isso enriquece a leitura tal como o tempero enriquece o alimento. Aliás, o que é o humor senão o tempero da vida?
A ambientação “vintage” do século 19 combinada com elementos tecnológicos modernos cria uma atmosfera única na narrativa. Quais foram suas inspirações ao construir esse universo narrativo?
Gosto da dualidade antigo-moderno. Gosto de imaginar como as pessoas do passado reagiriam ao mundo moderno. Em meu livro dou a essas pessoas a chance de viverem coisas contemporâneas. Lord Byron surfando e dançando twist enquanto Mary Shelley, Emily Brontë e Virgínia Woolf vivem numa fraternidade de motociclistas é algo que desperta interesse e humor. Semelhante coisa ocorria em desenhos animados da Hanna Barbera tais como “Os Flintstones” e “Os Muzzarellas”.

Você compartilhou que sua experiência pessoal, incluindo a convivência com seus dois filhos autistas, influenciou sua escrita. Como essa experiência se reflete na jornada do protagonista Arquimedes?
Com a percepção de que para chegar a algum lugar, executar uma tarefa, atingir um objetivo, você não tem que necessariamente seguir as formas e metodologias das outras pessoas. É possível a adaptação, a criação de formas, caminhos e metodologias alternativas.
Além de escritor, você é procurador municipal e tem formação em Direito. Como concilia essas duas áreas de atuação e como o Direito influencia sua escrita?
A conciliação é tal como a existência de, num único personagem, atividades bem distintas que se complementam. Uma mais “ordinária” e outra mais épica. Algo como ser repórter de jornal e simultaneamente super-herói, professor de escola e super-herói (o meu predileto) ou juiz e motociclista justiceiro.
Como foi o processo de estreia no universo literário com “O patrulheiro literário” e quais são seus planos para os próximos volumes da série?
Um aprendizado e uma contínua pergunta: “Para onde isso vai me levar?” Meus planos são metas que já se encontram em cumprimento. O segundo volume da trilogia brevemente será publicado e o terceiro encontra-se ainda num diálogo entre o meu eu mais cômico e o meu eu mais crítico. Brevemente nós chegaremos num consenso.
Por fim, como sua paixão por animes, tokusatsus e cosplay influenciam sua escrita e sua visão criativa ao construir personagens e enredos?
Os personagens que me visto retratam algo do meu interior, algo da forma como me vejo e transporto a certos personagens um pouco disso. As músicas dos animes me inspiram para os momentos épicos e para os dramáticos de minha narrativa. O que muitas vezes as pessoas chamam de criatividade em minha obra, na verdade é mais uma tradução numa linguagem simbólica de algo que vivi ou admiro.
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