A banda Venuz transforma a dor de um coração partido em música no novo single “3AM”. Inspirada por Marília Mendonça, a canção explora sentimentos de vingança e retomada após o fim de um relacionamento. Com uma batida de brega funk, a música incorpora a pluralidade cultural brasileira e mostra como o rock pode se fundir com diversos gêneros musicais. Disponível nas principais plataformas de streaming, “3AM” é uma adição poderosa ao repertório da banda.

“3AM” faz parte do universo do lançamento anterior da banda, “Belladonna”, que também aborda o tema do amor venenoso e do coração partido. Em uma tentativa de se conectar com ouvintes de diferentes gêneros musicais, como pop, funk, brega e sertanejo, a Venuz deixa sua zona de conforto e troca a distorção pelo popular. Esta abordagem ousada reflete a versatilidade da banda e sua capacidade de inovar dentro do rock.

Formada por quatro mulheres, a banda Venuz se inspira em ícones femininos desde sua formação em 2017. Com dezenas de shows realizados no Rio de Janeiro, a banda cita influências como The Pretty Reckless, The Runaways, Hole, Pitty, Vixen e Rita Lee. “3AM” é uma composição de Aila Dap (voz), com Renata Vianna (guitarras), Carolina Guterres (baixo) e Juliana Valente (bateria). A mixagem e masterização foram realizadas por Francisco Patrício, com gravação de bateria no Estúdio Clave de Sol (RJ) e a capa ilustrada por Renata Vianna.

Como vocês descreveriam a evolução da banda desde sua formação em 2017 até agora? 

AILA: Acho que os principais pontos que marcaram essa evolução são o amadurecimento técnico e pessoal. Hoje temos muito mais know-how do que fazemos, tanto na parte musical, quanto na parte gerencial da banda mesmo… Já pegamos eventos para produzir, vamos fazer nossa primeira minitour para outro estado agora em agosto… tudo isso vem com o amadurecimento, sem sombra de dúvida. Em termos pessoais, acho que são mudanças internas e individuais que acabam impactando a banda. Nossas vivências ao longo dos anos nos fizeram crescer bastante.

Quais são os maiores desafios e recompensas de ser uma banda composta exclusivamente por mulheres no cenário musical atual? 

AILA: No meu ponto de vista atual, que já mudou muito ao longo dos anos, o que mais me incomoda hoje em dia é a expectativa que o público tem em relação a imagem da mulher no palco. Sempre esperam mais da gente, em qualquer situação. Não basta nunca tocar, cantar, compor, tem que ser bonita, impecável, sensual… Ainda mais a gente que está chegando na crise dos 30… ter que atender esses padrões de beleza na sociedade em cima do palco é duplamente cansativo. Você vê uma foto e fica: nossa, aqui eu tava com um bigode chinês, olha minha olheira nessa daqui… Quando é banda de homem as pessoas não ficam assim preocupadas, né?

CAROL: Como desafio, ainda vejo muita resistência das pessoas em acreditar que mulheres também podem fazer rock. Já tocamos em lugares onde, antes de começar, era notório os olhares de julgamento. No entanto, quando terminamos o show, as expressões faciais mudaram completamente. É quase como se tivéssemos que trabalhar em dobro [risos]. Por outro lado, a recompensa é inspirar outras pessoas, o que é muito gratificante, além de ver o pessoal cantando nossas músicas em coro.

RENATA: E antigamente, quantas mulheres você via fazendo música? E quando falamos de rock? Cresci rodeada por referências masculinas e já ouvi algumas vezes o questionamento: “Por que banda só com mulheres?” Mesmo que a representatividade feminina tenha aumentado, ainda somos minorias e numa sociedade machista, temos que provar o nosso valor e capacidade o tempo todo. É quase uma obrigação estar impecável e sempre surpreender quem não acredita na nossa capacidade. E se eu puder estar incentivando e inspirando mais mulheres a estarem nesse lugar, me sinto recompensada.

Quais são as principais influências musicais de cada membro da banda e como elas contribuem para o som único de Venuz? 

AILA: Eu sou muito eclética. Escuto desde pisadinha à rap francês. E é justamente disso que gosto na hora de pensar uma composição: qual referência mais aleatória eu posso fazer combinar com o rock que a gente faz…

CAROL: Vish, também sou eclética. Quando pequena meus pais me influenciaram a escutar rock, era muito Led Zeppelin, The who, U2, Beatles…, mas com o passar do tempo fui diversificando e hoje me pego escutando pagode, uma sambinha, curto à beça música francesa, eletrônica, rap e por aí vai.

RENATA: Apesar de também me considerar eclética por ouvir uns trances, pops, reggaes e raps, o rock é o que eu escuto mais. Acho que sou a mais tiazona da banda, gosto de um hard rock velho como Guns n Roses, Skid Row, Bon Jovi, Black Sabbath e um bom grunge como Nirvana e Alice in Chains. Como disse acima, cresci com referências mais masculinas e atualmente busco ouvir e conhecer mais o trabalho de mulheres. Eu acho que o meu gosto musical pesa muito na escolha dos meus timbres (aquele match de Gibson com JCM800 bem Slash), do estilo e do feeling das guitarras. Eu acho que a magia da banda é justamente essa mistura entre pessoas, bagagens e gostos.

JULIANA: A gente precisa se abastecer o tempo todo, as nossas bandas favoritas são uma fonte incrível de referências! Para mim, a voz feminina me conquista; atualmente tenho escutado muito nacional como Pitty, Day Limns Carol Biazin… de internacional, uma banda só de minas muito foda, The Warning e minha referência master, Avril Lavigne!

Venuz
Venuz

A música “3AM” foi inspirada por uma experiência pessoal de um romance à distância. Como foi o processo de transformar essa experiência em uma música? 

AILA: Para mim funciona melhor que uma terapia. É como se eu estivesse exorcizando meus demônios. Depois que eu escrevo, músico e lanço para o mundo é como se eu estivesse selando meu passado, eternizando-o onde ele deve estar.

Vocês mencionaram que “3AM” possui uma vibe de brega funk e influências de diversos gêneros musicais brasileiros. Como foi a decisão de incorporar esses elementos ao seu som? 

AILA: Como mencionado anteriormente, sou uma pessoa muito eclética. A concepção dessa música se deu na pandemia, quando eu sofria de amores por um affair que eu não podia ver… Nessa época eu estava escutando muito Barões da Pisadinha, João Gomes, Marilia Mendonça e Duda Beat. Inclusive pensei em fazer um projeto solo nessa pegada, aproveitando que a banda estava afastada por conta da quarentena. A ideia era entrar em contato com beatmakers e fazer algo nessa pegada das referências…, mas acabei engavetando a ideia. Anos mais tarde, quando mostrei a música para as meninas, achando que elas nem iriam gostar, para meu espanto elas adoraram e toparam gravar, contanto que fosse na nossa pegada rock. Mas o esqueleto, a guia da música, não nega as origens dela, afinal ela nasceu pra ser um brega funk.

Como foi o processo de composição e gravação de “3AM”? Vocês poderiam compartilhar um pouco sobre como cada membro contribuiu para a criação da música?

AILA: Como mencionado, eu cheguei para as meninas com um esqueleto, uma guia que gravei na pandemia apenas com o baixo e a voz da música. O baixo a Carol chegou a aproveitar algumas coisas, mas incrementou com bastante coisa diferente e bem legal.

CAROL: Claro, eu tinha que aproveitar! Amei o swing da música, só fiz algumas mudanças para adaptar aos outros elementos. Foram necessários esses ajustes, mas a essência da música esqueleto permaneceu [risos].

RENATA: Eu peguei o esqueleto da Aila e criei detalhes e progressões em cima. Criei um dedilhado e usei minha fórmula mágica para deixar com a minha cara. Acredito que a guitarra deve complementar todos os outros instrumentos e todo o processo é uma grande sintonia e conexão.

JULIANA: O importante é ver que, independentemente da forma, o resultado sempre será algo legal, tanto para compor quanto para escutar!

Na hora que a gente sentiu a vibe de 3AM já sabíamos que seria lindo dividir esse som com o mundo. Esperamos que todos apreciem, sem moderação!

Vocês colaboraram com Francisco Patrício para a mixagem e masterização. Como foi trabalhar com ele e qual foi o impacto dessa colaboração no resultado da música?

AILA: O Chico, como chamamos ele, tem estado com a gente desde o primeiro trabalho gravado. Confiamos muito no trabalho dele.

CAROL: Chico é como se fosse a quinta Venuz, só que em backend, nos estúdios [risos]. Sempre é muito bom trabalhar com ele.

RENATA: Ele nos acompanha desde o início e a melhor parte é que ele já nos conhece e consegue captar exatamente o que queremos. É sempre incrível trabalhar com ele.

A capa do single foi criada por Renata Vianna. Qual foi a inspiração por trás da ilustração e como ela se relaciona com o tema da música?

RENATA: Além de guitarrista, sou a designer oficial da banda. Eu sempre me preocupo em contar uma história, contextualizar bem e trazer uma identidade visual bem concisa, não só para a banda como um todo, como nos lançamentos. Também estamos sempre fazendo nossa própria direção de arte e amamos fazer o brainstorm de tudo, dos lançamentos, dos clipes, até postagens. No RebELA, como foi nosso primeiro trabalho, as ilustrações contam uma história mais crua, de rock e a questões místicas. Em Hel, apesar de serem singles, trouxemos uma identidade única e mais focada, com elementos mitológicos, assim como a história que estávamos contando. Para esses novos lançamentos, todos eles estão com a mesma identidade. Algo mais rosa, mais vintage e mais ornamentado, meio Art Nouveau. Para cada capa focamos no rosa e numa paleta mais retro, até para enfatizar a nostalgia e o romantismo da letra e da melodia. Após muitas referências, chegamos na conclusão de que nada mais justo que por um relógio para representar a horw “3AM”. Após isso, fiz todo o processo da animação

Vocês mencionaram que “3AM” é possivelmente a música mais mainstream da banda até agora. Isso sinaliza uma mudança de direção no som da Venuz ou foi uma experimentação pontual?

AILA: Não acredito que seja nem uma nem outra opção. Eu acho que ainda podemos voltar para algo mais pesado, só não é nossa vibe atual. Para próximos lançamentos adianto que não vão voltar a ver tanto peso, mas não chegaremos a abandonar o rock, isso jamais.

RENATA: São momentos, fases. O momento que estamos passando na vida pessoal, como estamos nos sentindo e o contexto social que estamos inseridas pautam o nosso direcionamento sonoro… Nosso primeiro trabalho, o EP RebELA, foi mais cru e pé na porta pois não tínhamos muita experiência. Toda as músicas de Hel foram lançadas num contexto pandêmico no qual não fazíamos show, então isso permitiu que nós experimentássemos mais, usamos teclado, sintetizadores, beats, diversas coisas. Agora estamos testando algo mais romântico e suave, mas isso não significa perder nossa essência, somente experimentar mais.

A Venuz tem influências de bandas como The Pretty Reckless, The Runaways, Hole, entre outras. Como vocês equilibram essas influências rock com os elementos de outros gêneros musicais brasileiros? 

AILA: Eu acho muito importante lembrar que apesar do rock ser um gênero nascido no exterior, somos uma banda brasileira. E acredito sim na importância cultural das artes, a música inclusive. Acho que todo brasileiro deveria ter uma pitadinha de nacionalismo para construção inclusive da sua própria identidade. Eu levo isso na forma como encaro a banda. Temos sempre que lembrar quem somos e onde estamos. Somos essas com gostos peculiares, gostamos de divas do rock, mas moramos no país do funk, do samba, do sertanejo, forró, pisadinha, que são tão únicos e merecem ser exaltados. 7

CAROL: Acho que a melhor coisa que fazemos para “equilibrar” é pegando músicas nacionais, geralmente são outros gêneros musicais, que nós transformamos em rock. Fizemos isso com algumas músicas, como funk, mpb etc.

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