Diante da rotina cada vez mais corrida dos brasileiros, Silvio Ferrérie, autor do livro Liberte-se de crenças que aprisionam!, apresenta seis atividades práticas para ajudar a equilibrar o dia a dia. Suas sugestões incluem desde momentos de silêncio e desconexão digital até meditação e reflexão pessoal, adaptáveis a qualquer agenda. Especialista em terapias holísticas, Ferrérie busca, por meio de suas orientações, promover mais bem-estar e harmonia interior.
Como você acredita que a falta de autorreflexão afeta a vida cotidiana das pessoas?
Na minha visão, a falta de autorreflexão pode ser uma das principais causas dos conflitos internos e externos que enfrentamos diariamente. Quando não nos damos tempo para olhar para dentro, acabamos repetindo padrões de comportamento, entrando no piloto automático diário e acreditando em crenças que nos limitam, sem nem ao menos perceber. A ausência dessa análise pessoal cria uma barreira para o autoconhecimento e para a transformação que buscamos. Assim, tornamo-nos reféns de crenças que não são nossas, mas que foram impostas pelo ambiente, cultura ou experiências passadas. Isso afeta não só a nossa saúde mental, como também nossas relações, nossas tomadas de decisões e a maneira como lidamos com os desafios diários. Permite explorar nossas necessidades emocionais, desejos inconscientes e valores fundamentais, proporcionando uma compreensão mais profunda das motivações por trás de nossas ações. A autorreflexão é um convite para quebrar essas correntes e construir uma vida mais consciente, autêntica e equilibrada, nos conhecendo melhor, reconhecendo nossas conquistas, dá-nos forças para aprimorar nosso lado positivo, assim como reconhecer nossas limitações nos permitindo uma busca contínua na criação de estratégias para corrigir e lidar com nossas dualidades de maneira saudável e construtiva.
Quais práticas você considera mais desafiadoras para incorporar no dia a dia? Como superá-las?
Uma das práticas mais desafiadoras, na minha opinião, é a consistência em momentos de pausa e silêncio para olhar dentro nós mesmos de forma direta, sem julgamentos ou críticas, mas que sejam verdadeiras; nua e crua. Estamos tão acostumados com a correria e as distrações do mundo moderno que, muitas vezes, a autorreflexão e a contemplação acabam ficando de lado. Também considero difícil aceitar e acolher nossas próprias sombras sem julgamento, onde é muito mais fácil negar ou reprimir sentimentos desconfortáveis do que enfrentá-los.
Superar esses desafios exige disciplina e compaixão consigo mesmo. Começar com pequenos passos, como meditar por alguns minutos, escrever um diário de pensamentos ou simplesmente praticar a atenção plena durante atividades rotineiras, ajuda a criar espaço para o autoconhecimento. Outro ponto importante é entender que a evolução é um processo gradual.
É preciso permitir-se errar, aprender e crescer sem se cobrar tanto pela ‘perfeição’. Praticando essa aceitação, passamos a ser mais gentis conosco e com os outros, o que nos permite viver de maneira mais equilibrada e consciente.
Pode compartilhar alguma experiência pessoal que tenha te inspirado a escrever “Liberte-se de crenças que aprisionam!”?
Minha inspiração para escrever ‘Liberte-se de crenças que aprisionam!’ veio de um período muito difícil da minha vida. Durante anos, enfrentei muitos desafios emocionais que me levaram a acreditar em pensamentos negativos e limitantes. Eu achava que não era bom o suficiente, tinha medo do fracasso e me preocupava demais com o que os outros pensavam sobre mim.
Havia muitos medos, do julgamento dos outros, de não corresponder às expectativas e de não ser aceito por quem eu realmente era. Essa luta constante com meus próprios pensamentos criou bloqueios que me impediram de buscar oportunidades, de me sentir confiante, e de viver de forma plena, prejudicando todas as áreas da minha vida, relacionamentos pessoais e profissionais. Eu estava sempre tentando agradar aos outros, me comparando e buscando validação externa.
Com todos esses acontecimentos, vivi uma profunda depressão que se estendeu por quase uma década e que refletiram não só no meu estado mental e psicológico, mas no meu físico como uma diabetes que surgiu durante esse período e luta contra a depressão e a ansiedade.
Houve um momento em que cheguei ao meu limite. Meus próprios pensamentos me sufocavam e não conseguia perceber o quanto isso estava me prejudicando e me levando cada vez mais fundo, em uma escuridão sem fim. Em vários momentos depressivos pensei em desistir de tudo, chegando a escrever uma carta de despedida e fui até o parapeito de uma ponte num domingo de páscoa. A sensação de sufocamento interno era tão grande que eu não conseguia ver saída. Foi quando para mim, um milagre aconteceu, um anjo em forma de pessoa em situação de rua surgiu do nada e veio até onde eu estava. Nesse momento pensei que seria até um assalto, mas ele somente me pediu um cigarro e como eu não tinha para dar a ele, passou a conversar comigo e entre nossa conversa me falou um pouco da sua vida o que me quebrou por dentro e me fez enxergar como eu sou uma pessoa de sorte, pois tenho uma vida boa, uma boa família, um lar para morar, comida à vontade, uma cama para dormir, um chuveiro quente para me banhar e principalmente uma mãe maravilhosa que sempre me apoiou, me orientou e me deu tanto amor, a mim e aos meus irmãos e isso foi como um raio caindo na minha cabeça e me fez ver o quanto eu estava sendo egoísta comigo e com minha família que tanto me ama. Com muita vergonha do que poderia chegar a fazer, abracei esse ser iluminado que surgiu na minha frente com tantas lições que em poucos minutos me passou, entrei no carro e voltei para casa disposto a buscar ajuda e assim comecei uma ressignificação na minha vida, um ato revolucionário dentro do meu ser.
Foi quando passei a buscar ajuda, a trabalhar ativamente para mudar minha mentalidade e adotar práticas mais saudáveis, como afirmações positivas, terapias com profissionais, exercícios diários desde o momento ao acordar até o adormecer. Tudo isso me trouxe clareza e ajuda para enxergar quem eu realmente era. Essa jornada de transformação é tão poderosa, tão transformadora que me fez descobrir meu propósito de vida, “Ajudar pessoas”, com toda essa transformação que ainda estou passando, senti que precisava compartilhá-la para o mundo. Escrever o livro com o propósito de trazer inspiração para pessoas que buscam um caminho, procuram seu propósito e encontrarem-se em si mesmos sem a necessidade de validação no mundo agitado que estamos vivenciando atualmente, a se libertarem das suas próprias crenças limitantes, encontrarem a sua própria força interna para viverem de forma mais consciente e equilibrada.
Procuro trazer no livro, não apenas fatos históricos sobre a dualidade da luz e sombra, mas questões, exercícios e informações de suma importância que utilizo até os dias de hoje. Procuro deixar claro aos leitores que eles não estarão sozinhos nessa jornada, eu também estou nesse processo contínuo, e juntos iremos desconstruir todas as crenças que nos limitam e possamos dar novos significados a acontecimentos da vida, a partir das nossas mudanças na percepção do mundo.
De que maneira você sugere que as pessoas encontrem tempo para as atividades que propõe, como a meditação e o diário de reflexão?
Acredito que encontrar tempo para a meditação e o diário de reflexão é mais sobre priorizar essas práticas do que realmente ter horas disponíveis no dia. O ritmo da vida moderna é agitado e parece que estamos sempre correndo contra o relógio, mas, muitas vezes, é uma questão de ajustar pequenas coisas no cotidiano. Não é preciso começar com grandes blocos de tempo; pequenos passos fazem toda a diferença. Por exemplo, reservar cinco minutos pela manhã para meditar ou para escrever alguns pensamentos no diário pode ser transformador.
Outra sugestão é incorporar essas atividades em momentos que já fazem parte da rotina. Pode ser durante o café da manhã, antes de dormir ou até mesmo durante o trajeto para o trabalho, aproveitando esses minutos para se conectar consigo mesmo. O importante é entender que essas práticas não precisam ser perfeitas ou longas, o essencial é a constância. Ao dedicar um pouco de tempo a essas reflexões diárias, por menores que sejam, você começa a desenvolver uma relação mais profunda consigo mesmo, e esse hábito acaba se tornando uma fonte de equilíbrio e clareza para lidar com os desafios do dia a dia.
Você menciona a “ação consciente”; como essa prática pode transformar a forma como enfrentamos os desafios diários?
A prática da ‘ação consciente’ tem um poder transformador porque nos coloca no presente, nos ajuda a agir de forma mais intencional e menos automática. Muitas vezes, passamos pelos desafios diários no modo ‘piloto automático’, reagindo a situações e tomando decisões baseadas em padrões antigos ou emoções impulsivas. Quando trazemos consciência para nossas ações, começamos a observar nossos pensamentos, emoções e reações, e podemos escolher como agir em vez de simplesmente reagir.
Essa abordagem muda a forma como lidamos com os desafios porque cria uma pausa entre o estímulo e a resposta. Em vez de sermos levados pelo estresse ou pela negatividade, podemos avaliar a situação com mais clareza e responder de maneira alinhada aos nossos valores e objetivos. Isso nos ajuda a navegar por situações difíceis com mais equilíbrio, paciência e discernimento, e, ao mesmo tempo, transforma a maneira como vemos os obstáculos, eles deixam de ser problemas e passam a ser oportunidades para crescer e aprender. A ‘ação consciente’ é um convite para viver com mais presença, fazendo escolhas que realmente refletem quem somos e o que desejamos para nossa vida.”
Que feedback você costuma receber das pessoas que tentam aplicar suas sugestões em suas rotinas?
É muito gratificante ouvir o retorno das pessoas que começam a aplicar essas práticas em suas rotinas. Muitos relatam que, mesmo com pequenas mudanças, já percebem uma diferença significativa na maneira como se relacionam consigo mesmos e com o mundo à sua volta. Uma das coisas que mais ouço é como a autorreflexão e a prática de atividades como meditação ou o diário ajudam a ter mais clareza mental e emocional. Elas se tornam mais conscientes de seus pensamentos, de suas emoções, e isso traz uma sensação de liberdade e controle sobre suas escolhas e reações diárias.
Alguns me contam que, ao começar a olhar para suas sombras, enfrentam momentos difíceis e confrontadores, mas que, com o tempo, isso se traduz em autoconhecimento e crescimento pessoal. Outros falam sobre como as relações melhoram, não só com os outros, mas também com eles mesmos e como passam a enfrentar desafios com mais equilíbrio e tranquilidade. No geral, o feedback é de que essas práticas trazem mais leveza e propósito para o dia a dia, e que, mesmo nos momentos difíceis, elas proporcionam uma base sólida para seguir em frente com mais confiança.
Como a desconexão digital impacta a percepção que as pessoas têm de si mesmas, segundo sua experiência?
Na minha experiência, a desconexão digital tem um papel fundamental para melhorar a percepção que temos de nós mesmos. Estamos constantemente conectados, sendo bombardeados de informações e estímulos que muitas vezes nos afastam do nosso próprio centro. Essa hiper conexão digital nos leva a comparações constantes, a buscar validação externa e a perder o contato com o que realmente importa: nossa essência e nossos valores.
Quando nos desconectamos das telas, criamos espaço para nos reconectar internamente. Essa pausa nos permite ouvir nossos próprios pensamentos, sentir nossas emoções e refletir sobre nossas experiências sem a influência direta de redes sociais ou notícias. Muitas pessoas que se propõem a passar um tempo offline relatam sentir mais clareza mental, tranquilidade e uma reconexão com seus propósitos.
Como sempre digo a mim e as pessoas próximas: “Nada como dar um tempo do celular, poder abrir e ler um bom livro físico, mesmo que sejam por alguns minutos.”
A desconexão digital não significa ignorar o mundo, mas sim criar momentos de silêncio e introspecção, que são essenciais para nos entendermos melhor. É como tirar um intervalo para se ouvir, para redefinir prioridades e cultivar uma relação mais profunda consigo mesmo, longe das distrações e expectativas que a vida online traz.
Quais são seus planos futuros como autor e pesquisador nesse campo de espiritualidade e autorreflexão?
Como autor e pesquisador, meu objetivo é continuar aprofundando esse campo da espiritualidade e autorreflexão, expandindo o diálogo sobre como podemos integrar a dualidade da luz e sombra em nossas vidas entre outros assuntos importantes e que possam trazer ajuda e aprendizado. Sinto que o ‘Liberte-se de crenças que aprisionam!’ é apenas o início de uma jornada muito mais ampla. Quero explorar temas como autotransformação, equilíbrio emocional e conexão com a essência, sempre trazendo uma abordagem prática e acessível, que realmente faça a diferença no cotidiano das pessoas.
Estou planejando novos projetos, como a realização de palestras e cursos que ajudem a colocar em prática os conceitos abordados no livro. Também penso em desenvolver materiais que aprofundem aspectos específicos da jornada do autoconhecimento, como a integração de sombras ou o papel da espiritualidade na saúde mental. E, claro, há planos para futuros livros, onde quero compartilhar ainda mais experiências, estudos e reflexões, sempre com o propósito de inspirar as pessoas a viverem de forma mais consciente, equilibrada e autêntica. Meu compromisso é seguir aprendendo e compartilhando esse conhecimento de forma que contribua para a evolução pessoal e coletiva.
Acompanhe Silvio Ferrérie no Instagram