“Rapina: Não confie em androides” – A visão distópica de Gabriel Rosario sobre o futuro

Luca Moreira
10 Min Read
Gabriel Rosario

“Rapina: Não confie em androides” leva os leitores em uma viagem para um futuro distópico no Rio de Janeiro de 2200. Neste cenário, marcado por conflitos interplanetários, corrupção e avanços tecnológicos que desafiam a humanidade, o autor Gabriel Rosario, mestre em Ciência da Computação e especialista em Inteligência Artificial, cria uma narrativa cativante.

No centro desta história está Peter Pijean, um ex-militar com dilemas pessoais e financeiros, que se depara com um mundo de desigualdades e uma tecnologia capaz de substituir humanos. Quando um encontro com um androide centroriano o coloca no caminho de uma recompensa valiosa, Peter inicia uma perigosa jornada para resgatar sua esposa e enfrentar os desafios que esse novo mundo apresenta.

Entre confrontos e reviravoltas, o protagonista contará com aliados improváveis: uma inteligência artificial com emoções genuínas e um membro de um grupo de resistência. À medida que a trama se desenrola, a obra levanta questionamentos sobre a relação entre humanidade e tecnologia, explorando as fronteiras da ética e da moral.

Com uma narrativa ágil e envolvente que mescla diferentes vozes narrativas, diálogos ricos e descrições detalhadas, Gabriel Rosario, além de profissional na área tecnológica, traz sua paixão pela ficção para construir um universo futurista intrigante.

O autor, Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atualmente head de dados, combina seu conhecimento técnico com sua criatividade literária para lançar “Rapina: Não confie em androides”, sua estreia literária. Nascido em Niterói (RJ) e atualmente morando em Cambuí (MG), Rosario oferece aos leitores uma visão única do futuro impulsionada por sua paixão por tecnologia e narrativas cativantes.

Qual é a ambientação da história em “Rapina: Não confie em androides”? Em que ano se passa e qual é a situação do Rio de Janeiro nesse cenário?

A obra se passa no Rio de Janeiro de 2200, uma cidade culturalmente diversa devido aos portais que conectam as principais capitais do planeta, mas também dominada pela corrupção. Sua paisagem ainda amarga os sinais de uma guerra recente travada contra Centrória, o planeta inimigo, e suas ruas vivem infestadas com a superpopulação. Obras da iniciativa privada se erguem por todos os cantos, despejando pacientes de hospitais e removendo moradores de seus condomínios, enquanto um grupo de mascarados se rebela contra os desmandos do governador.

Quem é o protagonista dessa ficção científica e qual é o seu objetivo principal? Como a ausência de sua esposa e os desafios que ele enfrenta moldam a narrativa?

Peter Pijean é um ex-oficial militar que não consegue superar a ausência da esposa. Preso nas lembranças da amada enquanto alimenta seu ódio pelos ex-companheiros de farda responsáveis pelo distanciamento dos dois, ele passa os dias fazendo bicos e vendendo os próprios pertences para bancar seu vício em drogas de esquecimento. Embora o reencontro pareça uma realidade muito distante, dado que ela se encontra em um planeta hostil e ele não possui verba nem para pagar os aluguéis, Peter ainda alimenta a esperança de um dia resgatá-la.

O que desperta o desejo de Peter Pijean capturar um androide centroriano? Como essa busca por recompensa se relaciona com sua tentativa de resgatar sua esposa?

Assim que é atacado por um androide centroriano e sobrevive, Peter nota uma oportunidade de enriquecer com a venda de suas peças no mercado clandestino. Embora a captura do autômato seja uma atividade extremamente difícil e arriscada, o montante obtido representaria cifras que ele jamais conseguiria em vida, o suficiente para financiar uma operação clandestina de resgate da amada no planeta inimigo.

Além do androide a ser capturado, quais outros personagens importantes cruzam o caminho do protagonista durante a história? Como esses personagens contribuem para a trama?

Entre os personagens importantes que cruzam seu caminho, estão: Eva Ferreira, a líder do grupo de rebeldes que luta contra o governo. Empenhada em recrutar Peter para sua causa, ela logo se vê emaranhada na caçada ao androide e suas ramificações. Ellen Toivonen, a especialista em robótica que o auxilia na caçada e que possui certa aversão a riscos. Capitão Günther, líder da unidade militar interessada na captura do androide centroriano e desafeto de Peter por ter sido um dos responsáveis pelo distanciamento de sua esposa. Além de competirem na caçada, os dois ainda possuem muitas desavenças a resolver. Rasgatar, mercenário especialista em artes marciais que também possui seus próprios interesses na captura do androide. Contando com um corpo de paramilitares sob seu comando, ele representa uma concorrência à altura na caçada.

Como você utiliza seus conhecimentos em Ciência da Computação e Inteligência Artificial para dar forma ao mundo futurista e às tecnologias apresentadas na narrativa?

Muitas das tecnologias apresentadas na obra se baseiam em redes neurais artificiais e até na inteligência artificial generativa, embora o livro tenha sido concebido anos antes de o conceito se popularizar com a chegada do ChatGPT. Nesse futuro em que a inteligência artificial se encontra no ápice de sua evolução, aliada a outras tecnologias que hoje estão apenas no campo das ideias, temos a representação de uma sociedade que se moldou em torno dessas inovações. Além disso, os personagens da trama também se utilizam muito do raciocínio lógico e investigativo, característica inerente aos profissionais de tecnologia.

Gabriel Rosario

Como você equilibra descrições e diálogos na narrativa, tornando-a ágil e envolvente para os leitores?

Acredito que essa impressão se deva ao fato de que está sempre acontecendo algo na história, ou seja, o leitor nunca fica preso em descrições intermináveis. Os diálogos e descrições acabam sendo dosados na medida do necessário para a narrativa fluir sem interrupção.

Além de “Rapina: Não confie em androides”, você tem outras obras ou projetos literários nos quais tenha se envolvido?

Não, essa é minha obra de estreia na literatura.

Como a combinação de sua paixão por tecnologia e ficção culminou na criação deste romance? Como esses interesses se manifestam na narrativa?

Sempre fui muito fã de narrativas de ação, aventura, mistério e investigação. Ao mesmo tempo, sempre fui fascinado pelas mudanças de comportamento que cada nova tecnologia traz à sociedade. Por exemplo, você tem o mundo antes e depois da internet, ou o antes e depois das redes sociais. O relacionamento entre as pessoas, a rotina de cada um, as dinâmicas da sociedade… tudo muda. No passado, nossos carros não tinham cinto de segurança, e as pessoas achavam isso normal. No futuro, quando for obrigatório que todo veículo seja controlado por uma IA, vai ser inadmissível uma pessoa perder a vida em um acidente de trânsito. Esse exercício de como será a vida lá na frente, em especial quando tivermos mentes não-biológicas pensantes nos servindo ao mesmo tempo em que descobrem o que é viver, me fascina. Dessa mistura de gêneros e tópicos que me empolgam, surgiu a obra, que acaba sendo uma narrativa de ação e aventura com esse pano de fundo futurista e algumas reflexões tecnológicas no caminho.

Quais são os principais temas ou mensagens que o autor busca transmitir aos leitores por meio de “Rapina: Não confie em androides”?

O luto é um processo muito importante para aqueles que ficam, mas é ainda mais importante saber a hora de abandonar o passado e seguir adiante. Enquanto esboçava a história, eu ainda não tinha clareza dessa mensagem, mas após perder minha mãe para um câncer, em 2014, ficou nítido para mim sobre o que realmente era a história. Além disso, a obra reflete sobre o que nos torna diferente de máquinas, ou seja, o que nos torna humanos, e se essa distinção realmente existirá quando tivermos máquinas que replicam nosso cérebro biológico em componentes artificiais, e quais serão as implicações disso.

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