Existe um campo da nossa saúde que assim como os médicos dos quais nós vamos (ou deveríamos) ir fazer nossos “check-ups” periodicamente, tais como cardiologistas, clínicos gerais, a psicologia também é um campo importante que o mundo deveria dar uma importância melhor. Tendo como diferencial a questão de que ela é isenta de prescrição ou encaminhamento médico, esse campo de estudo da saúde mental está cada vez mais presente em nossas vidas do que imaginamos.
Todos nós possuímos alguns casos que o acompanhamento terapêutico pode ajudar, até mesmo de transformar e salvar vidas. Devido á desvalorização sofrida injustamente, muitas das vezes as pessoas acham que um conselho de amigo ou família pode substituir um acompanhamento profissional, de quem realmente estudou cientificamente para trabalhar com essa parte de análise do cérebro e da mente humana.
Da mesma forma que é importante esse acompanhamento adequado, nosso site trouxe a psicóloga Aline Rosa de Abreu, que além de várias experiências, pós-graduação e especialidades em ludoterapia e avaliação de TDAH, é sócia do Espaço AGA, no Rio de Janeiro, onde coleciona experiências lidando com casos de pacientes de todas as idades. Confira a entrevista!
Infelizmente no Brasil, a gente ainda tem percebido muitos preconceitos relacionados a prática de terapia em relação ao paciente, porque muitos já foram os relatos compartilhados em relação a ser um acompanhamento feito apenas para aqueles que tenham alguma anormalidade ou que realmente acreditam que seja algo relacionado a loucura ou esquisitice. Como profissional o que você acha sobre esses casos e porque esses fenômenos realmente acontecem? Qual a importância e o diferencial que uma ajuda profissional traz em relação a buscam de um conselho familiar, por exemplo, além do estudo do terapeuta?
Esse cenário vem mudando nas novas gerações, mas sim, ainda há muito preconceito sobre o que é a terapia e se de fato há eficácia. A Psicologia é uma profissão em desenvolvimento e como trata o comportamento humano, não é padronizado, cada caso é tratado de forma adequada a cada questão.
Mas a principal causa desse preconceito que o psicólogo só deve ser procurado quando se está mal ou com alguma doença mental. Essa referência só vai mudar quando a psicologia for vista como uma forma de prevenção e como necessária à qualidade de vida.
A escuta profissional e o direcionamento do profissional em relação ao que vem atormentando cada indivíduo é o que mais pesam no tratamento. Além de não haver julgamento na escuta terapêutica. No geral, o preconceito maior vem de quem nunca fez nenhum tipo de terapia e não sentiram o benefício que ela pode proporcionar.
Nós soubemos através da sua história, que durante suas experiências, você já passou por planos de saúde, festas, bancas de jornal, de tudo um pouco onde você já trabalhou. No final, quais foram os caminhos que te levaram até a psicologia? Existe alguma dúvida de que hoje, você tenha feito a escolha certa lá na faculdade?
Sim, já trabalhei com muita coisa, comecei a trabalhar com 16 anos. Fui de vendedora à escriturária, de animadora de festa infantil a auxiliar administrativa, além de ter feito eventos e fotos como modelo comercial e muitas outras profissões. Mas quem me apresentou a psicologia foi um casal de amigos que me incentivaram muito a me tornar uma.
Eu fazia faculdade de Direito quando tive certeza do meu caminho, certeza que o Direito não era pra mim. Que minha primeira escolha, a Psicologia combinava muito mais comigo, com a minha forma de pensar e agir. Hoje não tenho nenhuma dúvida que é a minha profissão e a melhor escolha que poderia ter feito.
Mas sim no início da carreira não é fácil, o retorno financeiro não é muito satisfatório e me questionei por diversas vezes se tinha feito a melhor escolha. Mas tive paciência e persisti no que eu amava fazer, que era poder de alguma forma, ajudar ao próximo a se conhecer melhor e ter uma maior qualidade de vida.
Durante um acompanhamento, acontece um momento de autodescobrimento pelo paciente por meio de resignificações nas consultas. Essa relação de conhecimento, ela acaba sendo recíproca entre o terapeuta e o seu paciente? Quais são e onde ficam os limites que separam esse momento de abertura pessoal com o conceito comercial do seu trabalho? O psicólogo realmente se torna um confidente de seu paciente independente dessa relação comercial?
Essa relação a meu ver torna a relação com o psicólogo mais real, tem o intuito de humanizar o psicólogo, como um ser em construção como muito relatada na Terapia dos esquemas, que tem por finalidade mudar o ponto de vista do paciente e a forma de encarar a vida. Além de em muito dos casos facilitar a abertura do paciente com a pessoa que está ali enquanto ser humano. Não é em todos os atendimentos que existe essa necessidade, como falei anteriormente, cada caso é único.
A área da psicologia é com certeza uma coisa muito extensa pelo o que podemos ter pesquisado abertamente que envolve vários tipos de transtornos, síndromes, e por ai vai a diversas categorias de psicopatias, porém, sabemos que cada caso é um caso dentro das consultas. Apesar dos conceitos já conhecidos para cada diagnostico o aprimoramento individual também se torna primordial para os casos?
Cada caso é único, vamos abordando as questões que vão aparecendo conforme o tratamento, não nos limitamos ao diagnóstico.
Uma curiosidade que vimos em alguns transtornos, como a ansiedade que já atinge milhões de pessoas no Brasil, às vezes não tem uma cura especifica, e sim soluções que possam controlá-las. Nesses casos, como funciona a questão de você conseguir driblar os efeitos desses transtornos, levando em conta que você sempre deve ser imparcial em relação aos métodos recomendados?
O principal nesse tipo de doença é o autoconhecimento, aprender os gatilhos e quais os tipos de situações que desencadeiam os sintomas. Quanto maior o autoconhecimento, mas facilmente conseguimos controlar a proporção do sintoma e o quanto ele te afetará.
Durante sua carreira, uma das especialidades que foram trabalhadas foi o estudo da ludoterapia, que de acordo com a nossa pesquisa, é um campo de estudo pelo qual você consegue ingressar no mundo de seu paciente, principalmente das crianças, onde é muito usado. Em relação a esse tipo de abordagem, como ela funciona na prática, e o que mais diferencia esse tipo de abordagem em relação a que é feita em um paciente crescido?
Em sua maioria, as crianças têm dificuldade de se expressar por palavras e nomear seus sentimentos; então captamos através das brincadeiras o que elas demonstram e muito das questões que se apresentam no dia a dia dela. Na ludoterapia aprendemos algumas maneiras de acessar o mundo infantil através de ferramentas e brincadeiras.
Algo que é garantido por um código de ética na psicologia é a questão do sigilo em relação ao paciente com o terapeuta sobre tudo que é discutido dentro da consulta. Como essa segurança é passada ao paciente e como funciona geralmente o desenvolvimento dessa relação de confiança? Na questão dos pacientes menores, quando os responsáveis possuem o retorno do que está sendo abordado da consulta, mesmo sendo menor, esse paciente possui os mesmos direitos a esse sigilo sobre o que é repassado aos pais? Como conversar sobre esse retorno sem que ela se sinta “traída” na confiança entre vocês? A criança ela já tem na cabeça dela que o psicólogo deve ou não obrigatoriamente dar um retorno aos responsáveis ao invés de ouvir só ele?
Geralmente falo sobre sigilo durante o primeiro atendimento, principalmente quando se trata de uma consulta com um adolescente (a maior preocupação deles é sobre isso). Mas no geral a confiança é conquistada no decorrer da terapia e no estabelecimento da transferência e contratransferência.
O adolescente normalmente participa das entrevistas de devolução, pergunto se é de vontade dele ou não participar desse momento, para que nosso trato durante as sessões não seja quebrado.
Já nos atendimentos de crianças, normalmente faço devolução e atendimentos aos pais conforme há demandas de quaisquer partes. O que é confidencial não é passado de forma incoerente. Tento sempre trabalhar fazendo com que a criança sinta-se a vontade de conversar com seus pais sobre o que se está enfrentando de dificuldade.
Apesar do sigilo, existem alguns casos excepcionais que em questões de pensamentos ou assuntos relacionados ao suicídio, os psicólogos poderiam no caso quebrar a obrigação do sigilo para que possa informar a família ou a algum conhecido sobre as intenções de seu paciente, a fim de manter o alerta. Esses casos, eles costumam ser muito delicados em se tratando da segurança da vida de alguém?
Claro, caso seja identificada a intenção de fazer mal a si ou a outros, existe o encaminhamento ao atendimento psiquiátrico de urgência e a família é sim informada.
Uma questão que também já se houve muitos relatos de dificuldades ao se iniciar um acompanhamento terapêutico é o de o paciente conseguir entrar uma identificação com o profissional que ele está buscando para atendê-lo. Nessas ocasiões, como funciona para o terapeuta, se preparar para esse primeiro encontra com o seu futuro paciente, existe uma “receita de bolo” ou realmente essas primeiras sessões, podem ser uma caixinha de surpresas? Do que geralmente consiste essa idealização da identificação do paciente com o terapeuta?
Não há uma receita de bolo. Geralmente o primeiro atendimento irá definir se o paciente dará ou não continuidade com os atendimentos. E sim, ele pode não gostar da sua abordagem e nunca mais voltar.
O primeiro passo é entender que isso é normal e que o paciente tem direito de não ter gostado da sua maneira de trabalhar. Fazer terapia e aprender que você não irá agradar a todos é a primeira tarefa do psicólogo. Na primeira sessão faço uma anamnese para capturar o máximo de informações necessárias para me auxiliar no direcionamento dos próximos atendimentos.
Há muitos pacientes que chegam com uma idealização do que uma psicóloga é. Tenho um paciente de 12 anos, que chegou a mim com 10 anos, que me disse há pouco tempo – “Tia, eu bem imaginava que você seria uma velhinha que ia me mandar fazer coisas e que ia brigar comigo caso eu não fizesse.” – Achei engraçada a visão dele e acabou me marcando.
Quando comecei a atender na clínica, tinha esse receio, sobre o que iam achar de mim, mas com o tempo e experiência, percebi que ao longo dos atendimentos consigo quebrar o julgamento e alguns paradigmas dos quais não me identifico.
Há um tempo, explodiu uma questão que gerou uma verdadeira divisão de opiniões no Brasil, que foi a questão da utilização do coach ao invés da procura de um psicólogo. Qual é a sua opinião á respeito do movimento coaching nos dias atuais?
Acho que são profissões completamente diferentes. O coaching funciona mais como um motivador, como alguém que incentiva você a manter o foco na sua finalidade que o fez buscá-lo.
Já a Psicologia é uma ciência, com comprovação científica, se trata de um conhecimento profundo sobre si, a fim de gerar uma mudança mais profunda e definitiva sobre suas concepções. A terapia muda você, através do autoconhecimento.
Como a psicologia mudou a sua vida e quem você recomenda conhecê-la?
A psicologia muda minha vida todos os dias! Como todos os psicólogos deveriam, faço terapia, com dias mais fáceis e outros nem tanto, tento me tornar uma pessoa melhor todos os dias.
Tento fazer com que meus pacientes tenham esse mesmo pensamento. E poder proporcionar qualidade de vida a eles é a minha maior missão. Eu recomendo que todos tenham a oportunidade de fazer terapia, afinal quem não gostaria de mergulhar profundamente em si mesmo fazendo alguns ajustes para que a vida de torne cada dia mais leve.
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