Com 17 anos de carreira, 13 afilhados e uma paixão declarada por crianças, Fernanda Oliveira se consagrou como uma das principais referências em fotografia infantil no Brasil. Pioneira no segmento newborn e criadora do inovador “Ensaio Colors” — um conceito que prioriza a espontaneidade e a diversão —, a fotógrafa une técnica, sensibilidade e conhecimento em pedagogia e desenvolvimento infantil para oferecer muito mais do que imagens: ela proporciona memórias afetivas genuínas para toda a família.
O que mais encanta vocês no momento em que uma criança se solta completamente durante o ensaio? Como é perceber que a fotografia deixou de ser pose e virou brincadeira genuína?
É a certeza de que vou conseguir captar a verdadeira essência da criança com alegria, cor e sorrisos genuínos. Ver o brilho nos olhos, o riso solto a cada brincadeira, é saber que a fotografia brincante é resistência em um mundo onde a infância está com pressa.
O ensaio COLORS é quase como um manifesto pela infância livre. Que tipos de reações vocês costumam receber das famílias após vivenciarem essa experiência?
O COLORS é, sem dúvida, a paixão das famílias e, graças à fotografia brincante, das crianças também. Os pais ficam impactados com as cores vibrantes que ajudam a dar o brilho desse ensaio sem cenários todo minimalista e com foco na criança . Eles conseguem enxergar além da estética: percebem o olhar sapeca, a gargalhada espontânea, as caretas, as expressões únicas. A alegria se transforma em sentimento e vira fotografia pra guardar pra sempre.
Como os cursos em pedagogia, marketing e os estudos sobre desenvolvimento infantil moldaram a forma como você fotografa? Dá para dizer que cada clique carrega um pouco de tudo isso?
Com certeza! Meus estudos, aliados à paixão por crianças, fazem toda diferença no resultado. A forma como envolvo a criança, respeito seu tempo e conduzo o ensaio vem muito desse repertório. Até pra brincar, a gente precisa saber como faz.
Sigo buscando conhecimento fora da fotografia também. Meu próximo estudo será sobre crianças neurodivergentes sinto a insegurança de muitos pais ao trazerem seus filhos para o estúdio, e já os recebo aqui, agora quero estar mais preparada. Quando os pais se sentem seguros, a criança se sente em casa.
No seu estúdio, a fotografia vai além da imagem, ela é memória, cuidado, afeto e desenvolvimento. Como vocês equilibram o olhar técnico com a sensibilidade de quem trabalha com o universo infantil?
Honestamente? A técnica existe, claro, mas não me preocupo se o cabelo está no rosto, o vestido amassado ou se a careta saiu “bonita”. Criança sendo criança é sinônimo de bagunça boa e alegria! Às vezes sai uma foto torta ou até tremida… e a gente ama do mesmo jeito, porque ela transmite verdade e expressa aquele momento vivido. E o mais lindo é que no fim de cada ensaio a criança pergunta: “Mas já acabou? Eu quero brincar mais!” é aí que sei que cumpri meu propósito.
Sabemos que cada criança é única. Como o método da fotografia brincante lida com diferentes temperamentos, inclusive de crianças com transtornos de desenvolvimento?
Com respeito e escuta. Aprendemos técnicas com o tempo: olhar nos olhos, usar movimentos enquanto falamos, entender os sinais da criança. Antes do ensaio, os pais preenchem um questionário para sabermos o que a criança gosta e o que prefere evitar. O ritmo é dela, e não nosso. Uso brinquedos intencionais para provocar sorrisos, mas quem conduz é sempre ela.
Com uma trajetória que inclui o programa Álbum de Família do GNT e a coautoria de um livro, como você enxerga hoje o papel da fotografia infantil na construção de narrativas familiares e afetivas?
Minha fotografia é um manifesto pela infância leve, divertida e cheia de magia. Num mundo acelerado, cheio de telas, onde as crianças querem ser adultas antes da hora, meu trabalho é um grito do quanto é bom ser criança. Quero que a criança que se vê na foto sinta orgulho de ter vivido aquela alegria. E que o adulto, ao olhar, reconheça a pureza, a inocência e a emoção daquele tempo que não volta.
Em uma era digital de imagens descartáveis e filtros, o que vocês acham que faz uma foto de infância ser verdadeiramente inesquecível?
Uma foto só se torna inesquecível quando o momento também é. É por isso que acredito tanto na fotografia brincante menos pose, mais sorriso, mais verdade. As crianças que já conhecem o estúdio sabem: aqui, quem dita as regras são elas. E isso faz toda a diferença.
Para quem está começando na fotografia infantil ou sonha em trilhar esse caminho, qual conselho você daria sobre como transformar o ensaio em experiência? E o que nunca pode faltar em um clique com crianças?
A experiência começa no atendimento e finaliza na entrega. E pra isso, eu tenho uma equipe preparada, alinhada com cada detalhe. Foto por foto, muita gente faz mas o que a gente realmente preza aqui são pais seguros e felizes. Porque pais felizes trazem crianças felizes.
Desde o início, enviamos um formulário orientando os pais a deixarem a criança à vontade. Isso porque muitos já chegavam dizendo ‘fica quieto’, ‘não mexe nisso’, ‘não corre aí’. Muita cobrança logo de cara! E é aí que eu já entro dizendo: ‘Não! Aqui quem manda é ele!’e pronto, nesse instante, eu já conquistei a criança. Tem bala, pipoca, tatuagem temporária, balão, tudo pra criança levar como lembrança e não se esquecer da bagunça desse dia .
A câmera? Só pego quando sinto que estou conectada de verdade com ela. E eu não digo ‘vamos tirar foto?’, eu digo ’vamos brincar?’ Porque, na real, a maioria das crianças detesta tirar foto mas aqui… aqui é diferente! Todo ensaio precisa de direção, sim mas uma direção lúdica, cheia de imaginação. Lembre da sua própria infância: como o tempo parecia infinito e as brincadeiras, mágicas.
Crianças se divertem com pouco, mas precisam de presença. Seja inteiro durante o ensaio. Dê atenção, ouça de verdade. Muitos fotógrafos tentam agradar os pais e esquecem de escutar os pequenos. Mas são eles que mais importam.
Criança percebe quando você está ali de verdade e quando isso acontece, o clique perfeito acontece também.el Sejam rigorosos e profissionais com sua entrega vejo muitos ainda levarem como hobby uma profissão tão valiosa. O que não pode faltar? BAGUNÇA!
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