Inspirado na história real de Lilian Bland — a pioneira irlandesa que construiu e pilotou seu próprio avião no início do século XX —, o cantor e compositor Pedro Vulpe transforma o espírito de liberdade e persistência em poesia sonora com o EP “MAYFLY”, que chega às plataformas digitais em 30 de outubro. Com quatro faixas folk que mesclam introspecção, emoção e força criativa, o artista catarinense revisita sua passagem pela Irlanda e sua trajetória nos palcos brasileiros para celebrar o ato de sonhar — mesmo quando o voo parece improvável.
O “MAYFLY” nasceu inspirado na história de uma mulher que decidiu voar quando disseram que ela não podia. Em que momento da sua própria trajetória você também sentiu que precisava construir suas próprias asas?
Eu acredito que isso é uma constante em qualquer vida. Não acho que isso seja estritamente de quem tenha uma carreira artística, mas de quem pode ser – e com certeza será – contrariado pessoal ou profissionalmente. O trunfo é justamente pegar essa negativa e transformá-la. Eu recebi isso diversas vezes, todos têm opinião ou um conselho baseado em absolutamente nada pra dar a um artista.
As quatro faixas do EP formam uma espécie de jornada sobre coragem e sonho. Existe uma ordem emocional nelas — como se cada música representasse uma etapa desse processo de “tirar os pés do chão”?
Acho que cada faixa contempla uma área da vida, não existindo uma ordem ou grau de urgência. Todas pedem coragem e são pertinentes: Lonely Second é sobre a inspiração a partir de um revés, Ashes é a do nicho emocional, Older é sobre a paternidade e Life Of Dreaming é sobre a música.

Você passou um tempo na Irlanda e também atuou em “Once – O Musical”, que tem a música como linguagem de afeto. O quanto essa experiência internacional e teatral influenciou o som e a sensibilidade de MAYFLY?
“Once” é, antes de qualquer coisa, uma história que conheci aos 17 anos. Naquela época, me apaixonei pelo filme e pelas músicas — pelo trabalho da Marketa Irglova e do Glen Hansard. Foi então que viajei para a Irlanda e comecei a me aprofundar nesse universo do folk contemporâneo, sabe? Há uma sensibilidade nessas canções que toca fundo; é justamente esse tipo de vulnerabilidade que procuro trazer quando componho. Reproduzir isso de alguma forma na peça foi maravilhoso.
Em “Ashes”, você fala sobre algo que não é amor, mas ainda tem valor. O que te inspira a transformar sentimentos “incompletos” em arte — aqueles que ficam entre o que foi e o que poderia ter sido?
Achotão pertinente quanto qualquer história de amor que tenha seu começo, meio e fim. Interessantemente, essa letra foi inspirada a partir de uma personagem do livro/série Lovecraft Country – Alguém que estava fadada a viver esses “quase amores” pra continuar viva.

A canção “Older” traz uma espécie de conversa com o próprio eu. Se você pudesse dar um conselho ao Pedro do passado — talvez aquele que estava começando a compor — o que diria a ele?
Ela começou como uma carta ao Pedro criança, com um punhado de conselhos que eu daria se, naquela época, eu soubesse o que aconteceria comigo. Mas ela não terminou assim, acabou sendo uma carta pra minha filha e tudo aquilo que eu quero que ela se lembre, toda lição que eu quero que ela ouça do pai dela.
“Life of Dreaming” foi inspirada em Werner Herzog, um cineasta conhecido por transformar impossíveis em arte. Existe algo de Herzog em você — essa vontade de ir até o limite pelo que acredita?
Acho que precisa existir esse espírito em qualquer artista. Herzog é um diretor muito levado por suas ideias, sem nem sempre saber como realizar ou sem mesmo ter a técnica para tal, mas isso nunca impediu ele de criar filmes maravilhosos.
Você se apresentou na São Paulo Fashion Week, um palco nada convencional para a música folk. Como foi ver sua canção abrir um evento de moda? A arte te parece mais viva quando se mistura com outros universos?
Foi muito gostoso furar a bolha do que esperam que seja o palco de um cantor folk. Acho que a arte acaba sendo muito maior quando somada em outras áreas, tudo é válido se as partes puderem coexistir igualmente.
“MAYFLY” significa “pode ser que voe”. Se o EP fosse uma conversa com o público, o que você gostaria que ele dissesse a quem está ouvindo — e talvez também duvidando da própria capacidade de voar?
Onde existe a dúvida, existe a possibilidade. A beleza está em tentar, numa época doente por resultados e ostentação a gente precisa encontrar alegria na coragem de percorrer esse caminho incerto muito antes do que qualquer certeza de recompensa. É muito mais fácil conviver com a falha e diversas tentativas do que com o arrependimento de não ter tentado. Tente!
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