PAPISA fala sobre lançamento do seu 2º álbum “Amor Delírio”, que faz um grito por afeto

Luca Moreira
12 Min Read
PAPISA (Julia Mataruna)
PAPISA (Julia Mataruna)

Após lançar faixas como ‘Melhor Assim’ e ‘Dores no Varal’, a compositora e multi-instrumentista PAPISA apresenta seu segundo álbum de estúdio, ‘Amor Delírio’. O disco, lançado no dia 12 de abril, marca uma nova fase na carreira da artista, trazendo um tom mais sentimental em comparação aos trabalhos anteriores. A produção é assinada por Felipe Puperi, e o álbum será lançado pelo selo espanhol Costa Futuro, que conta com artistas como Los Siberianos (Argentina), Queralt Lahoz (Espanha), e El Culto Casero (Paraguai).

‘Amor Delírio’ apresenta uma perspectiva mais emocional, explorando temas como sedução, desejo, e os altos e baixos das relações amorosas. Essa mudança de abordagem reflete uma evolução na carreira de PAPISA, cuja sonoridade é descrita como um dream-indie-pop com influências psicodélicas. As gravações ocorreram durante uma imersão de duas semanas em São Francisco Xavier, com contribuições de outros músicos e uma equipe de produção experiente. O álbum também foi masterizado por Brian Lucey, conhecido por trabalhar com nomes como The Black Keys, Lizzo e Cage the Elephant.

Rita Oliva, a artista por trás do projeto PAPISA, tem uma vasta experiência musical, tendo integrado bandas como Cabana Café e Parati antes de seguir carreira solo. Ela já se apresentou em festivais nacionais como Bananada (GO), Picnik (DF), e Path (SP), além de festivais internacionais como SXSW (Austin, EUA) e New Colossus Festival (Nova York, EUA). O novo álbum é um convite para uma jornada pelo mundo do sentimento, explorando as profundezas das emoções e o dinamismo das relações.

O novo álbum “Amor Delírio” marca uma mudança temática em relação aos seus trabalhos anteriores. Como foi para você explorar o tema do amor em suas composições?

Falar de amor não é totalmente novo para mim. Embora meu primeiro disco solo tenha sido sobre a morte e a impermanência, a vida afetiva sempre inspirou minhas composições nos trabalhos anteriores (antes de me lançar como Papisa). Gosto de usar a curiosidade como combustível na criação, e quando pensei em fazer um disco novo, acho que eu estava tentando de alguma forma fazer as pazes com o amor romântico rs. Mas tinha um questionamento que considero importante, em relação ao peso das convenções sociais, ao lugar comum que nos induz a buscar algo idealizado, que leva a tantas ilusões e desilusões. No fim, o disco acabou ganhando um cunho bastante pessoal e intimista, baseado em experiências (minhas ou de outras pessoas). Sinto que ele retrata dinâmicas que são comuns para quem se relaciona ou está tentando se relacionar.

Você menciona que o disco aborda várias fases das relações amorosas, desde a sedução até a desilusão. Como você traduz essas diferentes emoções em sua música?

Normalmente os inícios carregam uma excitação, um tom de aventura, e sinto que isso aparece na forma mais enérgica de alguns arranjos, com bateria, baixo e guitarras mais evidentes, beats expansivos, para cima. Mas tem também a melancolia e o mistério que o amor desperta, e musicalmente aparecem em melodias e harmonias em tom menor, arranjos com piano elétrico, sintetizador e ambiências que criam a sensação de um espaço mais amplo. As letras descrevem experiências afetivas e uma narrativa predominantemente na segunda pessoa, como se fossem uma conversa. Pensando na track instrumental, Vento, quis deixar um momento de respiro e imaginação, necessário tanto para o apaixonamento quanto para curar desilusões.

“Amor Delírio” é seu segundo disco de estúdio. Como você vê a evolução de sua música desde seu primeiro álbum até este último trabalho?

Meu primeiro disco foi feito de forma totalmente artesanal e solitária, gravado e produzido por mim em casa. Eu arranjei o disco todo e me aventurei fazendo a engenharia de som, algo que nunca tinha feito antes sozinha. Ele reflete o momento introspectivo que eu estava vivendo, e foi fruto do amadurecimento de algumas músicas que já eram tocadas há um bom tempo nos shows. Já em Amor Delírio, o processo foi bem diferente. Todas as músicas foram criadas especialmente para o disco, selecionadas entre várias outras que compus, e tomaram forma com a ajuda de várias mentes criativas. Chamei o Felipe Puperi para produzir e todas as bases foram arranjadas, produzidas e gravadas em uma imersão na montanha com um time que escolhemos. A produção ganhou um corpo diferente por conta disso, e as faixas são majoritariamente canções, se distanciando da característica mântrica do outro disco.

PAPISA 2
PAPISA

O disco foi produzido em uma imersão de duas semanas em São Francisco Xavier. Como esse ambiente influenciou a criação das músicas?

Eu queria um disco mais solar e menos introspectivo do que o anterior, e essa temporada que passamos trabalhando intensamente nas músicas contribuiu bastante para isso. Estávamos entre amigos, em um lugar rodeado de natureza, e essa leveza somada à troca e interação intensa que estávamos vivendo ali acabou de certa forma refletida nas músicas e nos arranjos.

Você já foi descrita como uma “espécie de Cat Power psicodélica”. Como você descreveria sua sonoridade e que influências musicais você traz para o seu trabalho?

Minha sonoridade está próxima do indie rock e do dream pop, com alguns elementos de psicodelia. Ouvi muita música brasileira a minha vida toda, Caetano, Chico, Gal, Tom Jobim, Clube da Esquina, Secos e Molhados, e gosto muito da língua portuguesa para compor, pela sonoridade, ritmo e possibilidades melódicas, então se pensar em canção, de alguma forma todos esses artistas me influenciaram, principalmente a obra criada nos anos 70, 80, que ouvi desde muito cedo. Também posso citar Joni Mitchell e Carole King, duas compositoras que sempre admirei, além de Stereolab, PJ Harvey, Air, Suzanne Vega, Radiohead pela sonoridade.

Além de sua carreira musical, você é astróloga e chegou a desenvolver um oráculo complementar ao seu álbum anterior, “Fenda”. Há elementos da astrologia em “Amor Delírio” também?

Não diretamente. Eu consigo identificar padrões nas músicas e principalmente no meu processo criativo, porque vejo a Astrologia como uma linguagem simbólica que ajuda a desvendar o comportamento humano, traduzir ciclos da vida e processar as experiências ao longo do tempo. Eu cito o sol e a lua nas letras, que são símbolos fortes para mim e elementos astrológicos importantes, mas eles aparecem em um contexto mais universal e não relacionados a essa linguagem específica.

Você tem uma história rica em apresentações em festivais e shows internacionais. Como essas experiências influenciaram sua música ao longo do tempo?

Acredito que o ambiente e a forma com que a música é apresentada tem um peso nas escolhas dos artistas, mesmo quando acontece de forma inconsciente. O David Byrne fala sobre isso no livro “Como Funciona a Música” e eu acho essa visão muito interessante. Dessa vez, em Amor Delírio, eu quis fazer algo que elevasse os ânimos, que embalasse as pessoas com pressão sonora sem perder a instrumentação imersiva e etérea que gosto de usar. O show é a forma mais direta de sentir a resposta das pessoas, e tocar fora do Brasil para um público que não necessariamente entende a língua, mas se conecta diretamente pela música, traz uma percepção rica nesse sentido. Me apresentar em festivais também traz a oportunidade de assistir aos shows de outros artistas, inclusive dentro do Brasil, que é bem grande, o que expande minhas referências e me inspira bastante.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante o processo de criação e gravação de “Amor Delírio”?

Quando comecei a escrever as músicas eu não estava exatamente num momento muito bom da vida. A pandemia e o isolamento ainda eram recentes e eu não estava super inspirada para escrever. Isso foi desafiador, porque eu sabia que precisava de um disco para trabalhar e, no entanto, as composições não estavam ali. Eu acabei me sentando para fazer isso de forma bem sistemática, me impus alguns prazos e isso ajudou a chegar até o disco. Já na produção, como me propus a fazer com um time, também tive que me adaptar aos tempos e disponibilidade de outras pessoas, e isso acabou estendendo o processo de uma forma que não é muito comum para mim. Foi um trabalho que exigiu bastante dedicação e paciência até ser concluído.

Você mencionou que passou a se questionar sobre o amor romântico ao compor esse álbum. Quais foram algumas das principais reflexões que surgiram durante esse processo?

A principal reflexão era: o amor romântico existe de fato ou é uma convenção social? Hoje eu vejo que estava um pouco desacreditada dos encontros significativos. Acho que é raro e especial quando duas pessoas se encontram, se gostam e querem ficar juntas ao mesmo tempo, com a mesma intensidade, da mesma forma. Vivemos em uma época de hiperconexão, com a comunicação rápida e fácil e um sistema que enaltece o individualismo, o que contribui para a superficialidade das relações. Talvez por isso mesmo cada vez mais as pessoas anseiam por conexões reais e tem dificuldade de aprofundar relacionamentos. Mas isso não é necessariamente um impeditivo. O imediatismo fez a gente esquecer que vínculos mais profundos levam tempo para acontecer. Acredito no amor quando há interesse, disponibilidade e uma escolha clara. É um trabalho contínuo, mais do que uma euforia momentânea, e pode sim ser mágico e transformador.

Como você espera que os ouvintes se conectem com as músicas de “Amor Delírio”? Há uma mensagem específica que você gostaria de transmitir através deste álbum?

Eu queria exaltar a capacidade curativa do Amor e das relações – as saudáveis, claro. E passar a mensagem de que o amor existe e é um antídoto para a solidão, para os corações quebrados, principalmente quando encontramos esse amor dentro da gente antes de ir buscar em outra pessoa. Não sei se o álbum traduz isso tudo, mas é algo que gosto de pensar.

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