Overdrive Luna lançará “BLISS”, um mergulho no horror cósmico e nas profundezas da mente humana, no final do mês

Luca Moreira
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Overdrive Luna (Cesar Risco)
Overdrive Luna (Cesar Risco)

O power-trio jundiaiense Overdrive Luna apresenta seu aguardado álbum de estreia, “BLISS”, disponível a partir de 31 de outubro em todas as plataformas digitais pela Marã Música. Unindo grunge, horror cósmico e uma estética onírica, o disco propõe uma viagem sombria e introspectiva pelas emoções humanas, dividida em três atos que exploram o limite entre o prazer e o desespero. Conceitual e visualmente impactante, o projeto consolida a banda como uma das novas forças criativas do rock alternativo brasileiro — e prepara terreno para sua futura adaptação cinematográfica.

“BLISS” é descrito como uma história de terror surrealista dividida em três atos. Que tipo de “monstros” — internos ou externos — vocês enfrentaram durante a criação desse álbum?

Pode ser um clichê falar isso, mas os monstros mais assustadores são aqueles que carregamos dentro de nós, aqueles que nos conhecem por inteiro. Muitas vezes eles sussurram em nossos ouvidos e assombram nossos sonhos. A arte, apesar de ser um interruptor caótico eternamente ligado, é, acima de tudo, terapêutica. Criar é debruçar-se em si mesmo e sair do outro lado.

A mistura entre grunge e horror cósmico é algo raro na música brasileira. Como surgiu essa conexão entre som pesado e elementos quase filosóficos do medo e da existência?

A estrutura de nossas composições é abordada de forma semelhante à de um roteiro em uma história, e nesse roteiro buscamos a emoção mais visceral que conhecemos: o medo.

Como dizia um nefasto escritor do século passado: “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido”.

Então, nada melhor que explorar nossos próprios medos para dar mais cores a um instrumental tão intenso, pesado e surpreendente.

Nossas músicas sempre caminharam ao lado de temas como mistério e terror, mas esse album em específico mergulhamos ainda mais no gênero, usando referências como The King in Yellow (Robert W. Chambers), The Music of Erich Zann (H. P. Lovecraft), Silent Hill (Team Silent) e Darkwood (Acid Wizard Studio).

O álbum propõe que cada faixa seja uma história independente, aberta à interpretação. Qual das músicas mais reflete o estado emocional de vocês hoje?

Espero que nenhuma. Existem temas sensíveis em nossas músicas, sentimentos que todo mundo já passou uma vez ou outra e com certeza vão se identificar. Cada uma delas serve como um relato onírico do que vivemos durante momentos difíceis e abre questões como:

“E se adiantarmos o nosso fim?”

“O fim realmente importa?”

“O que existe do outro lado?”

Realmente espero que seja mais calmo que o nosso mundo acordado. Em momentos de desesperança essas questões costumam emergir dos nossos mais profundos abismos, mas felizmente a arte nos serve como ferramenta e nossas mentes se encontram mais do que saudáveis nos dias atuais.

A arte da capa transmite um sentimento ambíguo entre fim e leveza. Como essa imagem dialoga com o conceito de “BLISS”, que fala sobre o alívio diante do fim?

Apesar do fim, o final da história de nossa personagem não é de todo trágico.
Não sabemos ao certo aonde ela foi parar, mas ela parece aliviada nesse mundo dos sonhos.

Ela flutua sobre o lago e observa baleias sobrevoando enormes construções, algo que infelizmente só é possível em nossos mais profundos sonhos, mas ela conseguiu ter o privilégio dessa visão.

Overdrive Luna (Cesar Risco)
Overdrive Luna (Cesar Risco)

Vocês mencionam que o disco começou como um EP acústico e se transformou em algo muito maior. Em que momento perceberam que estavam criando um universo inteiro — e não apenas um álbum?

Nossas músicas sempre se iniciam em composições acústicas, mas esse era um momento em que estávamos sem um baterista, não existia outra opção. A banda era apenas Zé Gui Marçura & Bruno Picolo. Assim se iniciou esse tal EP “acústico”.

Ideias novas, dois violões e um sonho. Um sonho que logo tomou proporções muito maiores que a chama inicial. Nós realmente gostamos do processo artístico, o ato de criar, de mergulhar na própria arte.

Esse album nos permitiu ir muito além da música, foi através de BLISS que fizemos a série de curtas “FITAS ENCONTRADAS” (disponível em nosso canal), que serviu para acompanhar e anunciar o lançamento de cada capítulo desse album. O simples ato de fazer nos ensinou muito sobre iluminação, roteiro e storyboard.

Esse sonho não seria possível sem os artistas que trabalharam ao nosso lado e cada um deles teve total liberdade criativa, sempre colocando um pouco de si em nossa arte.

 “Sleeper” encerra o projeto com uma narração sobre se afogar e dormir, uma imagem intensa e simbólica. O que essa metáfora representa para vocês?

O texto presente em “Sleeper” é de autoria da artista Juliane Hooper, e, nas palavras dela: “Além da parte óbvia e depressiva sobre se afundar no escuro e desistir, o texto também fala sobre descansar e parar de tentar lutar contra coisas desnecessárias, as coisas erradas. Permitir as coisas boas, abraçar e aceitar nossa própria essência e largar o peso daquilo que não nos importa, permitindo as coisas leves.”

Na parte boa dessa poesia, Juliane também colocou um pouco do que sente por Bruno, o baixista da banda. “Sleeper” termina com a frase “I floated”, algo que foi tão impactante que podia facilmente ser o título da música.

O lançamento em Halloween conecta o álbum à tradição do terror. Como vocês enxergam a relação entre medo e beleza dentro da arte?

Talvez o medo seja uma das emoções mais intensas e verdadeiras que um ser humano pode vivenciar. Existe algo de belo na pureza desse sentimento, é algo bruto e não lapidado. O medo surpreende a cada passo incerto. Como falamos anteriormente, nossas composições funcionam como roteiros, e valorizamos muito a dinâmica entre o mistério e a surpresa nesses pequenos roteiros.

A adaptação cinematográfica de “BLISS” promete expandir esse universo. O que podemos esperar dessa próxima fase — e como vocês imaginam traduzir a energia sonora em imagens?

Produzir um filme nos dá algumas liberdades, nos permite abrir algumas portas (ou janelas) antes fechadas. A ideia inicial era o clássico “vamos fazer um clipe pra cada música”, mas a gente sempre escolhe o caminho mais divertido (e trabalhoso). Uma adaptação cinematográfica de BLISS parece a resposta certa.

O que podemos dizer no momento é que o filme não será apenas um conjunto de clipes. Vamos percorrer todas as faixas do album, mas existem cenas sem música, mais do que necessárias para contar essa história.  Um filme inteiro sem falas, pois acreditamos que as imagens e músicas falam por si só, o que também nos permite ressignificar algumas coisas.

Podemos compartilhar algumas obras que nos influenciaram: The VVitch (Robert Eggers), Suspiria (Luca Guadagino, 2018), Alan Wake (Remedy Entertainment), e claro, não podia faltar Twin Peaks (David Lynch, Mark Frost). A previsão de lançamento é para o final de 2026. Nos vemos no próximo Halloween e esperamos que nossas músicas estejam nos seus mais profundos sonhos até lá.

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