Novo suspense de Lucas Pagani convida leitores a explorarem assassinato envolvendo uma teia de mentiras

Lucas Pagani
Lucas Pagani

Em “Baile de Máscaras”, novo suspense de Lucas Pagani, a pacata cidade fictícia de São Filipe é abalada por um assassinato brutal na escola local. O escritor Rui Córdova, que durante 50 anos tentou esquecer seu amor de adolescência, Vânia, vê seu mundo desmoronar quando ela reaparece inesperadamente e é assassinada durante uma festa de formatura. A grande questão é: quem a matou e por quê?

A detetive Diana lidera a investigação, desenterrando segredos enterrados por décadas e revelando rivalidades ocultas entre os moradores da cidade. A busca pela identidade do assassino revela uma complexa teia de mentiras que atravessam gerações, entrelaçando a vida dos personagens em um enredo cheio de reviravoltas e profundidade psicológica.

A narrativa alterna entre passado e presente, explorando a conexão de cada personagem com o mistério. Rui, agora viúvo, lidava com a dor da perda de sua esposa Agnes, que morreu em um acidente grávida após adotarem um órfão, Galileu. Vânia, diagnosticada com câncer, retorna ao vilarejo para revelar uma verdade chocante a Rui, mas é morta antes de conseguir. Entre os suspeitos estão o filho adotivo de Rui, o namorado da policial, um ex-aluno de Agnes e uma cantora famosa, cada um com motivações sombrias. “Baile de Máscaras” não é apenas um evento no colégio, mas um simbolismo das falsas aparências que dominam a cidade, onde todos escondem segredos por trás de suas máscaras.

O que te inspirou a escrever “Baile de Máscaras” e como surgiu a ideia central da trama?

Na verdade, não houve uma inspiração única. Costumo dizer que meus personagens ganharam vida própria. À medida que fui criando essas pessoas na imaginação ao longo de 10 anos, eu não tinha desde o início uma trama central, mas subtramas: a cantora que se afastou da família pela fama, o padre que havia ficado órfão na infância e fora adotado, o estrangeiro que vinha para o Brasil etc. Com o tempo, fui percebendo que seria incrível juntar todos esses personagens numa história comum. Foi aí que nasceu a cidade fictícia de São Filipe. O assassinato durante o baile de máscaras foi o evento catalisador da investigação policial que eu pretendia usar de motor para o enredo, de modo a permitir um mergulho na personalidade dessas pessoas e suas famílias ao longo das gerações.

Como foi o processo de criação dos personagens, especialmente Rui Córdova e a detetive Diana? Houve algum personagem que te desafiou mais?

Parte dos personagens surgiu ainda em 2010, quando eu estava no Ensino Médio, durante exercícios das aulas de Redação. É o caso de Galileu, por exemplo. Evidentemente, houve evoluções e mudanças. Rui, inicialmente, era um advogado, e não um escritor, enquanto Diana seria uma jornalista investigando o crime, e não uma policial. Ângela surgiu em 2015, quando eu observava uma estranha num jantar, ao passo que Ramiro e Leninha nasceram em 2017 e o policial Fábio foi inventado 100% no momento da escrita. Diria, então, que a criação de personagens é um processo multiforme, mas a maior parte deles foi crescendo comigo, de modo que eu sinto como se conhecesse suas personalidades de verdade. Por isso, os diálogos e ações de cada um foram brotando com naturalidade e espontaneidade enquanto escrevia, pois eu sabia como cada um se comportaria em cada cena, o que pensaria e sentiria.

A história de “Baile de Máscaras” se passa na fictícia cidade de São Filipe. Você se inspirou em algum lugar real para criar esse cenário?

Deliberadamente, não, mas leitores já identificaram várias semelhanças na descrição geográfica com a minha própria cidade, Lages. Embora não seja intencional nem explícita essa adaptação, é verdade que algumas pistas da descrição permitem situar São Filipe no Sul do Brasil.

Como você equilibra a investigação policial com o aprofundamento psicológico dos personagens no enredo?

Foi desafiador “rechear” o livro. Eu tinha um início e um fim, baseados nos aspectos emocionais e na jornada que queria percorrer com cada personagem, mas precisava da ação da investigadora Diana para mover a trama adiante, então procurei situar bem os capítulos com mais movimento, para não agrupar uma sequência muito longa de capítulos mais focados em conversas. É fato que a parte inicial do livro tem muitas informações a serem assimiladas até que o leitor se familiarize com todos os núcleos, mas era preciso colocar todos os peões no tabuleiro para só então acelerar o jogo. Não quis abrir o livro com o crime de cara, pois julguei necessário fornecer algum contexto prévio sobre o passado e as relações daqueles personagens uns com os outros. Já a reta final, com o clímax, alterna vários pontos de vista em cenas diferentes para culminar nas revelações que amarram tudo.

Quais são suas influências literárias e como elas impactaram a escrita deste romance?

Leio de tudo um pouco, dos clássicos ao infantojuvenil, dos romances policiais às crônicas e por aí vai. Com certeza o tipo do detetive e todo o elemento do quebra-cabeça e da busca pelo assassino vêm de nomes como Agatha Christie e Conan Doyle, mas trago também o estilo contemporâneo de Raphael Montes. Devo admitir que há traços, na linguagem, nos temas e na divisão dos capítulos, de autores como Dan Brown e Harlan Coben, no sentido de aliar um mistério com a alternância de foco entre capítulos, que transitam entre personagens e locais distintos.

Lucas Pagani
Lucas Pagani

O título “Baile de Máscaras” tem um significado simbólico na história. Você pode nos contar mais sobre isso?

Há um diálogo no epílogo que fará o leitor dar um sorriso em razão de um detalhe de metalinguagem. Basicamente, como o protagonista é um escritor, Rui, foi na boca dele que coloquei a explicação para o título. É claro que o título se refere ao baile literal, no meio do qual Vânia é morta, mas o livro tem um foco grande na questão de quem realmente somos por trás da “máscara social”. Quem você imagina quando pensa numa octogenária chamada Josefa, por exemplo? Como você imagina um médico renomado? E um padre? Pois eles e todos os outros são muito mais do que os olhos permitem ver. Além do título, essa noção também é reforçada pela música “As aparências enganam”, que usei como epígrafe e é interpretada, na história, pela personagem Natália, uma cantora.

A narrativa de “Baile de Máscaras” é cheia de reviravoltas e segredos. Como você planejou e estruturou o suspense ao longo do livro?

Foi preciso montar um “esqueleto” de todas as cenas que precisava narrar e a ordem em que os acontecimentos se desenrolaram, até para não criar contradições. Feito isso, foi fácil costurar as pistas que iam surgindo nos depoimentos das testemunhas e nos demais eventos da trama, mas isso não significa que não foi necessário pesquisar, reescrever, descartar trechos. Houve muito cuidado para que não ficassem pontas soltas, então cada mínimo comentário tem uma razão de ser que pode passar despercebida numa primeira leitura, mas está lá e tem sua contribuição para a compreensão geral do desfecho.

Vânia retorna ao vilarejo com a intenção de revelar uma verdade chocante. Como você abordou o tema dos segredos de família na sua escrita?

Creio que a ideia seja mostrar que todos, de alguma forma, têm segredos. Pode ser algo inofensivo ou algo realmente traumático, algo que envergonha ou algo criminoso, mas o livro procura explorar a forma como as escolhas têm consequências para a vida alheia. Quando alguém decide omitir algo, pode estar sendo tão prejudicial quanto quem mente. A busca pelo culpado da morte de Vânia acaba revelando justamente isto: ninguém é completamente inocente e o papel de vítima é relativo.

Além de escritor, você tem uma carreira no Jornalismo e no Direito. Como essas experiências influenciaram sua abordagem na criação do livro?

O jornalismo fez de mim quem sou hoje. Quando escrevia para o jornal impresso ou on-line, ou até mesmo os breves boletins de rádio quando entrava ao vivo, minha preocupação era que o texto fosse compreendido, mas também interessante. Sempre me coloquei no lugar do leitor, então passar para a literatura me fez aprimorar o exercício de escrever o que eu gostaria de ler e da forma como eu gostaria de ler. Já o contato com o meio jurídico ampliou meus horizontes de diversas maneiras. Como trabalho há cerca de oito anos com direito de família, tenho muita história para contar, mas também tenho alguma experiência, embora mais limitada, com matéria criminal, por exemplo. Tudo, de uma maneira ou de outra, incorpora na construção da minha bagagem, o que certamente reflete no meu estilo de escrita e na temática que trabalho.

“Baile de Máscaras” é seu romance de estreia. Quais são seus planos futuros como escritor e há novos projetos em andamento que você possa compartilhar conosco?

Tenho muita vontade de continuar escrevendo, mas a rotina atual, com duas filhas pequenas, não me permite a dedicação que um livro exige. Ainda assim, as ideias não param de fervilhar e os rascunhos estão sempre crescendo. Tenho um novo thriller no mesmo universo de “Baile de Máscaras” em mente, mas seria uma história independente, com alguns elementos já escritos e talvez aprofundando algo que ficou de fora do primeiro livro. Além desse projeto, estou amadurecendo uma história sobre um casal que começa de maneira romântica e termina tragicamente. Precisei dar uma pausa no ritmo frenético, mas me consolo lembrando que, entre a primeira ideia e o ponto final do epílogo, “Baile de Máscaras” teve 10 anos para amadurecer, então é apenas questão de tempo, mas sei que meus personagens não me deixarão descansar enquanto eu não contar ao mundo as histórias que eles me imploram que eu conte.

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